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Efeito da redução da tensão superficial das soluções de hipoclorito de sódio em diferentes concentrações sobre a permeabilidade da dentina radicular
Publicado originalmente em: PECORA, J.D.; SOUSA-NETO, M.D.; GUERISOLI,
D.M.Z.; MARCHESAN, M.A. Effect of reduction of the surface tension of different
concentrations of sodium hypochlorite solutions on radicular dentine permeability.
Braz. Endod. J. 3(2): 38-40, 1998.
Jesus Djalma PÉCORA
Professor Titular do Departamento de Odontologia Restauradora da Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Manoel D. SOUSA-NETO
Professor Titular da Faculdade de Odontologia da Universidade de Ribeirão
Preto.
Danilo
M. Zanello GUERISOLI
Aluno de Pós-graduação, Bolsista FAPESP, Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Melissa
Andréia MARCHESAN
Aluna de Pós-graduação, Bolsista FAPESP, Faculdade
de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Departmento de Odontologia Restauradora
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo.
Av. do Café s/n
Ribeirão Preto, SP
14040-904
Summary
The authors compared the effect of reducing the surface tension of sodium
hypochlorite solutions at the concentrations of 0.5, 1.0, 2.5 and 5.0%
on radicular dentine permeability. Forty-five maxillary human canines were
prepared by step-back instrumentation technique and submitted to morphometric
study. Sodium hypochlorite solutions increased dentine permeability more
efficiently than water. Sodium hypochlorite solutions associated with 0.1%
lauryl diethyleneglycol ether sodium sulfate were more effective than pure
solutions in increasing dentine permeability. The apical region of the
maxillary canines showed the least permeability.
Introdução
As soluções de hipoclorito de sódio são utilizadas
como desinfetante desde o século XVIII e seu uso na Odontologia
teve início na segunda década do século XX, com BARRETT2,
que preconizava a irrigação dos canais radiculares com líquido
de Dakin. Atualmente, as soluções de hipoclorito de sódio
são as mais utilizadas por dentistas de todo o mundo nos tratamentos
endodônticos, devido às suas propriedades altamente desejáveis
como bactericida, desodorizante e solvência de tecido3, 6, 9.
O efeito do hipoclorito de sódio na permeabilidade dentinária
foi estudado por diversos autores1, 4, 12, que concluíram
que o hipoclorito de sódio promove um aumento da permeabilidade
dentinária. A alta tensão superficial das soluções
de hipoclorito de sódio, próxima à da água,
impede um contato íntimo deste líquido com a dentina. A redução
da tensão superficial destas soluções foi pesquisada
por GUIMARÃES7, 8, 10, LEONARDO & LEAL7, 8,
10 e PÉCORA et al.7, 8, 10, entre outros. O presente
trabalho propõe-se a avaliar o efeito sobre a permeabilidade dentinária
da redução da tensão superficial das soluções
de hipoclorito de sódio, em diferentes concentrações,
quando associadas a 0,1% de tensoativo aniônico (lauril dietilenoglicol
éter sulfato de sódio).
Materials and methods
Um total de 45 caninos superiores humanos extraídos conservados
em timol 0,1% à 4ºC até o momento do uso foram utilizados
neste experimento. Esses dentes foram distribuídos aleatoriamente
em nove grupos de cinco dentes cada e lavados em água corrente por
24 horas a fim de se eliminar traços da solução de
timol, sendo em seguida secos com jato de ar.
A cirurgia de acesso foi executada segundo os princípios endodônticos
e a instrumentação foi feita da seguinte forma: o comprimento
de trabalho foi considerado como o comprimento total do dente. Após
a determinação do diâmetro anatômico apical instrumentou-se
o canal radicular com mais duas limas subseqüentes. Procedeu-se a
instrumentação com a técnica step-back, e as soluções
irrigantes utilizadas para cada grupo foram: hipoclorito de sódio
nas concentrações de 0,5; 1,0; 2,5 e 5,0% puros e associados
a 0,1% de tensoativo aniônico (lauril dietilenoglicol éter
sulfato de sódio). Água destilada e deionizada foi utilizada
como controle. O tempo de instrumentação padronizado foi
de um minuto para cada instrumento e a irrigação do canal
radicular foi realizada com 10,8 ml de solução testada. Após
a instrumentação, todos os canais receberam uma irrigação
final com 10,8 ml da solução testada.
Em seguida, esses dentes tiveram a superfície externa revestida
com duas camadas de cianoacrilato.
Foi utilizada a técnica de FEIGL5 para spot-tests
modificada para determinar a permeabilidade dentinária. Os reagentes
envolvidos nesta reação são o ácido rubeânico
em solução alcoólica, hidróxido de amônia
e sulfato de cobre.
Após o preparo de uma solução aquosa de sulfato
de cobre a 10%, era adicionado a esta 25 ml de hidróxido de amônia
a 25%. Cada grupo de raízes era imerso nesta solução
e vácuo era aplicado por 5 minutos para eliminação
de eventuais bolhas de ar no interior do canal radicular. As raízes
permaneciam nesta solução por mais 25 minutos, após
o que eram removidas do recipiente e secas com toalhas de papel absorvente
e os canais radiculares com cones de papel. Feito isso, as raízes
eram imersas em outro recipiente contendo solução alcoólica
de ácido rubeânico a 1,0%, recebendo então tratamento
idêntico ao descrito anteriormente. O sulfato de cobre presente nos
canalículos dentinários, em contato com o ácido rubeânico,
produz uma coloração intensa, que varia do azul escuro ao
negro.
Após o ensaio histoquímico, as raízes eram incluídas
em resina acrílica de rápida polimerização
para confecção dos blocos a serem cortados. Secções
sagitais de 500 µm de espessura representativas das regiões
cervical, média e apical das raízes foram obtidas. Durante
o processo de secção, tanto os blocos de resina com as raízes
incluídas quanto o disco diamantado recebiam um jato de água
para refrigeração, evitando a queima da dentina. De acordo
com um critério previamente estabelecido, 2 amostras eram usadas
para representar cada região do canal - o primeiro e o quarto corte
serial de cada terço radicular. Os cortes eram então lixados
sob água corrente e então colocados em um recipiente para
lavagem, eliminando assim restos de pó de dentina ou de lixa. Feito
isso, as secções eram desidratadas em três banhos de
álcool absoluto, diafanizadas em três banhos de xilol e montadas
em lâminas de microscopia com Entellan (Merck). A morfometria foi
executada em um microscópio dotado de grade de integração
com distância inter-pontos de 500 µm e jogo de lentes proporcionando
um aumento de 12x, o que permitia uma visão panorâmica do
corte histológico. A grade permitia uma avaliação
da área observada, usando como referência o número
de pontos (p) presentes na área e a distância entre eles.
Apesar da área ter contorno irregular, pode ser considerada como
um círculo geometricamente regular para permitir a comparação
com a base de um denominador comum, ou seja, o raio. Assim, a área
circular correspondente à toda a superfície observada foi
chamada de At, com raio Rt; a área correspondente ao canal radicular
foi chamada de Ac, com um raio Rc e a área externa que recebeu a
pigmentação foi chamada de Am, com um raio Rm. A equação
para determinação de área do círculo foi aplicada:
A=pR2. Uma série de cálculos algébricos elementares
para determinação da porcentagem de dentina manchada pela
reação histoquímica reduziu a equação
inicial para a seguinte fórmula:
onde: PM = pontos na área manchada, PT = total de pontos, and
PC = pontos na área do canal.
Resultados
Os valores apresentados na Tabela 1 foram obtidos a partir da equação
apresentada, correspondendo às médias do percentual de infiltração
do complexo de rubeanato de cobre na dentina radicular.
Tabela 1: Média dos valores, em porcentagem, da profundidade
de infiltração do complexo rubeanato de cobre na dentina
radicular.
|
Soluções irrigantes
|
Terços radiculares |
NaOCl 5,0%
|
NaOCl 5,0%
+
Tensoativo
|
NaOCl 2,5%
|
NaOCl 2,5%
+
Tensoativo
|
NaOCl 1,0%
|
NaOCl 1,0%
+
Tensoativo
|
NaOCl 0,5%
|
NaOCl 0,5%
+
Tensoativo
|
Água
|
Cervical |
16.75
|
20.50
|
10.28
|
11.57
|
13.18
|
11.10
|
13.85
|
16.70
|
6.07
|
Médio |
20.33
|
19.98
|
12.16
|
14.78
|
13.37
|
13.00
|
15.21
|
16.19
|
4.44
|
Apical |
14.19
|
14.15
|
12.26
|
15.71
|
7.68
|
15.84
|
7.11
|
11.15
|
1.47
|
A análise de variância mostrou diferenças estatisticamente
significantes (p < 0.01) entre as soluções testadas e
entre os três terços radiculares.
A adição de 0,1% de lauril dietilenoglicol éter
sulfato de sódio às soluções foi suficiente
para reduzir os valores de tensão superficial em quase 50%.
O teste de Tukey acusou que todas as soluções de hipoclorito
de sódio estudadas, quer puras quer associadas com o tensoativo
aniônico lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio
foram mais efetivas do que a água em promover o aumento da permeabilidade
dentinária. Também observa-se que as soluções
de hipoclorito de sódio associadas ao tensoativo promovem um maior
aumento da permeabilidade dentinária do que as soluções
puras.
No que concerne aos terços das raízes, o teste de Tukey
elucida que no incisivo central superior o terço médio é
mais permeável que o terço cervical e o terço apical
mostrou-se como o menos permeável.
Discussão
As soluções de hipoclorito de sódio são as
mais utilizadas para a irrigação dos canais radiculares em
diversos países, mais comumente nas concentrações
de 0,5%; 1,0%; 2,5% e 5,0%. No presente trabalho observou-se que a adição
de 0,1% do tensoativo aniônico lauril dietilenoglicol éter
sulfato de sódio era suficiente para reduzir a tensão superficial
das soluções de hipoclorito de sódio estudadas em
quase 50%.
A permeabilidade dentinária foi aumentada significantemente pela
adiçào de tensoativo às soluções de
hipoclorito de sódio (vide teste de Tukey). Este teste também
constata um aumento da permeabilidade dentinária nos dentes submetidos
à irrigação com hipoclorito de sódio quando
comparados àqueles irrigados com água.
Esses resultados podem ser explicados com base nos seguintes fatos:
a) a água apresenta tensão superficial muito alta (71,31
dinas/cm) e não atua quimicamente sobre os componentes orgânicos
e inorgânicos presentes no interior do canal radicular; b) o hipoclorito
de sódio a 0,5% apresenta tensão superficial próxima
à da água (68,8 dinas/cm) e as demais soluções
de hipoclorito de sódio estudadas, tensão superficial maior
do que a da água, porém atuam sobre componentes orgânicos.
A adição de 0,1% de lauril dietilenoglicol éter sulfato
de sódio reduz, em muito, a tensão superficial das soluções
estudadas; c) A redução da tensão superficial das
soluções de hipoclorito de sódio favorece a umectação,
ou seja, a capacidade de molhar a superfície das paredes dos canais
radiculares. Possibilitando um maior contato, pela redução
da tensão superficial, ocorrerá maior ação
química do hipoclorito de sódio8, 10.
No que diz respeito aos terços das raízes, estes são
diferentes entre si e o terço apical mostrou a menor permeabilidade
dentinária.
Conclusões
Baseados na metodologia empregada e nos resultados obtidos, podemos concluir
que:
-
As soluções de hipoclorito de sódio nas concentrações
de 0,5%; 1,0%; 2,5% e 5,0% quer puras ou associadas com 0,1% de lauril
dietilenoglicol éter sulfato de sódio promoveram maior aumento
da permeabilidade dentinária do que a água;
-
As soluções de hipoclorito de sódio nas concentrações
de 0,5%; 1,0%; 2,5% e 5,0% associadas com 0,1% de lauril dietilenoglicol
éter sulfato de sódio são mais efetivas em promover
aumento da permeabilidade dentinária do que as soluções
de hipoclorito de sódio puras;
-
A região apical do canal radicular dos incisivos superiores humanos
apresenta menor permeabilidade dentinária do que as regiões
cervical e média.
Agradecimentos
Esta pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq)
Referências
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