Odontometria (condutometria)
Jesus Djalma Pécora ( pecora@forp.usp.br ) - Doutor em Reabilitação Oral pela FORP-USP
- Prof. Titular de Endodontia da FORP-USP
- Editor do Brazilian Dental JournalManoel Damião de Sousa Neto ( sousanet@usp.br ) - Prof. Titular de Endodontia da UNAERP
- Pós-Graduando da FORP-USP
Um dos objetivos do tratamento endodôntico
consiste na instrumentação, limpeza e desinfecção
do canal radicular. Para isto, faz-se necessário saber o comprimento do
dente. A determinação do comprimento do dente possui varias denominações,
variando de acordo com a fonte ou o autor, que são: odontometria, condutometria
ou endodontometria.
A correta odontometria é muito importante,
pois faz-se necessário diminuir ao máximo possível os traumas
operatórios, promovendo assim, o respeito ao tecidos periapicais, que
constitui um dos ítens que compõem os princípios básicos
do tratamento endodôntico.
O fracasso em determinar precisamente o comprimento
do dente pode provocar perfurações apicais, sobre instrumentação
e sobre obturação, com incidência de dor pós-operatória.
O oposto também pode ocorrer, levando a instrumentação
e obturação deficientes, incompletas, causando insucesso no tratamento
endodôntico.
O tratamento endodôntico será bem
realizado se todas as fases que o compõe forem corretamente realizadas,
não havendo priorização de algumas delas sobre outras.
Os erros , quando não corrigidos antes de passar para nova etapa, acarretam
o insucesso do tratamento endodôntico, pois levará às suas
somatórias.
Desde o início de século, os endodontista
estão em busca de métodos para determinar o comprimento de trabalho
que sejam fáceis, rápidos e precisos.
Vários métodos foram propostos para
esse fim, tais como: resposta do paciente à dor provocada pela ultrapassagem
de um instrumento pelo forame apical, Crane (1921); aplicação
do teorema de Talles, Bregman (1950); sistemas geométricas, Best et al
(1962); e sistemas eletrônicos Sunada (1962), Stoianov (1978) e Yamaoka
et al(1989).
Bregman (1950) recomendava a colocação
de uma lima no interior do canal radicular para, em seguida, tomar uma radiografia.
De posse dessa radiografia, determinava-se o comprimento aparente do dente e
do instrumento. Com esses dados e conhecendo-se de antemão o comprimento
real do instrumento, aplicava-se a equação da proporcionalidade
baseada no Teorema de Talles (CRD = (CRI x CAD)/CAI), obtendo-se o comprimento
real do dente e, por conseguinte, o comprimento de trabalho, uma vez que este
é dado pela subtração de 1 a 2 mm do comprimento real do
dente.
Ingle & Beveridge (1979), para determinar o
comprimento do dente, utilizava-se de uma radiografia de diagnóstico
com distorção mínima, onde se fazia a mensuração
do dente, subtraíam-se três milímetros, introduzia-se uma
lima no interior do canal radicular do dente em questão e tomava-se nova
radiografia. Com base nesta última radiografia, media-se a distância
entre a ponta do instrumento e o vértice radicular, e somava-se essa
medida com o tamanho real do instrumento menos meio milímetro, que foi
a margem de segurança por eles estabelecida para determinar o comprimento
de trabalho.
Sunada (1962) propôs um método de
determinação do comprimento de trabalho por meio do uso de um
aparelho eletrônico, que consiste essencialmente de um microamperímetro,
um potenciômetro e dois eletrodos. Um dos eletrodos é conectado
à mucosa bucal do paciente e outro eletrodo (lima) é colocado
no interior do canal radicular. Calibrado o aparelho, a lima é cuidadosamente
introduzida no canal até que o microamperímetro acuse 40 microamperes,
o que significa que a lima atingiu o ápice.
Stoianov (1978) criou um equipamento eletrônico
que permitia a localização do limite CDC, baseado na variação
da impedância dos tecidos.
Assim, a idéia de simplificar a determinação
do comprimento de trabalho para a instrumentação do canal radicular,
por meio de um método rápido e eficiente sempre foi a preocupação
dos cientistas.
Sousa Neto et al (1995) avaliaram clinicamente
o uso do aparelho eletrônico APIT para determinação da condutometria
em 170 pacientes tratados, perfazendo um total de 282 canais.O índice
de acerto da condutometria com esse aparelho foi de 98,5%.
Chamamos atenção para os seguintes
fatores que interferem na medida eletrônica:
Canal radicular seco
Câmara pulpar repleta de solução
irrigante ou sangue
Infiltração de líquidos,
do meio bucal para a cavidade endodôntica, caso o isolamento absoluto
não tenha sido corretamente colocado
Restaurações metálicas
nos dentes (amálgamas ou blocos)
Colocação do eletrodo metálico
distante do dente em que se realiza a odontometria,
Colocação do eletrodo metálico
em contato com o grampo do isolamento,
Oxidação do eletrodo porta-limas,
Bateria com pouca carga,
A lima utilizada para odontometria não
ser de diâmetro próximo ao diâmetro anatômico.
Sousa Neto et al (1995) chamam atenção
que para evitar a interferência desses fatores, o profissional deve observar
o seguinte:
O isolamento deve estar corretamente colocado
de modo a não permitir passagem de fluidos da cavidade bucal para a
cavidade endodôntica
O canal radicular deve estar úmido,
A câmara pulpar deve estar seca e isto
deve ser realizado com algodão, de modo que a umidade do canal não
seja removida. Portanto, não se deve utilizar pontas aspiradoras para
esse fim
Caso o dente apresente paredes coronárias
com materiais metálicos, deve-se evitar o contato com a lima,
Colocar o eletrodo metálico próximo
ao dente a ser testado, no mesmo lado da arcada, e sem entrar em contato com
o grampo do isolamento absoluto.
Utilizar limas para o eletrodo porta lima,
de calibres próximos ao diâmetro anatômico dos canais radiculares
dos dentes testados, para que ocorra contato entre as limas e as paredes dos
canais radiculares.
Lixar, pelo menos a cada semana o eletrodo
porta lima, pois este pode oxidar-se e impedir a passagem elétrica.
Para esse tarefa, utiliza-se lixa para polimento de restaurações
resina composta.
Observar, a cada uso, se a bateria do aparelho
tem carga suficiente. Caso esteja descarregado, ela deve ser substituída
ou recarregada,
Para aplicação de qualquer método
de mensuração do comprimento do canal radicular, o profissional
deve ter noção exata das medidas dos comprimentos médios
dos dentes. Os comprimentos médios mostrados a seguir foram obtidos de
trabalhos de anatomia dental realizados no laboratório de Endodontia
da FORP-USP.
No arco superior: incisivo central (23,7mm); incisivo
lateral (23,1mm); canino (27,3mm); primeiro pre-molar (22,3mm); segundo pre-molar
(22,3mm); Primeiro molar (22,3mm); segundo molar (22,2mm).
No arco inferior: incisivo central (21,8mm); incisivo
lateral (23,3mm); canino (26,0mm); primeiro pre-molar (22,9mm); segundo pre-molar
(22,3mm); Primeiro molar (22,0mm); segundo molar (21,7mm).
A seguir mostraremos dois métodos para determinação
do comprimento de trabalho:
Método de Bregman
(1950)
Método Eletrônico
Aparelho APIT, (OSADA ELETRONIC Co).
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Método de Bregman (1950)
Para aplicar o método deve-se observar as
seguintes etapas:
1- Mede-se comprimento aparente de estudo (CAE),
que nada mais é do que o comprimento do dente na radiografia de estudo.
2- Reduz-se
4mm do CAE, estabelecendo-se dessa forma o comprimento real do instrumento
(CRI), que será introduzido no interior do canal radicular.
NOTA!!!
É importante saber que os 4mm subtraídos
do CAE têm o objetivo de dar margem de segurança para que o instrumento
não ultrapasse o forame apical e traumatize aquela região.
3- O instrumento (lima) a ser introduzido no
canal deve possuir calibre aproximado ao diâmetro anatômico do
canal, para que fique bem justo e não de movimente durante a tomada
radiográfica.
NOTA !!!
Coloca-se um limitador
(cursor ou "stop") no instrumento para demarcar o comprimento que
será introduzido no canal radicular (CRI). Esse cursor deverá
apoiar-se na porção incisal ou oclusal do dente (ponto de referência)
com a finalidade de se obter a mensuração do mesmo.
4- Radiografa-se o dente com o instrumento em
posição. Feito isso, retira-se o instrumento e, para confirmar
a medida estipulada anteriormente (CRI), mede-se a distância que vai
da ponta do instrumento até o cursor.
5- Uma vez
processada a radiografia, mede-se o comprimento aparente do instrumento (CAI)
e o comprimento aparente do dente (CAD), que nada mais são do que os
comprimentos do instrumento e do dente vistos na radiografia, respectivamente.
O CAI deve ser medido da ponta do instrumento até o ponto de referência
onde o curso foi apoiado.
6- Conhecidos o CRI,
o CAI e CAD, podemos calcular o comprimento rela do dente
(CRD) aplicando a seguinte fórmula:
CRD = CRI x CAD / CAI
7- Uma vez obtido
o CRD pode-se determinar o comprimento de trabalho (CT), que
o comprimento real do dente menos 1 mm.
8- A seguir, verifica-se
se o comprimento de trabalho (CT) obtido está correto, fazendo-se
uma radiografia com o instrumento no interior do canal radicular no CT
obtido. A análise da radiografia de confirmação do CT
deve mostrar claramente o instrumento no interior do canal radicular colocado
1 mm aquém do ápice radiográfico. Caso essa situação
não ocorra, deve-se iniciar a odontometria novamente.
NOTA!!!
Esta confirmação
do CT deve ser sempre realizada, pois as imagens radiográficas
podem sofrer distorções e fornecer dados errôneos.
Vale ressaltar que a radiografia de diagnóstico
ou estudo deve ser de excelente qualidade, isenta de distorções,
para que se tenha uma melhor noção do comprimento do dente. A
técnica radiográfica do cone longo proporciona radiografias com
imagens mais próximas do real.
9- Arquive as radiografias de seu paciente para
que se possa realizar a proservação. Elas servem também
como documento que comprova a correta execução da técnica
endodôntica nos casos de problemas judiciais entre o profissional e
o paciente.
Método de Odontometria Eletrônica
com o Aparelho APIT
O aparelho APIT é composto basicamente por
um amperímetro e dois eletrodos. Um eletrodo é conectado a um
porta-limas, onde a lima endodôntica é adaptada. O outro eletrodo
é conectado a uma peça metálica que entra em contato com
a mucosa bucal do paciente.
Antes do manuseio do aparelho, deve-se fazer a
leitura do manual de instruções do fabricante. Posteriormente
deve-se simular várias situações para observar se domina
o aparelho, por exemplo, conhecendo o comprimento de um dente procure deixar
a lima conectada ao aparelho a 0,5; 1,0 e 2,0 mm aquém do ápice,
confirmando com uma radiografia.
A condutometria com o aparelho APIT deve ser realizada
do seguinte modo:
1. Isola-se o campo operatório com dique
de borracha.
2. Realiza-se a cirurgia de acesso à
câmara pulpar.
3. Seca-se a câmara pulpar com o auxílio
de um penço de algodão, tomando-se o cuidado para não
secar o canal radicular.
4. Com auxílio da radiografia de diagnóstico,
introduza a lima até dois terços do canal radicular e conecte
a lima ao eletrodo por meio do porta lima.
5. O outro eletrodo, possue uma peça
metálica em forma de gancho que deve ser colocada na comissura labial,
ficando em contato com a bochecha do paciente.
6. O passo seguinte consiste no ajuste do ponteiro
do mostrador do aparelho na posição (ADJ), este é o ponto
de ajuste do aparelho.
7. Após o ajuste, introduza a lima lentamente
no interior do canal radicular até ouvir um som intermitente emitido
pelo aparelho. Esse som é indicativo que o instrumento está
1 mm aquém do ápice.
8. Ao ouvir o som intermitente, ajuste o cursor
previamente colocado na lima, em um ponto referencial do dente, obtendo-se
o comprimento de trabalho.
9. Radiografe para confirmar se o instrumento
está ou não na posição correta.
NOTA!!!
A medida que a lima é introduzida no canal,
a partir de 1mm aquém do ápice, o som emitido pelo aparelho passa
a ter intervalos cada vez menores até se tornar contínuo, indicando
que o instrumento ultrapassou o comprimento do dente.
Referências Bibliográficas
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S.; GOURNEY, F. Un nuevo metodo para determinar el largo del diante en la practica
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2. BREGMAN, R.C. A mathematical method of determining
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16(6):305-6, june 1950.
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Lea & Febiger, Philadelphia, 1976.
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P.C.; PÉCORA, J.D.: Avaliação de um aparelho eletrônico
para determinação da odontometria (Condutometria). Rev. Odontol.
Univ. São Paulo, 9(1):33-37,jan./mar. 1995.
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do canal em corrente alternada "in vivo". Rev. Fac. Farm. Odont. Ribeirão
Preto, 15(1): 45-53, jan./jun. 1978.
8. SUNADA, I. New method for measuring the lenght
of the root canals. J. Dent. Res. 41(2):375-87, mar./apr.,1962.
9. YAMAOKA, M.; YAMASHITA,
Y.; SAITO, T. Electrical root canal measuring instrument based on a new principle.
Osada product information n. 6/89.
Artigo original na Internet: http://www.forp.usp.br/restauradora/metria.htm
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