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Psicanálise aplicada à odontologia e odontopediatria
Fatima Cristina Monteiro Oliveira ( jlaginha@gtp.com.br ) - Formada pela USP em 1984, Clínica Geral, Odontopediatria e Atendimento a pacientes especiais.
Hás de aprender o tempo.
E há de ser tua ciência uma tão íntima conexão
de ti mesmo e tua existência, que ninguém suspeitará de
nada. E teu primeiro segredo seja antes de alegria subterrânea, que de
soturno medo Aprenderás muitas leis. Mas se as esqueceres depressa, outras
mais altas descobrirás, e é então que a vida começa,
e recomeça, e a todo instante é outra: tudo é distinto
de tudo, e anda o silêncio, e fala o nevoento horizonte; e sabe guiar-nos
o mundo. (Carlos D. Andrade)
Introdução
Neste artigo procurarei expor
minha experiência clínica, de como passei a partir do estudo de
psicanálise, a obter na Odontopediatria, resultados que apontam para
a necessidade de enxergar o paciente odontológico de um modo mais inteiro
e abrangente de modo que o contato seja mais gratificante para o profissional
e para o paciente.
Provavelmente meu texto se apresenta
em linguagem simples para os psicanalistas, mais afeitos à literatura
afim, mas o que desejo e ficarei satisfeita se o conseguir, é lançar
algumas perguntas e abrir questões para que as áreas médicas
não sejam exclusivamente técnicas e atenham-se ao fato de que
a cura ou melhora do paciente, de sua dor e de suas queixas, pode ter uma abordagem
subjetiva, pois o ser humano deseja ser visto integralmente, pelo menos é
nisto que acredito e o único modo como posso realizar o meu trabalho.
Através da explicação deste
modo de trabalho, tentarei ir demonstrando como a psicanálise vai se
inserindo na técnica de tratamento da criança.
Explanação de uma consulta
Costumo iniciar a consulta infantil
com uma anamnese completa, onde obtenho informações objetivas:
idade, doenças que a criança já teve, tendências
alérgicas, uso de chupeta ou não, tipo de amamentação,
tipo de parto, etc.
Nesta anamnese além das respostas objetivas,
devemos enxergar as informações subjetivas, como por exemplo a
disponibilidade da mãe para amamentar aquela criança, hábitos
de sucção mantidos por períodos além do esperado,
significando uma dificuldade na relação mãe criança
na direção de um amadurecimento desta.
Devemos estar atentos ao grau de
ansiedade ou tranqüilidade da criança. Crianças muito alérgicas,
ou que apresentem crises asmáticas, podem ser crianças mais ansiosas,
como atestaram Ferenczi e Winnicott. Este nos relata como uma de suas pacientes
desenvolvia crises de asma quando hesitava em pegar a espátula que Winnicott
lhe colocava ao alcance, relacionando assim o aparecimento das crises à
ansiedade e hesitação. Transcrevo o texto abaixo:
Foi muito fácil perceber,
nessa situação, o momento em que a criança desenvolveu
um espasmo brônquico. As mãos da mãe tornaram visível
o movimento exagerado do peito, tanto a profunda inspiração quanto
a longa expiração obstruída, e o ruído da expiração
podia ser ouvido. A mãe percebeu tão bem quanto eu que a criança
estava tendo o ataque. Este aconteceu nas duas ocasiões em que a criança
hesitou quanto ao pegar a espátula. D.W.Winnicott Da Pediatria à
Psicanálise. Rio de Janeiro:Imago,2000. Trad.Davy Bogomoletz.
Completo o raciocínio, citando Freud:
Ao rebaixar assim um processo
de satisfação a um sintoma, a repressão exibe sua força
sob outro aspecto. O processo substitutivo é impedido se possível
de encontrar descarga pela motilidade; e mesmo se isto não puder ser
feito, o processo é forçado a gastar-se ao efetuar alterações
no próprio corpo do indivíduo não lhe sendo permitido girar
em torno do mundo externo. S.Freud : Inibições Sintomas e Angústias,
Rio de Janeiro:Imago,1998.Trad.Chistiano Monteiro Oiticica.
Acredito que se nos mantivermos
sempre em contato com estas informações sutis e subjetivas que
cada criança vai apresentando durante um tratamento, teremos mais compreensão,
ou mais apreensão do universo de cada criança que estivermos atendendo.
Dando seguimento à consulta,
enquanto converso com a mãe, ofereço lápis e um desenho
para a criança pintar. Sua aceitação ou não da brincadeira,
já me faz inferir o grau de acessibilidade da criança. Ao expressar-se
na pintura, a criança já pode ir se permitindo "ser",
e portanto, vai adquirindo confiança no ambiente. Dividindo minha atenção
entre a criança e a mãe, vou também permitindo à
criança desenvolver um relacionamento com a com sua mãe e comigo
ao mesmo tempo. Winnicott se refere a esta capacitação ou não
da criança, em Da Pediatria à Psicanálise:
Sendo normal o bebê, um
dos grandes problemas com o qual ele irá se deparar é a administração
do relacionamento com duas pessoas ao mesmo tempo. Em tal situação
padrão sou, por vezes, testemunha do primeiro êxito nesta direção.
Em outros momentos, percebo como os sucessos e fracassos de suas tentativas
de estabelecer relacionamentos simultâneos com duas pessoas em casa se
refletem em seu comportamento em meu consultório.
A experiência de ousadamente
desejar e pegar a espátula e apossar-se dela sem, de algum modo, alterar
a estabilidade do ambiente imediato, funciona para a criança como uma
espécie de aula sobre o objeto, com um valor terapêutico. Na idade
que estamos considerando, e de fato ao longo de toda a infância, experiências
deste tipo não são apenas temporariamente reasseguradoras: o efeito
cumulativo de experiências gratificantes e de uma atmosfera amistosa em
torno da criança é a construção de sua confiança
nas pessoas do mundo externo e de um sentimento geral de segurança. A
crença da criança nas coisas boas e nos bons relacionamentos dentro
de si também é fortalecida. Esses pequenos passos na solução
dos problemas centrais ocorrem na vida diária do bebê e da criança
pequena, e a cada vez que o problema é resolvido algo é acrescentado
ao seu sentimento de estabilidade geral, fortalecendo as fundações
de seu desenvolvimento emocional.Não causará surpresa portanto,
minha afirmação de que no decorrer de minhas observações
eu provoco também algumas mudanças em direção à
saúde. Da Pediatria à Psicanálise D.W.Winnicott, Rio de
Janeiro:Imago,2000, pag.128-129.
Este é um texto que eu gostaria que todo
profissional de saúde lesse, seja qual for sua área de atuação,
e podemos estendê-lo aos educadores também, pois acredito imensamente
na prevenção dos problemas agindo-se delicada e confiantemente
junto à criança pequena.
Apreendo deste texto e da experiência
na clínica, que crianças que vivem com só um dos pais,
ou que não têm um relacionamento bom em casa, parecem-me menos
acessíveis a relacionar-se com o profissional de saúde. Ela apega-se
tenazmente à mãe, chora e reage a qualquer investimento que tentemos
fazer. Neste caso, precisaríamos investir muitas consultas antes de qualquer
intervenção mais técnica na criança, para que ela
sentisse a confiabilidade do ambiente. É preciso que saibamos diferenciar
uma criança que precisa deste cuidado porque se sente muito angustiada,
ou esmagada pela ansiedade da mãe, de uma criança perfeitamente
normal, principalmente se ela tiver menos de três anos. A criança
normal poderá chorar, berrar, pedindo assim para ser protegida e depois
se despedirá de nós muito feliz e sairá do consultório
tendo internalizado a experiência de ter sido bem cuidada.
No caso de uma criança
que se apresente com mais ansiedade, reinvindico que seriam necessárias
várias consultas antes que se inicie uma intervenção mais
técnica, para que eu consiga estabelecer um verdadeiro relacionamento
inteiro com ela. Infelizmente a mãe não espera e não deseja
isto do odontólogo. Vivemos numa sociedade imediatista ,e medicamen-tosa
e parece que as palavras perdem o seu valor em prol da ação, da
medicação e da solicitação de exames. Os pais anseiam
portanto, já numa primeira consulta, pelo início de uma manobra
técnica, que pode ser a prevenção com aplicação
de flúor, e parecem que têm a sensação de que nada
fiz com a criança se não a "mediquei". Por isto tenho
que me resignar a esperar vários semestres, ou seja, vários retornos
da criança em prevenção odontológica até
que consigamos um contato mais inteiro com a criança que se nos apresenta
com um grau de ansiedade e angústia maior. Felizmente este contato sempre
acaba por despontar na relação, mesmo que dispenda, isto é
certo, bem mais tempo.
Mas para uma criança que
cresce num ambiente suficientemente bom, com uma mãe suficientemente
boa, usando a linguagem de Winnicott, já é possível fazê-la
sentir que encontra no consultório um ambiente confiável, e assim
podemos dar seguimento à primeira consulta com relativa tranqüilidade.
Após trinta ou quarenta
minutos de anamnese, a criança normalmente já ambientada, já
conhecida e reconhecida por mim, já inserida com seu eu no meu consultório,
irá sentar-se na cadeira. É importante que a criança sinta-se
conhecida, através das palavras que já dirigimos a ela, das perguntas
que fizemos à mãe nas quais ela apreendeu nosso desejo de sabê-la,
do desenho que ela fez possibilitando assim mostrar-se. pois citando Winnicott:
Ser conhecido significa sentir-se integrado.
O ambiente maternante e o brincar
A partir daí, acredito que assumo o que
Françoise Dolto chamou de uma posição maternante. A criança
se encontra próxima fisicamente, eu posso olhá-la nos olhos e
minha função agora é apresentar-lhe o desconhecido em palavras
que ela entenda, e que lhe remetam a um brincar .
Apenas para exemplificar, darei alguns exemplos:
a seringa de água e ar é chamada de elefante, pois possui a tromba
e se apertamos um dos seus olhos ele espirra água ,se apertarmos o outro,
ele espirra ar. A alta ação é como um chuveiro que faz
o banho dos dentes. O sugador é como um canudo de refrigerante, e assim
por diante, não me estenderei para não me tornar enfadonha. Mantemos
assim a situação física e emocional suficientemente simples
para que a criança a entenda e capacitando-a a tomar posse da experiência.
O texto extraído de O Brincar
e a Realidade, Imago,1975, pag.74,75, traduz exatamente o que desejo aqui comunicar:
Aqui, nessa área de superposição
entre o brincar da criança e o brincar da outra pessoa, há possibilidade
de introduzir enriquecimentos. É bom recordar que o brincar é
por si mesmo uma terapia.
A característica essencial
do que desejo comunicar refere-se ao brincar como uma experiência, sempre
uma experiência criativa, uma experiência na continuidade espaço-tempo,
uma forma básica de viver.
A precariedade da brincadeira está no fato
de que ela se acha na linha teórica existente entre o subjetivo e o que
é objetivamente percebido.
O brincar implica confiança
e pertence ao espaço potencial existente entre (o que era a princípio)
bebê e figura materna, com o bebê num estado de dependência
quase absoluta e a função adaptativa da figura materna tida como
certa pelo bebê.
O boneco: objeto transicional?
Assim, se a criança está
bem, daremos continuidade à consulta, passando ao exame da cavidade oral
propriamente dita. Se a criança é muito pequena e já se
encontra cansada e dominada por seus instintos, é normal que chore, e
seria excelente adiarmos o exame para um segundo contato. Mas se ela continua
calmamente brincando, iremos examiná-la, podendo continuar brincando,
e neste momento sempre introduzo um brinquedo que possui boca e dentes para
que a criança possa manusear, contar o número de dentes que o
boneco possui e executar ela mesma, primeiro no brinquedo, aquilo que irei em
seguida tentar realizar na criança: molhar um pincel no flúor
e aplicá-lo nos dentes do boneco. Após esta brincadeira a criança
saudável costuma mostrar-se colaborativa, e já vai abrindo a boca
para que eu a examine.
Parece-me ,e isto é uma
teoria que só comprovo pela eficácia que se traduz na prática,
que ao investir suas emoções e seu ato de segurar o pequeno brinquedo
que está sob seus cuidados, a criança sente-se confiante em deixar-me
examiná-la, podendo desinvestir-se da ansiedade que poderia estar se
fazendo presente no momento. Lanço a pergunta que tenho feito a mim mesma:
será que este objeto age neste momento como o objeto transicional de
Winnicott?
Podemos conferir esta analogia na definição
dada por ele:
Quando o simbolismo é empregado, o bebê
já está claramente distinguindo entre fantasia e fato, entre objetos
internos e objetos externos, entre criatividade primária e percepção.
Mas o termo objeto transicional, segundo minha sugestão, abre campo ao
processo de tornar-se capaz de aceitar a diferença e a similaridade.
Creio que há uso para um termo que designe a raiz do simbolismo no tempo,
um termo que descreva a jornada do bebê desde o puramente subjetivo até
a objetividade, e parece-me que o objeto transicional é o que percebemos
dessa jornada de progresso no sentido da experimentação.
O Brincar e a Realidade, Rio de Janeiro: Imago,1975.
Existem, é claro, consultas
mais difíceis. Quanto menor a criança, menor sua objetividade.
Crianças normais com menos de três anos costumam chorar, e nossa
tranquilidade em aceitar o choro poderá ajudá-la muito.
"Uma das características da criança de dois anos é
que as fantasias orais primárias, bem como as ansiedades e defesas a
elas associadas, podem ser claramente discernidas em paralelo a processos mentais
secundários e altamente elaborados." Da Pediatria à Psicanálise
D.W. Winnicott,Imago,2000.
Quando a criança se encontra esmagada pela ansiedade ou pela depressão
da mãe, ou quando a criança passou por experiências de internações
hospitalares, já têm introjetada a dor, e deveríamos poder
investir muitas consultas para tranquilizá-la. Citando Freud,1926;
"Por outro lado, o perigo externo (objetivo) já deve ter sido internalizado
a fim de tornar-se significativo para o ego".
Reinvindico aqui uma mudança de postura profissional e por parte dos
pais para que se dê à criança que necessita, a possibilidade
de ir adquirindo num ritmo mais lento que ela mesma imprimirá, a confiança
no ambiente, pois acredito que este seja um caminho em direção
à saúde. Toda uma mentalidade social tem que ser mudada para caminharmos
neste sentido.
Algumas questões finais
A questão da dor
Fico imaginando o quanto o tratamento
odontológico já se insere no nosso inconsciente como uma experiência
de contato com a dor. Recomendo aqui a leitura do livro A Dor , Manoel Tosta
Berlinck, (org) São Paulo: Escuta,1999 do qual retiro as seguintes frases:
"Entre a analgesia doença
rara em que o corpo não acusa a existência de dor e que solicita
do doente um complexo e delicado aprendizado para viver e a dor crônica,
sensação sempre presente no corpo, habita o ser humano.
A dor é um fenômeno de tão
ampla extensão que é possível afirmar que a humanidade
é uma espécie dolorida."
Devemos lembrar que procedimentos odontológicos podem até mesmo
produzir dor, no momento da anestesia, ou da limpeza de um elemento dentário
que antes não apresentava qualquer algia. Portanto, ao cuidarmos do paciente
e principalmente do paciente pediátrico, torna-se importantíssimo
que a técnica não cause nenhuma dor, ou nesta impossibilidade,
devemos minimizá-la pelo bom entorno. Esta situação é
bastante diferente daquela em que o paciente já apresenta-se no consultório
com uma dor, e sabemos que a algia odontológica pode ser de um grau elevadíssimo,
e neste caso o profissional será aquele que trará o alívio
da dor, não o causador desta. Ainda assim deve estar consciente que encontra-se
frente a um paciente já bastante fragilizado.
Acredito que, se pudermos colocar
a criança, nesta que é talvez sua primeira experiência médica,
numa situação de segurança e amparo diante da dor, ela
possa talvez dimensionar de modo mais positivo suas experiências por vir.
Pergunto: que consequências podem ter uma
invasão na cavidade oral de uma criança, sem a suficiente delicadeza,
quando esta mesma é para a criança fonte de prazer e de contato
com o mundo externo?
A questão das técnicas traumatizantes
Fico muito apreensiva ao constatar
que em livros de Odontopediatria de publicação recentíssima
ainda se relate a chamada técnica da mão na boca, considerada
um último recurso no tratamento de crianças que apresentam maior
resistência às nossas intervenções e que tenham mais
de três anos. Esta técnica, tenho convicção, jamais
deveria ser empregada pois consiste na colocação da mão
do profissional na boca do paciente, impedindo-o de falar até que este
colabore com o profissional.
Considero-a de uma agressividade
absurda, seja qual for a idade da criança, mesmo que com o consentimento
dos pais como preconizam os autores. A criança com mais de três
anos é aquela que mais estará acessível ao diálogo,
e caso não seja, cabe a nós como profissionais de saúde,
sabermos identificar a criança que precisa de uma ajuda psicológica
e a encaminharmos, pois talvez seja isto que a criança esteja nos comunicando,
seu desespero e necessidade de ajuda.
Alguns pacientes adultos, que me relatam extremo
desconforto em ficarem numa posição estática na cadeira,
até mesmo uma sensação de sufocação, são
pacientes que acabaram por relatar experiências de amidalectomia aos três
ou quatro anos, e a sensação de sufocamento parece vir do pré
anestésico, que era feito com um pano embebido e levado ao rosto da criança,
fazendo-a assim perder a consciência.
Ora, esta mesma técnica da mão na
boca ,também chamada HOME, era há quinze anos atras quando me
formei, preconizada com uma toalha
São absurdos com os quais não
podemos compactuar.
A questão da entrada da mãe na
sala
Muitos profissionais solicitam,
logo numa primeira consulta ,que a mãe deve ficar fora da sala de consulta,
e usam mesmo este artifício para fazer com que a criança se comporte,
dizendo-lhe que se não o fizer a mãe se retirará da sala.
Ora já nos disse Freud:
Podemos dizer que cada período
da vida do indivíduo tem seu determinante apropriado de angústia.
Assim o perigo do desamparo psíquico é apropriado ao perigo de
vida quando o ego do indivíduo é imaturo: o perigo da perda do
objeto, até a primeira infância, quando ele ainda se acha na dependência
de outros; o perigo da castração até a fase fálica;
e o medo do seu superego até o período de latência. É
possível, além disso, que haja uma relação razoavelmente
estreita entre a situação de perigo que seja operativa e a forma
assumida pela neurose resultante . FREUD, Inibições, Sintomas
e Angústias, Rio de Janeiro:Imago,1998-pag70-7
Com Winnicott podemos clarear ainda mais esta questão:
Nestes últimos anos pude compreender (aplicando o trabalho de Melanie
Klein) a função, na mente até mesmo do bebê, do medo
de perder a mãe ou ambos os pais enquanto posse interna valiosa. Quando
a mãe afasta-se da criança, esta sente que perdeu não apenas
a pessoa real ,mas também a contraparte no interior de sua mente, pois
a mãe no mundo externo e aquela do mundo interno estão ainda muito
ligadas uma à outra na mente do bebê, sendo até certo ponto
interdependentes.
D.W.Winnicott, Da Pediatria à Psicanálise, Rio de Janeiro:
Imago, 2000, pag130-131.
Infiro daí, que impedir
a entrada da mãe na sala é muito mais uma dificuldade do profissional
em relacionar-se com mãe e criança ao mesmo tempo, do que um conforto
e uma facilitação da consulta pediátrica, e traz para a
criança não preparada uma angústia e desamparo que poderiam
ser totalmente evitados.
Conclusões
Tentei neste artigo, fazer um
ponte entre o estudo da psicanálise e sua aplicação não
só na Odontopediatria, mas acreditando que possa se estender a outras
áreas médicas, no intuito de permitir ao adulto que esta criança
virá a ser, uma relação tranquila com os tratamentos a
que se submeterá durante sua vida, a fim de que se evite as condições
fóbicas que hoje presenciamos em tantos adultos que nos chegam ao consultório,
por não terem recebido um tratamento mais profilático na infância,
adultos estes que terão que receber um longo descondicionamento até
poderem sentir-se confortáveis, e aí a psicanálise poderá
vir em nosso auxílio e em auxílio do paciente mais uma vez. Bem,
mas talvez este seja um assunto para um próximo encontro.
Bibliografia
- D.W.Winnicott: Da Pediatria à Psicanálise,
Rio de Janeiro: Imago 2000,tradução Davy Bogomoletz.
- D.W.Winnicott: O Brincar e a Realidade, Rio
de Janeiro:Imago,1975,tradução:Jose Otávio de Aguiar
abreu e Vanede Nobre.
- Françoise Dolto: As etapas decisivas
da Infância, São Paulo:MartinsFontes,1999,tradução:
Maria Ermantina Galvão.
- Manoel Tosta Berlinck: Psicopatologia Fundamental,
São Paulo,Escuta:2000,pg 57
- S.Freud :Inibições, Sintomas e
Angústias ,Rio de Janeiro:Imago,1998,traduçãoChistiano
Monteiro Oiticica.
- Sandor Ferenczzi: Obras Completas. SãoPaulo:
Martins Fontes,1992
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