Verificação do teor de cloro activo de diferentes marcas de liquido de Dkin encontrados no mercado
DETERMINATION
OF ACTIVE CHLORIDECONTENT IN DIFFERENTCOMERCIAL BRANDS OF DAKINS FLUID
Jesus
Djalma PÉCORA
Carlos
Alberto Ferreira MURGEL**
Luiz
Fernando Lopes GUIMARÃES***
Wanderley
Ferreira COSTA****
Trabalho
publicado na Rev. Odont. USP. 2(1(10.13. jan/mar 1988)
RESUMO
Verificou-se
por meio da titulometria, o teor de cloro ativo, de 16 marcas de liquido
de Dakin encontradas no mercado. das amostras testadas, 6 estavam com teor
de cloro ativo aceitável, ou seja, entre 0.64 a 0.40 por cento.
Dez amostras apresentavam-se com teor de cloro abaixo de 0.40 por cento.
A embalagem em plástico foi a predominante e entre elas, as transparentes.
UNITERMOS:
Liquido de Dakin, teor de cloro: Endodontia.
INTRODUÇÃO
Na
busca do sucesso no tratamento endodôntico, uma importância
particular é dada à eliminação de detritos
orgânicos do interior do canal radicular, pois sua decomposição
favorece a presença de substrato para a proliferação
de microorganismos.
A
eliminação desses detritos orgânicos é realizada
em grande parte pela ação puramente mecânica dos instrumentos
durante o preparo biomecãnico. Ao juntar-se uma solução
irrigante durante o ato mecânico, propicia-se uma melhora considerável
na limpeza, visto que à ação física de circulação
do líquido pelo interior do canal radicular, associa-se a ação
química.
A
ação química de solvência de tecidos, de poder
antisséptico e sua característica físico-química
de baixa tensão superficial faz da solução irrigante
um auxiliar imprescindível.
Das
soluções capazes de dissolver tecidos necróticos,
as diferentes concentrações de hipoclorito de sódio,
são as mais utilizadas.
WALKER
15(1936)
propôs o uso da soda clorada duplamente concentrada - hipoclorito
de sódio a 5% - como solução irrigante de canais
radiculares.
GRQSSMAN
& MEIMAN8 (1941) analisaram várias soluções
irrigantes utilizadas, observaram que a solução proposta
por WALKER (1936) apresentava excelente capacidade de solvência de
tecido orgânico e, com base neste estudo, GRQSSMAN6 (1943)
preconizou a técnica de irrigação de canais radiculares,
alternando-se o hipoclorito de sódio a 5% com a água oxigenada
10 volumes.
Desde
então o hipoclorito de sódio, em suas mais variadas concentrações,
tem sido utilizado na irrigação de canais radiculares.
DAKIN
5(1915)
estudou o efeito do hipoclorito de sódio na cura de feridas e observou,
que mesmo diluída, a solução irritava a ferida e retardava
a cura. Em suas pesquisas notou que a grande quantidade de hidróxido
de sódio presente na solução era responsável
pela ação irritante e propôs a acidulação
da solução de hipoclorito de sódio a 0.5 por cento
com o ácido bórico até um pH próximo do neutro.
Com isso, o autor diminuiu a ação irritante do produto. Essa
solução de hipoclorito de sódio a 0.5 por cento, acidulado
com ácido bórico, ficou conhecida como líquido de Dakin.
DAKIN15
(1915) chama atenção para o fato de que a solução
de hipoclorito de sódio a 0.5 por cento de cloro ativo por 100 ml
com pH próximo do neutro, apresenta um ‘shelf-life" muito pequeno
e aconselha embalar o produto em vidro âmbar e armazena-lo em ambiente
fresco e isento de luz.
Inúmeros
trabalhos foram realizados com o intuito de analisar a eficiência
do hipoclorito de sódio na solvência de tecidos orgânicos.
GROSSMAM & MEIMAN8 (1941), SENIA etlii (1971),TREPAGNIER
et alii 14 (1977), CUNNINGHAN & BALAKJIAN3 (1980).
A ação do hipoclorito de sódio sobre os microorganismos
foram pesquisados por INGLE & ZELDON 9(1958), GROSSMAN 7‘
(1960), STEWART et alii 3 (1961), ANTONIAZZI 2 (1973),
CUNNINGHAN & JOSEPH 4(1980).
CUNNINGHAN
& JOSEPH 4(1980) concluíram em suas pesquisas que
a característica bactericida do hipoclorito de sódio é
muito eficiente, porém o "shelf-life" da solução é
curto quando a mesma é aquecida a 37 graus centígrados.
WENNBERG
16(1980)
estudando exaustivamente a biocompatibilidade de várias soluções
irrigantes cita o hipoclorito de sódio a 0.5 por cento como uma
das menos irritantes.
PÉCQRA
10
(1985) verificou que as soluções de hipoclorito de sódio
a 5.0, 1.0 e 0.5 por cento aumentam consideravelmente a permeabilidade
da dentina radicular nos seus diferentes terços.
PÉCORA
et alii11 (1987) observaram que a temperatura e luz influem
na conservação do líquido de Dakin, alterando a sua
concentração de cloro, mesmo quando o produto é conservado
em vidro âmbar à temperatura ambiente.
No
mercado verifica-se que o líquido de Dakin apresenta-se inserido
nos mais diferentes tipos de embalagens; em vidros ou em plásticos
coloridos ou transparentes sem qualquer controle de armazenagem por parte
dos fabricantes, que não indicam seu período de validade
e data de fabricação.
O
objetivo do presente trabalho consiste em analisar o teor de cloro ativo
presente nas diferentes marcas de líquido de Dakin encontrados no
mercado, ou seja, o teor de cloro ativo do produto no momento de sua aquisição
pelo consumidor.
MATERIAL
E MÉTODO
A
tabela 1 lista os produtos adquiridos, bem como a firma produtora, local
de fabricação e tipo de embalagem. Essas 16 marcas foram
adquiridas em Ribeirão Preto. Campinas e São Paulo em drogarias
e casas de materiais dentários.
Tabela
1 – Líquido de Dakin pesquisado, segundo a procedência
e embalagens
Após
a aquisição dos produtos, o pH dos mesmos foi aferido no
Laboratório de Endodontia da FORP-USP, em um "pH-meter’ marca Digimed
e a seguir, o teor de cloro ativo foi avaliado por meio da titulometria
(iodometria), AMARAL 1 (1967).
Cada
produto foi titulado por três vezes consecutivas e as médias
dessas titulações estão expressas na tabela II.
RESULTADOS
A
tabela II, indica, em uma referência numérica, os diferentes
líquidos de Dakin, suas concentrações de cloro e seus
respectivos pH.
O
Gráfico
1, mostra as porcentagens de caso onde o produto estava com teor de
cloro entre 0.64 a 0.40, entre 0.40 e 0.20 e os que estavam abaixo de 0.20
por cento de cloro ativo por 100 ml
O
Gráfico
2 relaciona a porcentagem de acordo com cada tipo de embalagem.
DISCUSSÃO
Quando
as soluções de hipoclorito ou de ácido hipocloroso
livre, atuam em substâncias orgânicas que apresentam = NH,
a reação quase sempre, consiste na substituição
do hidrogênio do grupo protêico pelo cloro, com a formação
de substâncias conhecidas como cloraminas, que são poderosos
anti-sépticos. A ação anti-séptica do hipoclorito,
sem dúvida, depende deste tipo de reação, DAKIN5
(1915).
Com
a perda do teor de cloro tem-se essa capacidade diminuída interferindo,
portanto, na sua ação antimicrobiana e na capacidade de solvência
de tecidos necróticos,
Por
outro lado, nas reações de neutralização, onde
se busca processo de efervescência, a diminuição do
teor de cloro faz com que essa reação se processe menos intensamente,
Foto
1.
Foto
1-A foto evidencia uma reação de efervescência
entre o hipoclorito de sódio e a água oxigenada. O tubo de
ensaio da esquerda mostra uma reação de efervescência
entre um líquido de Dakin a O,5% com a água oxigenada 10
volumes.
Supõe-se
que todos os Laboratórios produtores de liquido de Dakin o façam
dentro da especificação, com teor de cloro exato, mas o produto
é armazenado durante muito tempo e isto, inevitavelmente, acarreta
a perda do teor de cloro ativo, pois o hipoclorito de sódio é
um produto instável pela sua própria natureza química.
PÉCORA
et alii 11 (1987), observaram que quando o líquido de
Dakin é armazenado em geladeira e embalado em vidro âmbar,
a perda de cloro é de 25 por cento após um período
de 122 dias e quando mantidos à temperatura ambiente a perda é
de 69 por cento no mesmo período.
Das
marcas adquiridas no mercado, apenas 6 apresentavam teor de cloro ativo
entre 0.64 a 0.40 (Casa Granado, FORP-USP, lndafarma, Labormarx, Drogasil
e Grambert), 5 apresentavam-se com teor de cloro entre 0.40 a 0.20 e 5
apresentavam-se com teor abaixo de 0.20 por cento.
A
embalagem preferida pelos Laboratórios é o frasco de plástico
(620/o) e a cor mais empregada é a transparente, ver
gráfico 2.
Em
apenas 4 casos observou-se a colocação da data de fabricação
do produto na embalagem. Essa informação é de vital
importância para o consumo, pois sabendo-se que o produto é
instável e que a perda de cloro é de 69 por Dento quando
armazenado à temperatura ambiente por um período de 122 dias,
PÉCORA et alii11(1987), o consumidor poderá optar
pela compra ou não do produto. O consumidor poderá descartar
o produto que se apresentar fora do período de validade.
Os
resultados evidenciam também a grande quantidade (5 casos) de líquido
Dakin com teor de cloro abaixo de 0.20 por cento, ou seja, de um produto
completamente fora de suas especificações.
O
uso de um hipoclorito de sódio- líquido de Dakin -com baixo
teor de cloro ativo pode, sem dúvida, acarretar insucesso na terapêutica
endodôntica.
CONCLUSÕES
Com
base nos resultados e na metodologia empregada pode-se concluir:
1 -Falta controle de qualidade nos líquidos de Dakin encontrados no
mercado.
2 -Falta especificação nos rótulos dos produtos quanto
a data de fabricação e validade.
3 -Das 16 marcas analisadas apenas 6 apresentaram-se com teor de cloro ativo
próprio para uso em Endodontia, ou seja, com teor de cloro entre
0.64 a 0.40,
4
-A embalagem predominante no mercado é a de plástico transparente.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1.-AMARAL,
L. Trabalhos práticos de química. 4. ed. São Paulo,
Nobel, 1967. p. 68-71. v. 3.
2.-ANTONIAZZI, J.H. Análise In vitro da atividade antimicrobiana de algumas substâncias
auxiliares da instrumentação no preparo químico-mecânico
de canais radiculares de dentes humanos. Ribeirão Preto, 1973. [Tese-Doutorado
- Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP].
3.-CUNNINGHAN, W.T. & BALAKJIAN, A.Y. Effect of temperature con collagen dissolving
ability of so. dium hypochlorite endodontic irrigant. Oral Surg., 49(2):
175-7, Feb. 1980.
4.-CUNNINGHAN, W.T. & JOSEPH, 5W. Effect of temperature on the bactericidal action
of sodium hypochlorite endodontic irrigant. Oral Surg., 50(6): 569-71.
Dec. 1980.
5.-DAKIN, H.D. On the use certain antisseptic substances in the treatment of infected
wounds. Brit. med. J., 28(2): 318-20, Aug. 1915.
6.-GROSSMAN,
LI. irrigation of root canais. J. Amer. dent. Ass., 30(12): 1915-7, Dec.
1943.
7.-GROSSMAN,
L.I. Endodontic treatment of puipless. .1. Amer. dent. Ass., 61(6): 671-6,
Oct. 1960.
8.-GROSSMAN,
L.l. & MEIMAN, B.N. Solution of pulp tissue by chemical agents. J.
Amer. dent. Ass.. 28(2): 223-5, Feb. 1941.
9
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and negative culture in endodontic therapy. J. Amer. dent. Ass,, 57(4):
471-6. Oct. 1958.
10.-PÉCORA,
J.D. Contribuição ao estudo da permeabilidade dentinária
radicular. Apresentação de um método histo químico
e análise mor fométrica. Ribeirão Preto, 1985. (Tese-mestrado-Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto-USP].
11
- PÉCORA, J.D. et alii. Estudo sobre o "shelf-iife" da solução
de Dakin. Rev. Odont. USP, 1(1): 4-7, jan./mar. 1987.
12
- SENIA, SE. et alii. lhe solvent action of sodium hypochlorite on puip
of extracted teeth. Oral Surg., 31(1): 96-103, Jan. 1971.
13
- STEWART, G.G. et alii. A study of a new medicament in the chimomechanical
preparation in infected root canal. J. Amer. dent. Ass., 63(2): 33-7, July.
1961.
14
- TREPAGNIER, C.M. et alii. Quantative study of sodium hipochlorite as
an in vitro endodontic irrigant. J. Endod. 3(5): 194-6, May. 1977.
15
- WALKER, A. A definitive and dependabie therapy for pulpless teeth. J.
Amer. dent. Ass., 33(2): 1418 25, Aug. 1936.
16
- WENNBERG, A. Biological evaluation of root canal antiseptics using in
vitro and in vivo methods. Scand. J. dent. Res., 88(1): 46-56, Feb. 1980.
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1999 Update
15/sept, 1999
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