Onde e porque usar os adesivos dentinários
Fátima Maria Namen ( neo@odontologia.com.br ) - Especialista pela Policlínica Geral do Rio de Janeiro
- Mestre pela FO UFRJ
- Professora Assistente da FO UFF
Discute os novos conceitos dos adesivos dentinários e mostra sua evolução, classificação e indicações.
CONSIDERAÇÕES
O objetivo desta conferência é de
discutir novos conceitos dos adesivos dentinários, mostrar a
evolução e classificação dos adesivos bem como suas
características de adesão no "smear" e / ou na
dentina subjacente e suas indicações. Uma vez que de posse dos
conceitos e do posicionamento histórico do produto, fica mais
fácil incorporar na sua clínica ou descartar o referido
produto.
Discutiremos tambem o Smear Layer,
a camada hibrida e os aspectos clínicos.
Podemos definir este material como sendo
uma resina fluida com uma química específica que se liga a
hidroxiapatita da dentina e do esmalte bem como no colágeno
dentinário, promovendo uma adesão química verdadeira, através
de ligações iônicas e covalentes e uma retenção micro
mecânica no colágeno dentinário.
Na verdade os estudos dos adesivos vem
sendo pesquisados por mais de 40 anos marcando a mudança da
Odontologia para uma linha mais adesiva desde 1955 quando Buonocore
tentou pela primeira vez a ligação das resinas acrilicas com o
esmalte e dentina. Através dos estudos de Buonocore
e com os avanços nas décadas seguintes com os estudos de
microscopia de uma maneira geral foi possivel correlacionar os
adesivos com a micro estrutura do esmalte e dentina.
Por causa da diferença marcante entre
esmalte e dentina do ponto de vista micro anatômico e posição
do átomo no espaço, podemos notar que as ligações destes
discutidos materiais com a dentina é muito mais sensível na
dentina do que no esmalte, haja vista o grande conteúdo de água
e proteina que a dentina oferece bem como o fato deste substrato
ser continuação da polpa.
Com relação aos novos conceitos, podemos
observar que existe uma grande preocupação entre os autores com
diferentes enfoques para chegar ao objetivo final deste produto
que é a aderência e pouca suscetibilidade a hidrólise.
Observamos linhas de pesquisa mais preocupadas com o tratamento
antisséptico da dentina para eliminar a presença da
contaminação no smear e ou dentina subjacente.
Uma outra linha de pesquisadores trazem
conceitos de que o smear layer, essa tênue camada de 5um,
é a grande preocupação. A sua não remoção pode implicar
numa baixa resistência adesiva do material à dentina e sua
remoção pode implicar numa exposição do colágeno, numa
grande perda de água, numa irritabilidade pulpar, etc.
Há autores que garantem uma resistência
adesiva e coesiva bastante eficaz, uma vez que a camada hibrida
tenha sido totalmente polimerizada, o smear tenha sido todo
removido e o material seja pouco suscetível a contração de
polimerização.
Das pesquisas recentes, existem linhas
diversas que estudam a concentração e tipo de ácido, remoção
ou não do smear, a presença ou não de ácidos nos primers, o
uso ou não de adesivos químicos, uso de resinas com carga de
baixa viscosidade sobre a camada hibrida e a dentina úmida ou
seca.
Basicamente podemos resumir 4 modos de uso
do adesivo na estrutura dentinária.
O primeiro marca o início da decada de 80
no Brasil com o uso de adesivos que não condicionavam a dentina
(o ácido era só para o esmalte) e aplicava-se uma resina fluida
com química específica com caracteristicas adesivas que mostrou
posteriormente ligaçoes não efetivas (Cosmic).
Depois apareceram no mercado uma geração
de adesivos que indicavam o tratamento da dentina com primer
acidificado com a intenção de desmineralizar o smear para uma
subsequente aplicação de um adesivo que se ligaria no smear e
na dentina subjacente (Scotchbond III e Prisma Universal).
No meado e final dos anos 80, aparece uma
geração de adesivos com conceito de remover o smear e uma
tentativa de "reposicioná-lo" com cloreto férrico
(Tenure) e com sais oxalatos de alumínio (Mirage Bond). Alguns
deste materiais já saíram do mercado e outros continuam com boa
aceitação.
Finalmente, uma quarta geração que marca
os anos 90, em que se remove todo o smear layer com ácido e se
infiltra um primer hidrofílico na dentina e o subsequente
adesivo, formando o que Nakabayashi chamou de
camada híbrida.
Entre os produtos de última geração
existem vários no mercado nacional e internacional com
diferentes evoluções, ou seja, diferentes usos de ácidos e
concentrações, com química de primers diversificadas, etc.
Neste pequeno resumo falaremos dos adesivos
que ganharam mercado no Brasil.
Todos eles seguem o mesmo princípio de
condicionar a dentina com ácido (fosfórico a 37%) por um tempo
curto (30 segundos) com uma lavagem rigorosa de 30 segundos.
A dentina tubular e principalmente a inter
tubular é desmineralizada através da remoção de Ca da
hidroxiapatita e o colágeno dentinário sofre uma
desfosforilização, para ser então encharcado através de um
primer hidrofílico, ligando-se nesta fosfo-proteína e
ligando-se no adesivo priopriamente dito, que por sua vez se
ligará na resina composta restauradora e outros materiais.
Exemplificando esta técnica podemos citar
o Scotch bond Multiuso, fotopolimerizável com
presença de resina hidrofilica no primer, que apareceu no Brasil
primeiramente com ácido maleico a 10%, depois substituído pelo
ácido fosfórico a 37% (3M). Similarmente existe o Pró
bond (Dentisply), contendo glutaraldeído fotopolimerizavel.
Recomenda-se ácido fosfórico a 37% para
remover o smear. Acompanha um primer hidrofilico e um adesivo
tambem fotopolimerizavel. É preciso atenção para estes
primers, que precisam de um tempo de 60 seg para haver uma
capacidade de molhamento na dentina e o dito colágeno ser
encharcado, não deixando espaços vazios nesta dentina descalcificada.
Outra atenção importante que deve ser
considerada está relacionada aos cuidados de
fotopolimetrização em todos os produtos citados, com relação
ao tempo e comprimento de onda do aparelho.
Ainda no nosso mercado encontramos com uma
boa aceitação o produto chamado Multi bond Alfa (DFL)
com características similares ao All bond 2
onde o primer é um N.Toli glicine ligado ao sódio e o adesivo
é um BISGMA e HEMA. O ácido que acompanha tanto o Multi bond
quando o All bond 2 é o ácido fosfórico a 10% e sua presa é
química. Esse produto marca uma particularidade em que o adesivo
e primer estão em um único frasco e o fixador de óxidos para o
metal em outro frasco. O catalizador serve para ambos . Esse kit
tambem oferece ácido fluorídrico a 10% para condicionar
exclusivamente a parte interna nas facetas e inlays/onlays de
porcelana e um vinil silano também com o mesmo propósito de
ponte de ligação entre a porcelana e o cimento .
Outro exemplar é o Scothbond Multi
purpose Plus da 3M que já diferencia o tratamento para
as resinas diretas e o tratamento adesivo para as resinas
indiretas. Ele traz em seu conjunto ácido fosfórico a 37% para
remover o smear layer, um primer hidrofilico para encharcar o
colágeno dentinário e um adesivo foto polimerizável com as
mesmas características do Scotch bond M.P., seu
antecessor. Sua indicação é para resinas em classes I, II, III
,V, IV. Já para as cimentações das restaurações indiretas
metálicas, aplica-se o ácido fosfórico, depois um ativador à
dentina com secagem suave e em seguida o primer é aplicado
também com secagem e o catalizador aplicado ao esmalte e
dentina. Na restauração a ser cimentada aplica-se o catalizador
na superficie interna que pode ter vindo pré-tratado do
protético (óxido de alumínio).
Essa aplicação se extende para os inlays
e onlays de porcelana que deverão vir tratadaos com ácido
fluorídrico e então tratá-los com vinil silano (presente no
kit) e evidentemente um cimento que será interposto entre o
inlay de porcelana, na estrutura dentária.
Encontramos também no nosso mercado o PAAMA-2
Q.A da SDI e o MAGIC da Vigodent, onde
o primer é HEMA, ácido maleico e fluoreto de sódio. O adesivo
é Bis fenol e um polimetacrilico, quimicamente ativado.
Finalmente encontramos os adesivos chamados
de "Passo Único" que são bem aceitos pela facilidade
de uso e no Brasil temos o One Step da Bisco, Prime
& Bond da Dentistply e Single Bond da 3M,
lançado neste congresso. A caracteristica destes materiais é a
remoção do smear com ácido fosfórico a 37%, lavagem com água
e uma aplicação do primer e adesivo juntos, do mesmo frasco.
Eles são indicados em aplicações em duas camadas. Dentre esses
mono componentes aparece tambem o Syntac da Vivadent.
O Prime & Bond da Dentsply
é caracterizado pela presença do PENTA e um dimetacrilato
diluído em acetona. O Single Bond da 3M tem o
HEMA, Bisfenol e copolímeros do ácido alquinólico e um
dimetacrilato dissolvidos em etanol e água.
CONCLUSÕES
Face ao exposto, podemos concluir que:
1- A tendência da última geração dos
adesivos é usar como condicionador o ácido fosfórico a 37% ou
o indicado pelo fabricante, lavagem abundante e secagem suave com
gaze ou papel filtro;
2- Os adesivos dentinários tendem a
mudanças de fotopolimerizados para químicos ou Duais, pois se
tem observado que os adesivos fotoativados tendem a se contrair
mais e, dependendo da intensidade da lâmpada, podem levar ao
desprendimento dos adesivos dos túbulos, ou então criar
espaços na zona híbrida, chamados de "zona vazia". Os
adesivos químicos permitem uma contração de polimerização
menos intensa e mais vagarosa, liberando as tensões (Galan
& Namen) e (Van Merbeeck).
3- Entre o adesivo e a resina restauradora
dever-se ia aplicar uma resina fluida e com carga, quimicamente
ativada, permitindo assim liberação maior do "stress"
das contrações. (Perdigão et al). O Optbond
da Kerr e o Natural Flow da DFL são
representantes comerciais desta idéia.
4- Os adesivos desta geração deveriam ser
aplicados em duas ou mais camadas, observando um tempo de 60
segundos para uma boa penetração nos túbulos dentinários e na
dentina intertubular.
APLICAÇÕES
CLÍNICAS
Os adesivos dentinários tem sido um
instrumento clínico útil em toda odontologia como um elemento
vedador das margens cavitárias, como elemento retentor dos
materiais restauradores e coadjuvante nas cimentações das
restaurações indiretas de metal, cerâmica ou resina.
Assim, restaurações de classe III, IV, V,
fraturas, classes I e II, colagem de fragmentos, facetas, inlays
e onlays, próteses fixas tradicionais e adesivas dependem dos
adesivos dentinários.
Alguns aspectos clínicos tem que ser
considerados em conjunção com os adesivos:
a- Preparos elásticos
- Paredes internas arredondadas
b- Restaurações a
dois tempos quando em presença de cavidades amplas
c- Vedamento marginal
quando houver colar de esmalte em torno da restauração
d- Acabamento e
polimento com instrumentos corretos tais como brocas multi
laminadas
e- Remoção de tecido
cariado com campo isolado
f- Uso de rinsagem
antissética antes da restauração
g- Leitura sempre do
perfil técnico e bula dos produtos utilizados.
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