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Avaliação "IN VITRO" do número de do tempo de permanência de cones de papel absorvente, e a influência da aspiração final, na secagem do canal radicular
"IN VITRO" DETERMINATION OF THE
NUMBER AND TIME OF PERMANENCE OF ABSORVENT POINTS, AND EFFECT OF FINAL
ASPIRATION ON RQOT CANAL DRYING
Trabalho publicado na Revista de Odontologia
da Universidade de São Paulo 2(2):81-85, abril/junho, 1988
RESUMO
Analisaram-se
"in vitro" os tempos médio necessários para os cones de papel
absorventes serem completamente umectados pelas soluções
irrigantes e o valor da aspiração final como um fator auxiliar
da secagem do canal radicular, que promove uma redução considerável
do número de cones de papel absorvente gastos.
UNITERMOS: Canal radicular, aspiração
final: Endodontia.
INTRODUÇÃO
A terapêutica
endodôntica se desenvolve por fases cujos sucesso está diretamente
vinculado ao respeito à triade: preparo químico-mecânico,
controle da desinfecção e obturação do canal
radicular, as quais interdependem, somando-se, equivalendo-se em importância
na medida em que comprometem ou auxiliem o sucesso do tratamento na sua
totalidade.
Para o sucesso
na cura das lesões de origem endodôntica, alguns fatores são
fundamentais, sendo o primeiro deles a manutenção da integridade
dos tecidos que vão sofrer diretamente os efeitos dos procedimentos
cirúrgicos, medicamentosos, químicos e físicos, os
quais devem ser, tanto quanto possível, inócuos, para que
essa integridade possa ser preservada. O segundo fator diz respeito à
necessária ausência de microorganismos na intimidade dos mesmos
tecidos, uma vez que constituem elementos impedientes ao início
do processo reparador. O terceiro está condicionado à perfeita
repleção do canal radicular, fato este que visa a coroar
todas as manobras operatórias até então realizadas
(COSTA2, 19871).
É, pois,
a obturação do canal radicular o objetivo final de todos
os procedimentos até então realizados.
Para, no entanto,
esta fase desenvolver-se a contento, alguns procedimentos técnicos
preliminares devem ser observados. Inicialmente, o que diz respeito à
seleção e travamento do cone mestre no comprimento de trabalho,
buscando uma vedação mais uniforme dessa área nobre
do canal radicular. Em seguida, deve ser enfatizada a distribuição
uniforme do cimento obturador na intimidade do canal, permitindo a ausência
de espaços vazios e porosidade que poderão interferir na
busca do sucesso desejado. Para que essa uniformidade na distribuição
do cimento obturador ocorra, é imprescindível que as paredes
do canal, no momento da obturação mostrem-se totalmente secas,
pois estes cimentos, na sua maioria à base de óxido de zinco-eugenol,
tem seu escoamento e presa final alterados frente a presença de
umidade.
Uma das maneiras
da obtenção de uma eficiente secagem do canal radicular é
a utilização de cones de papel absorvente, cujas primeiras
informações advém de CALLAHAN1 (1894) sem
ter contudo, uma conotação precisa de quem primeiro os utilizaram
com esta finalidade em Endodontia. PUCCI5 (1945) salienta a
utilização de mechas de algodão na secagem do canal
radicular, assim como na colocação de medicamento no seu
interior, informando que as mesmas poderiam ser de diferentes diâmetros
e cumprimentos, variando o diâmetro e comprimento das sondas onde
elas eram montadas. Enfatiza a utilização dos cones de papel
absorvente os quais já se encontram preparados, onde suas formas
cônicas facilitam a secagem da região mais próxima
do ápice.
Constituem hoje,
os cones de papel absorvente, o método mais utilizado na secagem
do canal radicular, embora de alto custo operacional. Ao mesmo tempo, os
diferentes calibres e fontes fornecedoras podem proporcionar uma variabilidade
no seu fabrico, quer quanto a uniformidade ou quanto ao papel, alterando
consequentemente a sua capacidade de absorção dos líquidos
no interior do canal radicular, Torna-se pois, necessário retirarmos
deste método o seu maior aproveitamento e eficiência no transcurso
desta etapa da atividade endodôntica, avaliando-o na sua capacidade
de absorção quer quanto da sua utilização isolada
ou associado à aspiração.
MATERIAL E MÉTODO
Confecção do corpo
de prova: Para confeccionar o corpo de prova, utilizou-se um dente
humano extraído, incisivo superior com 26 milímetros de comprimento.
Este dente estava armazenado em estoque, conservado em solução
aquosa de timol a O,1 por cento e mantido a 9 graus centígrados
até o momento de uso.
A cirurgia de acesso
ao canal radicular foi realizada e a instrumentação do mesmo
foi com lima tipo 1da marca KERR, com um comprimento de trabalho de 25
milímetros. A lima inicial foi a 40 e a final foi a 80.
Durante o preparo
químico-mecânico, utilizou-se líquido de Dakin como
solução irrigante. Após o preparo, o canal foi submetido
a uma irrigação abundante com a água destilada com
o irttuíto de removor qualquer traço de hipoclorito de sódio.
A seguir, a coroa foi seccionada na junção amelo-cementária
com o auxílio de um disco de carburundum em micro-motor.
Após
a remoção da coroa, a superfície externa da raiz foi
seca com jato de ar e impermeabilizada com esmalte incolor para unha.
Prosseguindo-se,
determinou-se por meio de uma micro-pipeta automática de 10 microlitros,
o volume de líquido necessário para preencher o canal do
radicular preparado (corpo de prova) e que foi de 30 microlitros.
Cones de papel absorvente: Os cones
de papel absorvente utilizados foram da marca KERR de calibre 45, 50, 55,
60 e 70. Pesaram-se, em uma balança de Precisão marca MLW,
tipo MP2O de procedência alemã, cinco cones de cada calibre
com o objetivo de verificar o peso médio dos cones de papel e comparar
o calibre com peso.
Cálculo do tempo para os
cones de papel serem completamente umectados pelas soluções
irrigantes: O cálculo de tempo necessário para ocorrer
a total umectação dos cones de papel no interior do canal
radicular (corpo de prova) correspondia ao tempo decorrido desde o momento
da colocação do cone de papel no interior do canal radicular
repleto de solução até o momento em que todo o cone
estava umectado. Para esse cálculo, utilizou-se de um cronômetro
e o tempo foi expresso em segundos.
Os testes do
tempo realizados usando-se os água, lauril dietilenoglicol a 0,1250%
e Dakin,
Esses líquidos foram introduzidos
no interior do canal radicular por meio de um micro-pipeta automática
tomando-se o cuidado de evitar bolhas de ar no interior do mesmo.
Para cada calibre de cones de papel
absorvente repetiu-se cinco vezes o experimento, a cada líquido
testado. Entre o teste de cada cone de papel, o canal era cuidadosamente
preenchido com o líquido em teste.
Cálculo
do número de cones necessários para secar completamente o
canal radicular: Para realizar esse teste procedeu-se do seguinte modo:
O corpo de prova foi totalmente preenchido com a solução
aquosa de lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio a
0.125 por cento e, a seguir, cones de papel do mesmo calibre eram colocados
no interior do canal radicular até obter-se a secagem completa do
mesmo. O tempo de permanência de cada corte de papel no interior
do 0canal radicular era de 12 segundos. Contava-se, a seguir, o número
de cortes gastos para secar o canal radicular.
Análise
do eleito da aspiração na secagem final do canal radicular:Para
essa análise procedeu-se do seguinte modo;
1 - Com aspiração
na cervical, O corpo de prova foi preenchido com lauril dietilenoglicol
éter sulfato de sódio a 0.125 por cento e, a seguir, a cânula
aspiradora foi colocada na entrada do canal radicular e acionada a aspiração
por cinco segundos. Após isso, cones de papel absorvente eram utilizados
para completar a secagem do canal e anotava-se quantos cones foram, ainda,
necessários para concluir a tarefa de secagem.
2 - Aspiração no
interior do canal radicular. O canal radicular foi preenchido com
a mesma solução irrigante e, a seguir, a cânula •espiradora
dotada a uma agulha (B-D) de calibre 6 foi introduzida no interior do canal
radicular e a aspiração foi ativada por cinco segundos. Durante
o tempo de aspiração, a agulha circulava pelo interior do
canal radicular. Findo esse tempo, com cones de papel absorvente, completou-se
a secagem do canal radicular.
Após a remoção
da coroa, a superfície externa da raiz foi seca com jato de ar e
impermeabilizada com esmalte incolor
RESULTADOS
A Tabela I expressa os pesos médios
em miligramas dos cones de papel absorvente de calibres 70, 60, 55, 50
e 45 da marca KERR.
Pesos médios dos cones
de papel absorventes
|
calibre
|
70
|
60
|
55
|
50
|
45
|
peso médio (mg)
|
12,2
|
11,2
|
9,4
|
7,8
|
7,6
|
A Tabela
II mostra a média dos tempos gastos,
em segundos, para os cones de papel absorvente serem completamente umectados
pelas soluções de lauril dietilenoglicol éter sulfato
de sódio a 0.125 por cento, líquido de Dakin e água
destilada-deionizada.
calibre dos cones
|
70
|
60
|
55
|
50
|
45
|
soluções
|
|
|
|
|
|
Água Destilada
|
11,8
|
16,4
|
25,8
|
14,2
|
14,2
|
Dakin(hipoclorito de sódio
0,5%)
|
10,4
|
18,2
|
28,4
|
17,4
|
12,8
|
Lauril dietilenoglicol éter
sulfato de sódio
|
6,8
|
11,8
|
20,5
|
15,0
|
10,8
|
A Tabela III mostra o número
de cones de papel absorvente usado para secar o canal radicular (corpo
de prova) nas seguintes situações;
a) uso somente de cones de papel
absorvente;
b) aspiração na região
cervical do canal radicular por cinco segundos e, a seguir, uso de cones
de papel absorvente para completar a secagem;
c) aspiração no interior
do canal radicular por cinco segundos e depois o uso de cones de papel
absorvente.
Tabela III números de cones
de papel absorventes utilizados
Calibre dos Cones
|
70
|
60
|
55
|
50
|
45
|
Só cones
|
4
|
4
|
5
|
5
|
5
|
Aspiração cervical
5 segundos
|
2
|
2
|
2
|
2
|
2
|
Aspiração no
interior do canal 5 segundos
|
1
|
1
|
1
|
1
|
1
|
DISCUSSÃO
O tempo médio
para os cones de papel absorvente serem completamente umectados com as
três soluções estudadas, foi menor quando se utilizou
cones de calibre próximo ao do canal. Em todos os casos, os cones
70 apresentaram um tempo médio de umectação menor
que os demais calibres e, dentre eles, o menor tempo médio foi obtido
quando se usou o lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio
a 0.125 por cento. O tensoativo favorece o contato entre o cone de papel
e o líquido propiciando sua melhor umectação.
Quando usou-se
cone de papel absorvente de calibre correspondente ao canal (70), o tempo
médio para o cone ser completamente umectado ‘pela solução
de lauríl dietilenoglicol éter sulfato de sódio foi
de 6,8 segundos e, o maior tempo médio foi obtido quando se usou
cones de calibre 55 (20,5 segundos).
Estes achados
repetiram-se com o Dakin e com a água, onde o cone de papel absorvente
70 gastou menos tempo para ser completamente umectado, ou seja, 10,4 e
11,8 segundos respectivamente. Os cones de calibre 55, nestes dois casos,
demoraram mais tempo para se umectar completamente com as soluções
irrigantes (28.4 e 25.8 segundos) respectivamente.
O líquido
de Dakin, apesar de apresentar tensão superficial bastante baixa,
31 din/cm segundo GUIMARÃES et alii3 (1988). não
possibilitou um tempo menor para o cone do papel absorvente ser umectado
completamente, quando comparado com o tempo gasto para o cone ser umectado
pela solução de lauril dietilenoglicol éter sulfato
de sódio. Isto pode ser devido ao fato de que o gás cloro
interfere, dificultando o contato do líquido com o cone de papel
absorvente.
O cone de papel
absorvente demora mais tempo para ser completamente umectado pela água,
quando comparado com o tempo gasto pelo cone ser completamente umectado
pelo tensoativo estudado. A água apresenta uma tensão superficial
de 72.72 din/cm, de acordo com GUIMARÃES et alii3 (1988).
o que dificulta a umectação, fato observado também
por PÉCORA et alii4 (1988).
Analisando-se
os tempos gastos para os cones de pape! absorvente serem umectados totalmente,
nota-se que com o uso do tensoativo aniônico (lauril dietilenoglicol
éter sulfato de sódio), este deve ficar compreendido entre
7 a 15 segundos. Com o uso do líquido de Dakin, deve-se deixar o
cone no interior do canal radicular por um tempo de 10 a 18 segundos.
O fato dos cones
de calibre 55 apresentarem um tempo longo para serem umectados pode ser
devido ao processo de fabricação, pois o papel ‘pode ser
de tipo diferente ou, ter sido mais compactado.
Quanto ao número
de cones necessários para secar o canal radicular (corpo de prova),
observa-se que quanto mais próximo o diâmetro do canal for
o cone de papel, menos cones serão necessários. Com o uso
da aspiração, somente na luz do canal, reduziu-se pela metade
o número de cones gastos e quando do uso da aspiração
no interior do canal radicular, reduziu-se em muito o número de
cones utilizados.
A aspiração
do interior do canal radicular não só retira mais o líquido,
como também propicia a passagem do ar no interior do mesmo, o que
por si só é um fator de secagem.
A observância
do tempo necessário que o cone de papel deve permanecer no interior
do canal radicular para ser completamente umectado reduz o número
de cones gastos, pois se este tempo não for observado e o profissional
deixar o cone de papel por menos tempo, certamente necessitará de
mais cones para remover a mesma quantidade de liquido. A capacidade de
absorção dos cones de papel deve ser explorada no máximo.
CONCLUSÕES
Com base na metodologia empregada
e resultados obtidos, pode-se concluir:
1 - Os cones de papel absorvente
gastam menos tempo para serem umectados pelo lauril dietilenoglicol éter
sulfato de sódio a 0,125%, do que pela água e pelo líquido
de Dakin.
2 - Os cones de papel absorvente
de calibre próximo ao canal radicular umectam-se mais rapidamente
e menos cones são necessários para secá-lo.
3 - Quanto maior a diferença
entre o diâmetro do canal e o calibre do cone de papel absorvente,
mais cones serão necessários para secar os canais radiculares.
4 - A aspiração na
região cervical do canal radicular por um tempo de cinco segundos
reduz em 50% o número de cones necessários para secá-lo.
5 - A aspiração no
interior do canal radicular por cinco segundos reduz em 750% o número
de cones de pape! absorvente necessário para secá-lo.
6 - Os cones de papel absorvente
devem ser deixados no interior do canal radicular até serem completamente
umectados, para se obter o máximo de rendimento.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
1. CALLAHAN, J.R. Sulfuric acid
for opening root-canals. D. Cosmos, 36(12): 957-9, Dec. 1894.
2. COSTA, W.F. Avaliação
da elevação da temperatura produzida pela reação
exortémica de algumas associações de substâncias
químicas utilizadas no preparo de canal radicular. Ribeirão
Preto, 1987, 147 p. (Tese de Livre-Docência – FORP-USP).
3. GUIMARÂES, L.F.L. et alii.
Tensão superficial de algumas soluções irrigantes
de canais radiculares. Rev. Odont. USP, 2(1 1:69, jan./mar. 1988.
(No prelo).
4. PECORA, J.D. et alii. Capacidade
de umectação dos tensoativos (aniônicos, catiônicos
e anfóteros); teste in vitro. Rev. Bras. Odont. 45(1):
22-25, jan./ fev. 1988.
5. PUCCI, F.M. Conductos radiculares.
Buenos
Aires. Médico-Quirurgica, 1945. v. 2.
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