Este artigo tem por finalidade principal, oferecer uma contribuição ao clínico-geral e ao odontopediatra para a restauração de molares decíduos com grande destruição coronária.
Restaurações
Indiretas: Técnica Alternativa na Reabilitação Bucal em Odontopediatria.
INTRODUCÃO 
 
Mesmo
com todas as medidas preventivas que estão disponíveis, a destruição
precoce de dentes decíduos posteriores, pela doença cárie, é um dos
problemas com o qual o odontopediatra se defronta na clínica diária (MATHIAS
et al., 1995; IMPARATO et al.,
1997; BUSADORI et al., 1998). É
comum nos depararmos, com pacientes na faixa etária de 1 a 5 anos, portadores
de cárie de mamadeira e/ou rampante, apresentando envolvimento dos dentes
posteriores e ântero-superiores. 
 
Os
molares decíduos por possuírem características anatômicas peculiares
tornam-se os elementos mais susceptíveis ao ataque cariogênico na dentição
decídua, transformando-se em um grande desafio para o profissional, a
restauração desses dentes, devolvendo a estética e função. 
 
O
advento das resinas compostas e, conseqüentemente, seu aprimoramento no
decorrer dos últimos anos, possibilitou seu emprego na restauração de
dentes posteriores (VIEIRA, 1993; KOCH et
al., 1995; MATHIAS et al., 1995;
BUSATO et al., 1997; GIRO et al., 1997; CHAIN & BARATIERI, 1998). Recentemente, novas técnicas
alternativas foram desenvolvidas, dentre as quais destacamos as restaurações
indiretas com resina composta.  
 
Este
trabalho tem por objetivo demonstrar a utilização de restaurações
indiretas na reabilitação bucal em odontopediatria, propiciando ao clínico-geral
e ao odontopediatra uma alternativa a mais para a reconstrução de dentes decíduos
com grandes destruições coronárias.  
 
DESCRIÇÃO
DO CASO CLÍNICO 
 
Paciente
do sexo masculino, 5 anos e 5 meses de idade, foi trazido à clínica do Curso
de Especialização em Odontopediatria da EAP/ABO-PB necessitando de
tratamento odontológico. Quando do exame clínico, observou-se um quadro
característico de cárie de mamadeira, com grandes destruições coronárias
nos molares superiores (Figuras 1 e 2). Realizada a anamnese, constatou-se que
a dieta adotada pelo paciente era rica em carboidratos, bem como era freqüente
a ingestão de açúcares, na forma de balas, doces e chocolates.  
 
FIGURA
1. Inicial. Arco Superior - observar grau de comprometimento dos molares decíduos. 
 
 
 
FIGURA
2. Inicial. Arco Inferior 
 
 
 
Na elaboração do plano de tratamento, as primeiras medidas adotadas
consistiram em motivar e educar a criança e os responsáveis no tocante à saúde
bucal, quanto aos hábitos de higiene e alimentares, enfatizando a importância
da modificação dos mesmos, para se alcançar uma saúde oral e geral
adequadas. 
 
Com
relação as medidas curativas, a primeira etapa consistiu da adequação do
meio bucal com ionômero de vidro e exodontias dos elementos 61 e 62. Em
seguida, realizaram-se as restaurações em amálgama e em compômero (Dyract),
dos elementos 53, 63, 73, 74, 75, 83, 84 e 85, objetivando a melhoria das
condições bucais.  
 
Realizados
esses procedimentos, partiu-se para a reconstrução dos segundos molares decíduos
superiores, através da técnica de restaurações indiretas com resina
composta. Essa técnica é composta por 3 fases: a) clínica inicial, b)
laboratorial e c) clínica final. 
 
Na
fase clínica inicial, os preparos cavitários foram realizados sob anestesia
local e isolamento relativo. O ionômero de vidro, colocado quando da adequação
do meio, foi removido, com ponta diamantada cone invertida, montada em alta
rotação. As paredes cavitárias foram, então, regularizadas, a fim de
tornar o preparo expulsivo. Realizou-se a moldagem dos arcos superior e
inferior com silicona de condensação (Silon D) e confeccionaram-se os provisórios.
 
 
A
etapa laboratorial consistiu da obtenção dos modelos em gesso pedra. Não se
realizou qualquer isolamento do modelo, seja com vaselina líquida ou cera.
Delimitaram-se as áreas a serem reconstruídas, e iniciou-se a colocação da
resina composta (TPH) em camadas de aproximadamente 2 mm de espessura, seguida
da fotopolimerização por 40 segundos, até a obtenção completa da restauração.
Deu-se o acabamento e escultura inicial.  
 
Realizados
estes passos, passou-se a prova das restaurações indiretas e os ajustes,
quando necessários. Em seguida, fez-se a profilaxia com pedra-pomes e água
com escovas de Robinson dos remanescentes dentários e das restaurações em
resina. Após a colocação da matriz de poliéster, realizou-se o
condicionamento simultâneo do remanescente e da peça em resina composta por
15 segundos, lavagem e secagem, aplicação e fotopolimerização do adesivo
monocomponente (Primer & Bond 2.1), de acordo com as instruções do
fabricante.  
 
O
próximo passo consistiu da cimentação das restaurações indiretas com um
cimento resinoso dual (Dual Cement). Procedeu-se a remoção dos excessos,
ajuste oclusal, acabamento e polimento. Esta primeira etapa restauradora teve
por finalidade restabelecer e estabilizar a dimensão oclusal. Os mesmos
passos clínicos foram seguidos nos elementos 54 e 64. As figuras 3 e 4
apresentam o caso clínico concluído.
 
 
FIGURA
3 - Vista frontal - região superior. Caso
final após tratamento.  
 
DISCUSSÃO 
 
A
dentística restauradora está em um constante processo evolutivo. A cada dia,
novas técnicas e materiais são desenvolvidos, proporcionando ao clínico e
em especial, ao odontopediatra, inúmeras opções para a reabilitação bucal
em odontopediatria.  
 
A
técnica que preconiza a utilização de restaurações indiretas em resina
composta, constitui uma dessas opções alternativas que possibilita a
restauração de dentes decíduos com grandes destruições coronárias,
devolvendo a anatomia e funções perdidas, bem como o fator estético. Dentre
as vantagens deste método alternativo, destacamos: contorno anatômico
superior, estética, baixo custo, baixa condutibilidade térmica, obtenção
dos contatos proximais e menor microinfiltração (VIEIRA, 1993; BUSATO et
al., 1997; GIRO et al., 1997; BUSSADORI et al., 1998; CHAIN & BARATIERI,
1998).  
 
Todavia,
VIEIRA, em 1993, cita como
desvantagens: tempo adicional, maior número de passos e maior quantidade de
material envolvido. Na nossa opinião, tais fatores não se constituem em
pontos negativos, pois esta técnica permite a restauração de vários
elementos dentários, em um menor número de sessões, e em Odontopediatria,
isso é primordial, uma vez que realizamos atendimento infantil em crianças
da mais tenra idade.  
 
Um
ponto importante a ser salientado é que não há necessidade de equipamentos
de última geração, bem como é dispensável o encaminhamento ao laboratório,
já que o próprio profissional pode executar o trabalho laboratorial em seu
consultório particular, tal é a simplicidade técnica. 
 
 
 
CONCLUSÕES 
 
O
sucesso de qualquer tratamento está condicionado à avaliação, diagnóstico
e plano de tratamento corretos da situação clínica existente para um dado
paciente. A utilização da resina composta através da técnica indireta
mostra-se eficiente na restauração de molares decíduos com grandes destruições
coronárias.  
 
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
 
 
1.
BUSATO, A. L. S.; BARBOSA, A. N.; BUENO, M.; BALDISSERA, R. A.
Restaurações de dentes
posteriores. Artes Médicas, São Paulo, 1997. 
 
2.
BUSSADORI, S. K.; GUEDES-PINTO, A. C.; IMPARATO, J. C. P. Dentística
odontopediátrica. In: GUEDES-PINTO, A. C. Odontopediatria clínica. Série
EAP/APCD, v.11, Artes Médicas, 1998, p.127-148. 
 
3.
CHAIN, M. C.; BARATIERI, L. N. Restaurações
estéticas com resina composta em dentes posteriores. Série EAP/APCD,
v.12, Artes Médicas, São Paulo, 1998, 177 p. 
 
4.
GIRO, E. M. AA.; HEBLING, J.; BAUSELLS, J.
Reabilitação
bucal em odontopediatria.
In. BAUSELLS, J. Odontopediatria - procedimentos clínicos. Premier, Colômbia,
1997, cap. 10, p. 125-138. 
 
5.
IMPARATO, J. C.; MYAKI, S. I.; EDUARDO, C. P. Restauração métálica fundida
em odontopediatria. Rev
Paul Odont,
n.4, p.4-7, julho/ago, 1997. 
 
6.
KOCH, G.; MODÉRR, T.; POUSEN, S.; RASMUSSEN, P.
Odontopediatria - uma abordagem clínica. Trad. Tadaaki Ando, 2 ed.,
Santos, 1995, cap. 11, p. 155-184. 
 
7.
MATHIAS, R. S.; KRAMER, P. F.; GUEDES-PINTO, A. C.
Dentística operatória e restauradora. In: GUEDES-PINTO, A. C.
Odontopediatria, 5 ed, São Paulo, Santos, 1995, p.701-743. 
 
8.
VIEIRA, D. Comparação (in vitro) da
infiltração marginal entre restaurações
diretas e indiretas com resinas compostas. São Paulo, 1993. 157 p.
Dissertação (Mestrado em Dentística
Restauradora) - Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.