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Análise in vitro da variação térmica durante a utilização do hipoclorito de sódio, em diferentes concentrações, com peróxido de hidrogénio a 3%
IN
VITRO ANALYSIS OF THERMIC VARIATION DURING THE USE OF SODIUM HYPOCHLORITE
WITH 3% HYDROGEN PEROXIDE
Eduardo
Luiz BARBIN*
Júlio
César Emboava SPANÓ**
Reginaldo
Santana da SILVA***
Jesus
Djalma PÉCORA****
Publicado
na Rev. Odontol Univ São Paulo v,9, n.3. 189-192, jul./set. 1995
RESUMO
Quantificou-se
a variação térmica durante a reação
química entre o hipoclorito de sódio nas concentrações
de 0,5%, 1,0%, 1,5%, 2,0%, 2,5% e 5,0% com o peróxido de hidrogénio
a 3%. Observou-se a correlação linear, diretamente proporcional,
entre a concentração das soluções de hipoclorito
de sódio e a variação térmica.
UNITERMOS:
Hipoclorito de sódio; Peróxido de hidrogênio.
SUMMARY
Thermic
variation was assessed during the chemical reaction between 0,5%, 1,0%,
1,5%, 2,0% 2,5% and 5,0% sodium hypochlorite and 3% hydrogen peroxide.
There was a directly proportional linear correlation between the concentration
of the sodium hypochlorite solution and thermic variation
Uniterms:
sodium hypochlorite, Hydrogen peroxide
INTRODUÇÃO
GROSSMAN7
(1943)
preconizou uma técnica para irrigação dos canais radiculares
que consistia no uso alternado do hipoclorito de sódio a 5,0% com
o peróxido de hidrogênio a 3%. Essas duas substâncias,
quando colocadas em contato, promoviam reação efervescente
com grande liberação gasosa (oxigênio nascente), limpando
os canais radiculares pelo movimento dos fluidos (gás e liquido)
e removendo magma dentinário, restos pulpares e restos necróticos.
COSTA1
(1987),
avaliando a elevação da temperatura em reações
químicas entre soluções irrigantes de canais radiculares,
determinou que o método proposto por GROSSMAN7 (1943)
promovia exotermia, isto é, liberava calor para o meio onde a reação
ocorria.
SADAN2
(1949)
afirmou que a exotermia de seu método de irrigação
dos canais radiculares (Oxigenargentoterapia) promovia ação
antimicrobiana superior às das soluções que não
provocavam liberação de oxigênio e alterações
térmicas.
Estudos
microbiológicos realizados a partir da década de 70 evidenciaram
microrganismos anaeróbios no canal radicular em índices significativos.
A microbiota anaeróbia aparece principalmente nos casos com necrose
pulpar e lesões periapicais crónicas (WITTGO; SABISTON’5,
1975; ATTEBERY et al.’, 1980; ZEBRAL et al., 1984;
BERG; NORD3, 1973; SUNDQVIST’2, 1976; SUNDQVIST,
1976; SUNDQVIST; ETHER’3, 1984 e KEUDELL et al. 1976).
STEWART
(1955), MILANO et al. (1963) e LEONARDO (1965) estudaram
a ação antimicrobiana da irrigação alternada
dos canais radiculares com hipoclorito de sódio e peróxido
de hidrogênio e constataram altos níveis de colheitas negativas
imediatamente após a biomecânica.
CUNNINGHAN;
JOSEPH5 (1980) observaram que o aumento da temperatura elevava
a capacidade antimicrobiana do hipoclorito de sódio a 2,6%.
A
temperatura é um agente físico que promove grande influência
sobre reações químicas e bioquímicas. Age muitas
vezes como catalisador dessas reações e pode alterar a estrutura
das proteínas, tornando-as incapacitadas de exercerem suas funções.
O objetivo do presente estudo é quantificar a variação
térmica produzida na reação entre o hipoclorito de
sódio, em diferentes concentrações, e o peróxido
de hidrogênio a 3%.
MATERIAL
E MÉTODOS
Foram
reagidas as soluções de hipoclorito de sódio nas concentrações
de 0,5%, 1,0%, 1,5%, 2,0%, 2,5% e 5,0% com o peróxido de hidrogênio
a 3%. Os produtos utilizados foram aviados no Laboratório de Pesquisa
em Endodontia da FORP-USP, e as concentrações foram confirmadas
por meio de titulometria (iodometria). As soluções de hipoclorito
de sódio foram preparadas a partir do hipoclorito de sódio
a 12%, e a solução de peróxido de hidrogênio
a 3% foi aviada a partir do peróxido de hidrogênio a 30% P.A.
da marca Reagen.
Foram
utilizadas no experimento um Erlenmeyer de 250 ml, uma barra vertical,
suportes metálicos, uma lupa, duas pipetas de 10 ml e um termômetro
de procedência alemã, graduado na escala Célsius de
10 a 500C.
Inicialmente,
fixou-se o Erlenmeyer à barra vertical em uma posição
na qual seu longo eixo formasse, com o plano horizontal, um ângulo
de 450, Posteriormente, o termômetro
foi colocado dentro desse recipiente.
Através
de uma pipeta, depositavam-se 10 ml de hipoclorito de sódio dentro
do Erlenmeyer. O volume desse liquido, no recipiente, foi suficiente para
recobrir totalmente o bulbo do termômetro. Ambas as substâncias
eram armazenadas em ambiente termicamente estável (260C).
Dessa maneira, as soluções de hipoclorito de sódio
e de peróxido de hidrogênio a 3% apresentavam a mesma temperatura,
a qual chamávamos de temperatura inicial (ti).
Em
seguida, depositavam-se, no Erlenmeyer, através de outra pipeta,
10 ml de peróxido de hidrogênio a 3%. A reação
entre essas soluções ocorria de maneira abrupta, com efervescência,
e, imediatamente, observou-se a elevação térmica.
Anotava-se, então, a temperatura máxima, ou seja, temperatura
final (tf).
A
partir das temperaturas inicial e final, foi determinada a variação
térmica (D
t, que era igual à temperatura final menos a temperatura inicial
(D
t= tf- ti).
Realizaram-se
10 testes para cada concentração de hipoclorito de sódio.
RESULTADOS
O
Gráfico 1 mostra a média dos
resultados de variação térmica obtidos nas reações
entre as diferentes concentrações de hipoclorito de sódio
e o peróxido de hidrogênio a 3%.
Os
dados obtidos foram submetidos à análise estatística
não paramétrica, teste de Kruskal-Wallis, que está
descrito na
Tabela
1.
Realizou-se
a comparação das médias dos postos das amostras, duas
a duas, a qual está descrita na Tabela 2.
TABELA
2 - Comparação entre as médias dos postos das
amostras
Assim,
o teste evidenciou que as soluções apresentavam-se diferentes
quanto à liberação térmica.
Aplicando-se
o teste de regressão linear e correlação, constatou-se
relação linear, diretamente proporcional, também no
nível de 1,0% (a
= 0,01), entre a concentração de hipoclorito de sódio
e a variação térmica, em que os coeficientes da reta
de regressão são a= 0,0262 e b = 1,0016 e o
coeficiente de correlação r= 0,9960. A interpretação
estatística do valor de r apresentou-se com 28,00 graus de
liberdade e probabilidade de Ho de 0,00%.
A
liberação de energia resultante da reação química
entre o hipoclorito de sódio e o peróxido de hidrogênio
a 3% é diretamente proporcional à concentração
do hipoclorito de sódio, ou seja, quanto maior a concentração
dessa solução que reage com o peróxido de hidrogênio
a 3% maior será a variação térmica.
DISCUSSÃO
A
temperatura é um agente que promove influências nas reações
químicas e bioquímicas. A sua capacidade catalisadora poderia
atuar de maneira coadjuvante ao tratamento endodôntico, elevando
a velocidade das reações químicas que envolvem o hipoclorito
de sódio e, conseqüentemente, melhorando suas propriedades
(antimicrobiana, de dissolução tecidual, de saponificação
de lipídeos e de desodorizarão).
BADAN2
(1949)
afirmou que a exotermia obtida com o uso de sua técnica de irrigação
promovia ação antimicrobiana e CUNNINGHAN; JOSEPHS5
(1980) constataram que o aumento da temperatura elevava a capacidade antimicrobiana
do hipoclorito de sódio.
Quanto
à técnica proposta por GROSSMAN7 (1943), a temperatura
catalisa a decomposição do peróxido de hidrogênio,
já que a instabilidade dessa substância aumenta com a elevação
da temperatura, como, também, com o aumento da alcalinidade.
Este
estudo evidencia que, ao reagir o hipoclorito de sódio com o peróxido
de hidrogênio, ocorre uma reação de exotermia diretamente
proporcional à concentração de hipoclorito de sódio
utilizada. Assim, observou-se que a variação térmica
foi de 0,990C para a concentração
de hipoclorito de sódio a 0,5%; de 2,1 10C
para a concentração de 1,0%; de 3,48"C para a concentração
de 1,5%; de 4, 10C para a concentração de 2,0%;
de 5,020C para a concentração de 2,5% e de 10,840C
para a concentração de hipoclorito de sódio a 5%.
A
liberação da temperatura ocorre porque as energias necessárias
para a síntese dos reagentes (NaOC1 + H202)
são maiores que as energias dos produtos resultantes dessas reações
químicas (NaCl + H20 + 02 + D
T).
Desse
modo, a elevação da temperatura e o desprendimento de oxigênio
nascente colaboram para explicar os altos níveis de colheitas negativas
encontradas por diversos pesquisadores após o preparo biomecânica
de canais radiculares contaminados (STEWART, 1955; MILANO et al., 1963
e LEONARD, 1965).
O
uso alternado dessas soluções químicas no interior
dos canais radiculares, proposto por GROSSMAN7 (1943), obtém
uma somatória de efeitos químicos dessas duas soluções,
além do aumento da temperatura, que é um agente físico
catalisador de reações químicas.
Utilizou-se,
neste trabalho, o peróxido de hidrogênio a 3% (8 a 10 volumes),
devido a essa solução romper-se facilmente frente aos íons
hipoclorito, liberando oxigênio nascente e ocasionando aumento de
temperatura. Ainda mais, tal solução é anti-séptica
(ÍNDICE MERCK’4) e ligeiramente ácida, não
ocasionando danos aos tecidos (Farmacopéia Brasileira). Saliente-se
ainda que o peróxido de hidrogênio, nas suas concentrações
usuais, rompe-se na presença do hipoclorito de sódio e provoca
os efeitos já descritos. Optou-se, assim, pelo uso da solução
menos agressiva e tóxica.
Assim,
os resultados deste trabalho podem servir como orientação
para os clínicos que se utilizam da técnica de irrigação
de canais radiculares proposta por GROSSMAN7 (1943). Cumpre
chamar a atenção que o aumento de concentração
do hipoclorito de sódio, ao reagir com o peróxido de hidrogênio
a 3%, aumenta diretamente a liberação de calor e que essa
reação exotérmica está, também, intimamente
relacionada com a liberação de oxigênio nascente.
Caberá
ao clínico optar, diante de um tratamento endodôntico de dentes
com polpas necrosadas, com ou sem lesões, qual solução
irrigante deverá ser utilizada.
CONCLUSÕES
Com
base na metodologia empregada e nos resultados obtidos, pode-se concluir
que:
1.
Todas as soluções de hipoclorito de sódio estudadas,
ao reagirem com o peróxido de hidrogénio a 3%, promoveram
reações exotérmicas.
2.
As variações térmicas foram diretamente proporcionais
à concentração de hipoclorito de sódio utilizada.
3.
A reação entre o hipoclorito de sódio a 5% com o peróxido
de hidrogênio a 3% promoveu a maior exotermia.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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10. MILANO, N. E. et al. Contribuição experimental ao
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11. STEWART, G. G. The importance of chemomechanical preparation of root canal.
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The MERCK Index. 10 ed., Rahway : Merck & Co., 1983. 1 v.
15. WITTFGOW, W. C.; SABISTON Jr., C. B. Microorganisms from pulpal chambers
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1975.
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1999 Update 21/sept, 1999
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