|
Estudo sobre o Shelf Life da solução de Dakin
STUDY ON THE SHELF
LIFE OF DAKIN SOLUTION
J.
D. PÉCORA; C. A. F. MURGEL, R. N. SAVIOLI; W.F. COSTA; LP. VANSAN
Rev.
Odont. USP, 1(1):3-7, jan./mar. 1987.
Departamento
de Odontologia Restauradora — Disciplina de Endodontia FORP-USP.
Resumo
Foi
estudado por meio da titulometria a perda do teor de cloro da solução
de Dakin quando estocada em vidro ambar, mantida à temperatura ambiente,
exposta à luz solar e na geladeira (90C). Verificou-se
que a solução de Dakin quando exposta à luz solar
perdeu 79,11% do teor de cloro ativo em 122 dias, à temperatura
ambiente a perda do teor de cloro foi de 62,69% e quando armazenada na
geladeira, ou seja, a 9 graus centígrados a perda foi somente de
22,39% no mesmo período.
SUMMARY
Studied
by titrimetry the Ioss of chloride content in Dakin solution stored mn
an ambercolored glass boottle and maintained at roorn temperature, or exposed
to sunlight, or kep in the refrigerator at 90C. Dakin solution
exposed to sunlight Iost 79.l10/o of its active chloride
content within 122 days. When the solution was maintained at room temperature,
the loss of chloride content was 62.69%, and when it was stored in the
refrigerator at 9.0C, the loss was only 22.39% winthin the sarne
period of time.
UNITERMOS:
Líquido de Dakin, teor de cloro ,armazenagem, shelf-life.
INTRODUÇÃO
As
soluções de hipoclorito de sódio, em diversas concentrações
são muito utilizadas na irrigação do canal radicular.
PUCCI17
(1945)
relata que as soluções de hipoclorito de sódio tiveram
início com a água de JAVELLE (1792), que consistia em uma
solução de hipoclorito de sódio e potássio.
Em 1820 surgiu o licor de Labaraque, uma solução de hipoclorito
de sódio a 5 por cento de cloro ativo por 100 ml.
DAKIN6
(1915)
salientou que para se fazer uma escolha de um anti-séptico para
tratamento de ferida infectada deve ser considerado muitos fatores em adição
a atividade germicida. Esses fatores são: propriedades irritantes
das substâncias, toxicidade, solubilidade, capacidade de penetrar
nos tecidos e ser absorvida e, ainda, suas reações químicas
com proteína e outros constituintes do tecido. O mesmo autor cita
que o hipoclorito de sódio tem uma grande ação germicida
e tem outras propriedades desejáveis. Porém, o hipoclorito
de sódio apresenta composição extremamente variável,
contendo alcali livre, sendo conseqüentemente um irritante quando
aplicado em feridas. O autor ainda chama atenção para o fato
de que mesmo uma solução de hipoclorito de sódio dita
neutra, têm uma reação alcalina. Este fato é
devido não somente ao alcali livre que pode permanecer em virtude
do processo de preparação, mas também pelo fato de
que o hipoclorito de sódio em solução sofre uma dissociação
iônica dando hidróxido de sódio e ácido hipocloroso:
NaOCI
+ H2O Ü>
NaOH + HCIO + Cl2
DAKIN6
(1915)
propõe uma solução de hipoclorito de sódio
de 0,5 a 0,6 por cento de cloro ativo por 100 ml, com ácido bórico
para reduzir o pH, deixando a solução com pH próximo
do neutro. A adição de ácido bórico reduz o
pH e proporciona menor quantidade de hidróxido de sódio livre,
diminuindo, assim, o efeito irritante do hipoclorito de sódio. O
autor reforça o fato de que a solução proposta é
instável e não deve ser armazenada por muito tempo e deve
ser embalada em vidro ambar e conservada em lugar fresco com ausência
de luz incidente.
A
solução proposta por DAKIN6 (1915) foi aceita
rapidamente na Odontologia, BARRET2 (1917) propôs seu
uso para irrigar bolsas periodontais.
A
grande divulgação da solução de hipoclorito
de sódio a 5 por cento, para uso na irrigação do canal
radicular começa com WALKER23 (1936).
GROSSMAN
& MEIMAN10 (1941) realizaram investigações
sobre a capacidade de solvência de tecido com diversas soluções
irrigantes utilizadas e concluíram que a solução de
hipoclorito de sódio a 5 por cento proposta por WALKER23 (1936)
apresentou melhor resultados.
GROSSMAN9
(1943),
apresentou um método para a irrigação do canal radicular
que consiste em alternar a irrigação de hipoclorito de sódio
a 5 por cento com peróxido de hidrogênio a 30/o. Essa alternância
produz uma reação efervescente, favorecendo a eliminação
de "debris". Essa técnica vem se mantendo por mais de quatro décadas.
STEWART
et alii2’ (1969) propuseram um creme para ser utilizado como
substância auxiliar de instrumentação do canal radicular.
Neste creme se goteja hipoclorito de sódio a 50/o, que
produz uma reação efervescente. Este creme foi identificado
comercialmente como RC-Prep e tem a seguinte composição:
Carbowax, EDTA e Peróxido de uréia.
PAIVA
& ANTONIAZZI’5 (1973) propuseram o uso de um creme ENDO-PTC
com a seguinte composição: Carbowax, Tween 80 e Peróxido
de uréia. Esse creme é neutralizado pelo líquido de
DAKIN, dando também, uma reação de efervescência.
Durante
muitos anos as soluções de hipoclorito de sódio em
diversas concentrações vem sendo usadas para a irrigação
de canal radicular. Os livros textos explicam o processo de fabricação
do hipoclorito de sódio a 5%.
A
obtenção do líquido de Dakin pode ser realizado de
acordo com a proposta do autor (19 15).
As
soluções de hipoclorito de sódio foram muito estudadas
durante todos esses anos.
GRQSSMAN
& MEIMAN10 (1941), SENIA et alii18 (1971), TREPAGNIER
et alii22 (1977), HAND et alii11 (1978), WAYMAN et
alii24 (1979) e GORDON et alii8 (1981), estudaram
o efeito do hipoclorito de sódio em dissolver tecido pulpar.
Quanto
a ação bactericida, o hipoclorito de sódio foi estudado
por COBE3 (1960), STEWART et alii (1961), LUEBKE’3 (1967),
LEONARDO2 (1968), SHIH et alii19 (1970) e ANTONIAZZI1
(1973).
A
capacidade de aumentar a permeabilidade foi estudada por MARSHALL et alii14
(1960),
COHEN4 (1970), FROIS et alii7 (1981), PECORA6
(1985).
COSTA5
(1987)
verificou que as soluções de hipoclorito de sódio
ao reagir com o Rc-Prep, ENDO-PTC e peróxido de hidrogênio,
além de produzir efervescência, produz concomitantemente uma
reação exotérmica.
Em
virtude do líquido de Dakin ser uma solução irrigante
de canal radicular muito utilizado no Brasil e a sua produção
depender da indústria, o que acarreta um armazenamento do produto
por muito tempo até chegar ao consumo, o objetivo do presente trabalho
consiste em estudar o Shelf life desse produto quando armazenado em vidro
ambar e estocado em diferentes condições de temperatura.
MATERIAL
E MÉTODO
O
líquido de Dakin usado no presente trabalho, foi aviado no Laboratório
de Endodontia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP.
Os
produtos químicos utilizados no preparo do líquido de Dakin
estão listados na tabela 1.
Tabela
1 — Produtos utilizados para o preparo do Líquido de Dakin.
Hipoclorito
de cálcio |
B-Herzog |
Ca(OCI)2 |
Carbonato
de sódio anidro |
Vetec |
NaCO3 |
Ácido
bório |
Reagen |
H3BO3 |
Modo
de preparo do Líquido de Dakin:
Determinou-se,
em primeiro lugar, o teor de cloro do hipoclorito de cálcio. A titulometria
evidenciou um teor de 65% de cloro ativo por 100 ml.
Uma
vez obtido o teor de cloro do hipoclorito de cálcio, proporcionou-se
as fórmulas e realizou-se o seguinte:
Pesou-se
100
gramas de hipoclorito de cálcio e colocou em um gral de porcelana
e triturou-o até ficar em partículas bem finas. A seguir
colocou-o em 8 litros de água destilada. A solução
foi agitada de tempos em tempos e deixada em repouso por uma noite.
Decorrido
esse tempo pesou-se 70 gramas de carbonato de sódio anidro e dissolveu-se
em dois litros de água destilada.
A
solução de hipoclorito de cálcio foi removida do recipiente
que a continha por meio de sifão, desprezando o resíduo.
Em seguida, encorpora-se à mesma, a solução de carbonato
de sódio. Após a mistura das duas soluções,
a solução resultante foi agitada de tempos em tempos e a
seguir deixada em repouso por duas horas.
O
carbonato de cálcio precipita no fundo do recipiente e a solução
de hipoclorito de sódio é removida por meio de sifão
e a seguir foi filtrada através de algodão.
Após
a filtragem da solução de hipoclorito de sódio, mediu-se
o pH, em um "pH meter" marca Analion, que indicou o pH 11.
A
seguir, sob agitação constante, foi adicionado à solução
de hipoclorito de sódio, ácido bórico (40 gramas)
indicando pH 9,20 após sua total dissolução.
Para
revelar o teor de cloro da solução de hipoclorito de sódio
preparado procedeu-se a titulometria, a qual indicou um teor de O,67% de
cloro ativo por 100 ml.
A
solução de hipoclorito de sódio 0,67% de cloro ativo
por 100 ml com pH 9,20 foi embalada em vidro ambar dotado de tampa e batoque.
Selecionou-se
3 frascos de 500 ml cada para o estudo das perdas do teor de cloro. Esses
frascos foram colocados em lugares diferentes dentro do laboratório.
Um frasco foi colocado na parte inferior da geladeira (90C),
outro foi colocado em um lugar fresco e à sombra e o último
frasco foi colocado em frente ao vitroux, onde recebia luz solar direta.
Após
7, 32, 45, 52, 67, 80 e 122 dias realizou-se a titulometria da solução
de hipoclorito de sódio das suas diferentes formas de armazenagem.
A
titulometria utilizada foi a da iodometria.
O
teor de cloro, para cada situação, era expresso após
obter uma média de três titulações.
RESULTADOS
A
tabela 2 indica as médias do teor de cloro obtidos nas três
condições de temperatura.
Tabela
2 — Médias do teor de cloro ativo.
Dias
|
Teor
de Cloro
|
Geladeira
|
Ambiente
|
Luz
Solar Direta
|
|
O
|
0,67
|
0,67
|
0,67
|
7
|
0,67
|
0,60
|
0,60
|
32
|
0,62
|
0,43
|
0,34
|
45
|
0,62
|
0,37
|
0,28
|
52
|
0,57
|
0,34
|
0,22
|
67
|
0,57
|
0,30
|
0,22
|
80
|
0,57
|
0,27
|
0,20
|
122
|
0,52
|
0,25
|
0,14
|
Observando
a tabela 3 nota-se que ocorre uma perda substâncial do teor de cloro
(490/a em 32 dias) quando o produto é armazenado em local onde há
luz solar direta. Observa-se, também que mesmo à temperatura
ambiente e em lugar fresco, têm-se uma grande perda de cloro, (49
por cento em 52 dias).
Quando
o produto é armazenado na geladeira ou seja na ausência de
luz e à baixa temperatura (90C), a perda do teor de cloro
foi de apenas 22,39 por cento em 122 dias.
A
tabela 3 evidencia a porcentagem de cloro e a respectiva perda nas diferentes
condições de armazenagem e nos tempos estudados.
STUDY ON THE SHELF
LIFE OF DAKIN SOLUTION
J.
D. PÉCORA; C. A. F. MURGEL, R. N. SAVIOLI; W.F. COSTA; LP. VANSAN
Rev.
Odont. USP, 1(1):3-7, jan./mar. 1987.
Departamento
de Odontologia Restauradora — Disciplina de Endodontia FORP-USP.
Resumo
Foi
estudado por meio da titulometria a perda do teor de cloro da solução
de Dakin quando estocada em vidro ambar, mantida à temperatura ambiente,
exposta à luz solar e na geladeira (90C). Verificou-se
que a solução de Dakin quando exposta à luz solar
perdeu 79,11% do teor de cloro ativo em 122 dias, à temperatura
ambiente a perda do teor de cloro foi de 62,69% e quando armazenada na
geladeira, ou seja, a 9 graus centígrados a perda foi somente de
22,39% no mesmo período.
SUMMARY
Studied
by titrimetry the Ioss of chloride content in Dakin solution stored mn
an ambercolored glass boottle and maintained at roorn temperature, or exposed
to sunlight, or kep in the refrigerator at 90C. Dakin solution
exposed to sunlight Iost 79.l10/o of its active chloride
content within 122 days. When the solution was maintained at room temperature,
the loss of chloride content was 62.69%, and when it was stored in the
refrigerator at 9.0C, the loss was only 22.39% winthin the sarne
period of time.
UNITERMOS:
Líquido de Dakin, teor de cloro ,armazenagem, shelf-life.
INTRODUÇÃO
As
soluções de hipoclorito de sódio, em diversas concentrações
são muito utilizadas na irrigação do canal radicular.
PUCCI17
(1945)
relata que as soluções de hipoclorito de sódio tiveram
início com a água de JAVELLE (1792), que consistia em uma
solução de hipoclorito de sódio e potássio.
Em 1820 surgiu o licor de Labaraque, uma solução de hipoclorito
de sódio a 5 por cento de cloro ativo por 100 ml.
DAKIN6
(1915)
salientou que para se fazer uma escolha de um anti-séptico para
tratamento de ferida infectada deve ser considerado muitos fatores em adição
a atividade germicida. Esses fatores são: propriedades irritantes
das substâncias, toxicidade, solubilidade, capacidade de penetrar
nos tecidos e ser absorvida e, ainda, suas reações químicas
com proteína e outros constituintes do tecido. O mesmo autor cita
que o hipoclorito de sódio tem uma grande ação germicida
e tem outras propriedades desejáveis. Porém, o hipoclorito
de sódio apresenta composição extremamente variável,
contendo alcali livre, sendo conseqüentemente um irritante quando
aplicado em feridas. O autor ainda chama atenção para o fato
de que mesmo uma solução de hipoclorito de sódio dita
neutra, têm uma reação alcalina. Este fato é
devido não somente ao alcali livre que pode permanecer em virtude
do processo de preparação, mas também pelo fato de
que o hipoclorito de sódio em solução sofre uma dissociação
iônica dando hidróxido de sódio e ácido hipocloroso:
NaOCI
+ H2O Ü>
NaOH + HCIO + Cl2
DAKIN6
(1915)
propõe uma solução de hipoclorito de sódio
de 0,5 a 0,6 por cento de cloro ativo por 100 ml, com ácido bórico
para reduzir o pH, deixando a solução com pH próximo
do neutro. A adição de ácido bórico reduz o
pH e proporciona menor quantidade de hidróxido de sódio livre,
diminuindo, assim, o efeito irritante do hipoclorito de sódio. O
autor reforça o fato de que a solução proposta é
instável e não deve ser armazenada por muito tempo e deve
ser embalada em vidro ambar e conservada em lugar fresco com ausência
de luz incidente.
A
solução proposta por DAKIN6 (1915) foi aceita
rapidamente na Odontologia, BARRET2 (1917) propôs seu
uso para irrigar bolsas periodontais.
A
grande divulgação da solução de hipoclorito
de sódio a 5 por cento, para uso na irrigação do canal
radicular começa com WALKER23 (1936).
GROSSMAN
& MEIMAN10 (1941) realizaram investigações
sobre a capacidade de solvência de tecido com diversas soluções
irrigantes utilizadas e concluíram que a solução de
hipoclorito de sódio a 5 por cento proposta por WALKER23 (1936)
apresentou melhor resultados.
GROSSMAN9
(1943),
apresentou um método para a irrigação do canal radicular
que consiste em alternar a irrigação de hipoclorito de sódio
a 5 por cento com peróxido de hidrogênio a 30/o. Essa alternância
produz uma reação efervescente, favorecendo a eliminação
de "debris". Essa técnica vem se mantendo por mais de quatro décadas.
STEWART
et alii2’ (1969) propuseram um creme para ser utilizado como
substância auxiliar de instrumentação do canal radicular.
Neste creme se goteja hipoclorito de sódio a 50/o, que
produz uma reação efervescente. Este creme foi identificado
comercialmente como RC-Prep e tem a seguinte composição:
Carbowax, EDTA e Peróxido de uréia.
PAIVA
& ANTONIAZZI’5 (1973) propuseram o uso de um creme ENDO-PTC
com a seguinte composição: Carbowax, Tween 80 e Peróxido
de uréia. Esse creme é neutralizado pelo líquido de
DAKIN, dando também, uma reação de efervescência.
Durante
muitos anos as soluções de hipoclorito de sódio em
diversas concentrações vem sendo usadas para a irrigação
de canal radicular. Os livros textos explicam o processo de fabricação
do hipoclorito de sódio a 5%.
A
obtenção do líquido de Dakin pode ser realizado de
acordo com a proposta do autor (19 15).
As
soluções de hipoclorito de sódio foram muito estudadas
durante todos esses anos.
GRQSSMAN
& MEIMAN10 (1941), SENIA et alii18 (1971), TREPAGNIER
et alii22 (1977), HAND et alii11 (1978), WAYMAN et
alii24 (1979) e GORDON et alii8 (1981), estudaram
o efeito do hipoclorito de sódio em dissolver tecido pulpar.
Quanto
a ação bactericida, o hipoclorito de sódio foi estudado
por COBE3 (1960), STEWART et alii (1961), LUEBKE’3 (1967),
LEONARDO2 (1968), SHIH et alii19 (1970) e ANTONIAZZI1
(1973).
A
capacidade de aumentar a permeabilidade foi estudada por MARSHALL et alii14
(1960),
COHEN4 (1970), FROIS et alii7 (1981), PECORA6
(1985).
COSTA5
(1987)
verificou que as soluções de hipoclorito de sódio
ao reagir com o Rc-Prep, ENDO-PTC e peróxido de hidrogênio,
além de produzir efervescência, produz concomitantemente uma
reação exotérmica.
Em
virtude do líquido de Dakin ser uma solução irrigante
de canal radicular muito utilizado no Brasil e a sua produção
depender da indústria, o que acarreta um armazenamento do produto
por muito tempo até chegar ao consumo, o objetivo do presente trabalho
consiste em estudar o Shelf life desse produto quando armazenado em vidro
ambar e estocado em diferentes condições de temperatura.
MATERIAL
E MÉTODO
O
líquido de Dakin usado no presente trabalho, foi aviado no Laboratório
de Endodontia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP.
Os
produtos químicos utilizados no preparo do líquido de Dakin
estão listados na tabela 1.
Tabela
1 — Produtos utilizados para o preparo do Líquido de Dakin.
Hipoclorito
de cálcio |
B-Herzog |
Ca(OCI)2 |
Carbonato
de sódio anidro |
Vetec |
NaCO3 |
Ácido
bório |
Reagen |
H3BO3 |
Modo
de preparo do Líquido de Dakin:
Determinou-se,
em primeiro lugar, o teor de cloro do hipoclorito de cálcio. A titulometria
evidenciou um teor de 65% de cloro ativo por 100 ml.
Uma
vez obtido o teor de cloro do hipoclorito de cálcio, proporcionou-se
as fórmulas e realizou-se o seguinte:
Pesou-se
100
gramas de hipoclorito de cálcio e colocou em um gral de porcelana
e triturou-o até ficar em partículas bem finas. A seguir
colocou-o em 8 litros de água destilada. A solução
foi agitada de tempos em tempos e deixada em repouso por uma noite.
Decorrido
esse tempo pesou-se 70 gramas de carbonato de sódio anidro e dissolveu-se
em dois litros de água destilada.
A
solução de hipoclorito de cálcio foi removida do recipiente
que a continha por meio de sifão, desprezando o resíduo.
Em seguida, encorpora-se à mesma, a solução de carbonato
de sódio. Após a mistura das duas soluções,
a solução resultante foi agitada de tempos em tempos e a
seguir deixada em repouso por duas horas.
O
carbonato de cálcio precipita no fundo do recipiente e a solução
de hipoclorito de sódio é removida por meio de sifão
e a seguir foi filtrada através de algodão.
Após
a filtragem da solução de hipoclorito de sódio, mediu-se
o pH, em um "pH meter" marca Analion, que indicou o pH 11.
A
seguir, sob agitação constante, foi adicionado à solução
de hipoclorito de sódio, ácido bórico (40 gramas)
indicando pH 9,20 após sua total dissolução.
Para
revelar o teor de cloro da solução de hipoclorito de sódio
preparado procedeu-se a titulometria, a qual indicou um teor de O,67% de
cloro ativo por 100 ml.
A
solução de hipoclorito de sódio 0,67% de cloro ativo
por 100 ml com pH 9,20 foi embalada em vidro ambar dotado de tampa e batoque.
Selecionou-se
3 frascos de 500 ml cada para o estudo das perdas do teor de cloro. Esses
frascos foram colocados em lugares diferentes dentro do laboratório.
Um frasco foi colocado na parte inferior da geladeira (90C),
outro foi colocado em um lugar fresco e à sombra e o último
frasco foi colocado em frente ao vitroux, onde recebia luz solar direta.
Após
7, 32, 45, 52, 67, 80 e 122 dias realizou-se a titulometria da solução
de hipoclorito de sódio das suas diferentes formas de armazenagem.
A
titulometria utilizada foi a da iodometria.
O
teor de cloro, para cada situação, era expresso após
obter uma média de três titulações.
RESULTADOS
A
tabela 2 indica as médias do teor de cloro obtidos nas três
condições de temperatura.
Tabela
2 — Médias do teor de cloro ativo.
Dias
|
Teor
de Cloro
|
Geladeira
|
Ambiente
|
Luz
Solar Direta
|
|
O
|
0,67
|
0,67
|
0,67
|
7
|
0,67
|
0,60
|
0,60
|
32
|
0,62
|
0,43
|
0,34
|
45
|
0,62
|
0,37
|
0,28
|
52
|
0,57
|
0,34
|
0,22
|
67
|
0,57
|
0,30
|
0,22
|
80
|
0,57
|
0,27
|
0,20
|
122
|
0,52
|
0,25
|
0,14
|
Observando
a tabela 3 nota-se que ocorre uma perda substâncial do teor de cloro
(490/a em 32 dias) quando o produto é armazenado em local onde há
luz solar direta. Observa-se, também que mesmo à temperatura
ambiente e em lugar fresco, têm-se uma grande perda de cloro, (49
por cento em 52 dias).
Quando
o produto é armazenado na geladeira ou seja na ausência de
luz e à baixa temperatura (90C), a perda do teor de cloro
foi de apenas 22,39 por cento em 122 dias.
A
tabela 3 evidencia a porcentagem de cloro e a respectiva perda nas diferentes
condições de armazenagem e nos tempos estudados.
Tabela
3 - Porcentagem de cloro e a respectiva perda nas diferentes condiçées
de armazenagem.
DISCUSSÃO
Para
que o tratamento endodôntico seja bem sucedido faz-se necessários
que limpeza e desinfecção do canal radicular seja bem efetuada.
O preparo químico mecânico deve ser realizado dentro dos princípios
da técnica e é claro que o profissional deve ter confiança
no produto químico que está sendo utilizado.
O
líquido de Dakin é um produto instável com perda considerável
de cloro dependendo das condições de armazenagem, logo, o
profissional, sabendo disto, deve providenciar e trabalhar com solução
recém-preparada.
Nem
sempre isto é observado e o profissional pode trabalhar com soluções
sem o teor de cloro desejável perdendo dessa maneira o proposito
para o qual ela é empregada.
DAKIN6
(1915)
chamava atenção para o fato de instabilidade do produto e
recomendava que a solução fosse sempre récem preparada.
Como nem sempre isto é possível aos profissionais de Endodontia,
recomenda-se que conservem o líquido de Dakin em geladeira pois
desta forma conserva-se o produto com o teor de cloro em que ele foi adquirido,
pelo menos por um prazo de 120 dias. A perda neste período, quando
conservado em geladeira é pequena.
A
produção do líquido de Dakin é extremamente
fácil e simples, e toda Faculdade de Odontologia ou Cursos de Especialização
que o preconizar, podem aviá-lo sem grandes problemas.
A
Disciplina de Endodontia — FORP-USP, produz líquido de Dakin a cada
30 dias e o conserva em geladeira até o momento de uso, evitando
dessa forma a utilização de um produto com baixo teor de
cloro.
Na
tabela 3 observa-se que nos primeiros sete dias a perda de cloro foi idêntica
ao mantido em lugar fresco e o colocado à luz solar. O fato é
explicado porque durante este período do experimento o tempo permaneceu
nublado com temperatura máxima de 22,50C e mínima
de 200C com umidade relativa de 60 por cento.
Analisando
a perda de cloro da solução armazenada na geladeira observa-se
que ela ocorre muito lentamente.
Os
nossos achados confirmam as observações de BARRETT2
(1917)
quando cita que a solução de Dakin é instável
e perde rapidamente sua eficiência de cloro livre em poucos dias
especialmente se exposta a luz e calor. O autor ainda recomenda guardar
as garrafas com solução de Dakin em compartimentos escuro
e frio.
CONCLUSÕES
De
acordo com os resultados obtidos no presente trabalho podemos concluir:
1
- Existe uma perda do teor de cloro no líquido de Dakin dependendo
das condições de armazenagem.
2
- A solução de Dakin perde rapidamente seu teor de cloro
quando armazenado em ambiente exposto a luz solar.
3
- A solução de Dakin perde 49,250/o de seu teor de cloro
em 52 dias quando exposto àtemperatura ambiente e à sombra.
4
- A solução de Dakin deve ser conservada em geladeira. Nesta
condições ocorre uma perda de apenas 22,39%do teor de cloro
em 122 dias.
UNITERMS:
Dakin solution; Loss of chloride: stored.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1. ANTONIAZZI, J.H. Análise ‘in vitro" da atividade antimicrobianos
de algumas substâncias auxiliares da instrumentação
no preparo cavitário químico-mecânico de canais radiculares
de dentes humanos. Ribeirão Preto, 1973. p. 100. Tese -Doutorado
- Faculdade de Odontologia da USP].
2. BARRETT, M.T. lhe Dakin-Carrel antiseptic solution. Dent. Cosmos.,
59(43:446-9, Apr. 1917.
3. COBE, H.M. Investigations of a new dental chematherapeutic agent in the
presence of blood. Oral Surg., 13(13:678-85, June 1960.
4. COHEN, S.; STEWART, G.C.; LASTER, L.L. The effects of acids, alkalies,
and chelating agents on dentine permeability, Oral Surg., 29(41:1331-4.
Apr. 1970.
5.
COSTA, W.F. Avaliação da elevação da tem
peratura produzida pela reação exotérmica de algumas
associações de substâncias químicas utilizadas
no preparo do canal radicular. Ribeirão Preto, 1987. p. 76.
(Tese - Livre-Docôncia —Faculdade de Odontologia da USP).
6. DAKIN, H.D. In the use of certain arttiseptic substances in the treatment
of infected wound. Brit. med. J., (23:318-20, Aug. 1915.
7.
FRÕIS, I.M.; RENBERG, A.M.; ROBAZZA C.R.C.; COSTA, W.F.; ANTONIAZZI,
J.H. Permeabilidade da dentina radicular: Um novo método de avaliação.
Rev.
paul. Endodont., 2(4):77-83, out./ dez. 1981.
8. GORDON, T.M.; DAMATO, D.; CHRISTNER, P. Solvent effect of various dilutions
of sodium hypochlorite on vital and necrotic tissue. J. Endodont., 7(103:466-9,
Oct. 1981.
9. GROSSMAN, LI. Irrigation of root canais. J. Amar. dent. Ass., 30(123:1915-7,
Dec. 1943.
10. GROSSMAN, LI. & MEIMAN, 8W. Solution of pulp tissue by chemical agents.
J.
Amer. dent. Ass., 28(2):223-5, Feb. 1941.
11. HAND, R.E.; SMITH, M.L.;
HARRISON, J.W. Analysis of the effect of dilution
on the necrotic tissue dissolution property of sodium hypochlorite. J.
Endodont., 4(23:60-4, Feb. 1978.
12.
LEONARDO, M.R. Avaliação comparativa dos efeitos de soluções
irrigadoras utilizadas durante o preparo biomecânico dos canais radiculares.
Rev
Fac. Farm. Odont. Araraquara., 2(13:27-36, jan./ jun. 1968.
13. LUEBKE, R.G. Pulp cavity debridement and desínfection. Dent.
Clin. N. Amar., Saunders, Philadelphia & London, Nov., 1967, p.
603-13.
14.
MARSHALL, J.F.; MASSLER, M.; DUTE, H.L. Effects of endodontic treatments
on permeability of root dentine. Oral Surg., 13(23:208-23, Feb.
1960.
15.
PAIVA, J.G. & ANTONIAZZI, J.H. O uso de uma associação
de peróxido de uréia e detergente (Tween 80] no preparo químico-mecânico
dos canais radiculares. Rev. Ass. paul. Cirurg. Dent., 27(73:416-22,
dez. 1973.
16.
PËCORA, J.D. Contribuição ao estudo da permeabilidade
dentinária radicular. Apresentação de um método
histoquimico e análise morfométrica. Ribeirão
Preto, 1985. p. 110. Tese - Mestrado -Faculdade de Odontologia da USP).
17. PUCCI, F.M. Conductos radiculares. Buenos Aires, Ed. Med. Quirúrgica,
1945. n. 2, p. 344-69.
18. SENIA, SE.; MARSHALL, J.F.; ROSEN, 5. The solvent action of sodium hypochlorite
on pulp of extracted teeth. Oral Surg., 31(13:96-103, Jan. 1971.
19. SHIH, M.; MARSHALL, J.F.; ROSEN, S. The bactericidal efficiency of sodium
hypochlorite as an endodontic irrigant. Oral Surg., 29(43:613-9, Apr. 1970.
20. STEWART, G.G.; COBE, H.M.; RAPPAPORT, H. A study of a new medicament in
the chemomechanical preparation in infected root canal. J. Amar. dent.
Ass., 63(2):33-7, July 1961.
21. STEWART, G.C.; KAPSIMALAS, P.; RAPPAPORT, H. EDTA and urea peroxide for
root canal preparation. J. Amar. dent. Ass., 78(23:335-8, Feb. 1969.
22. TREPAGNIER, CM.; MADDEN, R.M.; LAZZARI, E.P. Quantitative study of sodium
hypochlorite as an in vitro endodontic irrigant. J. Endodont., 3(5):
194-6, May 1977.
23. WALKER, A. A definitiva and dependable theraphy for pulpless teeth. J.
Amar. dent. Ass., 23(2):1418-25, Aug. 1936.
24. WAYMAN, B.E.; KOPP,
W.W.; PINERO, G.J.; LAZZARI, E.P. Citric and latic
acids as root canal irrigants in vítro. J. Endodont., 5(93:258-65,
Sept. 1979.
COPYRIGHT
1999 Update
15/sept, 1999
Esta
página foi elaborada com apoio do Programa Incentivo à Produção
de Material Didático do SIAE - Pró - Reitorias de Graduação
e Pós-Graduação da Universidade de São Paulo
|