Condições clínicas de próteses fixas no indivíduo idoso
Cátia
Maria Fonseca Guerra - Professora Universitária
Kildery Eduardo Tenório
Ferreira - Aluno do Curso de Odontologia da UFPE
Maria Cláudia de
Albuquerque - Aluno do Curso de Odontologia da UFPE
Rogério de
Oliveira Rodrigues - Aluno do Curso de Odontologia da UFPE
Sandra Regina Martins de
Souza - Aluno do Curso de Odontologia da UFPE
O presente trabalho teve
por finalidade verificar as condições das próteses
fixas em indivíduos da terceira idade, integrantes da
UnATI-UFPE através de exames clínicos e radiográficos,
avaliando-se: Índice de Placa; Índice Gengival,
Técnicas de Higienização Utilizadas e Condições
Gerais dos Dentes Pilares. A amostra da pesquisa foi formada por 15
pacientes da terceira idade portadores de prótese fixa. Os
pacientes foram examinados na clínica A do curso de
Odontologia da UFPE. Os dados foram anotados em ficha clínica
específica e analisados estatisticamente através da
estatística descritiva. Concluindo-se que houve predominância
na amostra do gênero feminino; o índice de placa foi
alto; o índice gengival foi leve/moderado; todos os pacientes
da amostra higienizavam as pontes fixas de forma incorreta; há
necessidade de criar uma Manual de Higiene Bucal para Pacientes da
Terceira Idade Portadores de Prótese Fixa.
1. INTRODUÇÃO
Com o declínio acentuado das
taxas de mortalidade, o grupo da terceira idade - entendendo como as
pessoas de 60 anos ou mais - passou a representar uma parcela cada
vez mais significativa da população, trazendo para
países em desenvolvimento como o Brasil, uma realidade até
pouco tempo só reconhecida no mundo industrializado. GUERRA
E GONÇALVEZ (1999)7
CORMACK (1998)1
classificou as principais patologias bucais nos indivíduos
idosos como: edentulismo, cáries em superfície
radiculares e doença periodontal. Freqüentemente as
periodontopatias devem-se a má
higienização das próteses,
por negligência do próprio paciente, ou muitas vezes por
falta de informações de como essa higienização
deva ser realizada. De acordo com DILLIS et al. (1989)2,
a remoção eficiente da placa pela escovação
requer um certo grau de habilidade manual e treinamento
especializado, muitas vezes ausentes em pacientes idosos.
Relativo às necessidades e à
demanda, nada existe de concreto que expresse a realidade da saúde
bucal na população brasileira com 60 anos ou mais
usuária de prótese parcial fixa, havendo necessidade de
estudos regionais que forneçam subsídios das
necessidades desse novo grupo populacional em desenvolvimento. Diante
do exposto realizou-se um levantamento epidemiológico das
condições clínicas de próteses fixas em
indivíduos da terceira idade integrantes da Universidade
aberta da Terceira Idade (UnATI) da UFPE, através de
exames clínicos e radiográficos, avaliando-se: Índice
de Placa; Índice Gengival; Orientação de
Higienização específica para Prótese Fixa
e Condições dos Dentes Pilares.
2.
METODOLOGIA
Realizou-se o levantamento das
condições clínicas de Próteses Fixas,
observando-se as principais periodontopatias em pacientes da terceira
idade portadores de Prótese Parcial Fixa e sua relação
com a higienização do paciente; o qual foi feito da
seguinte forma:
·
Aplicação do Questionário:
Foram realizadas 165 entrevistas
entre os alunos da UnATI que comporam o universo deste projeto.
·
Exame Clínico
Após devidamente esclarecidos
sobre os procedimentos aos quais seriam submetidos, os pacientes
assinaram o Termo de Consentimento, conforme determinação
do Comitê de Bioética para pesquisas com seres humanos.
Os dados obtidos foram anotados em uma ficha clínica
especialmente confeccionada de acordo com os objetivos da pesquisa.
·
Levantamento dos Índices
-
IP (Índice de Placa)
O índice adotado foi o de
O'LLEARY adaptado às necessidades do trabalho.
Í. P. = No de
superfície com placa x 10
No de dentes presentes x 4
O índice
foi calculado de 3 maneiras diferentes: 1. Considerando-se apenas os
Dentes Naturais presentes na boca do paciente; 2. Considerando-se
apenas os Dentes Pilares presentes na boca do paciente. 3.
Considerando-se Todos os Elementos Presentes (Dentes Naturais +
Dentes Pilares)
-
IG (Índice Gengival)
Para avaliação do Índice Gengival (IG)
empregou-se o sistema de LÖE, SILNESS, adaptado à
necessidade do trabalho. Os escores foram: 0 - Ausência de
inflamação,1 - Inflamação leve, 2 -
Inflamação moderada, 3 - Inflamação
severa.
ÍG = Soma dos Valores
(escores)
No de Dentes
O índice foi calculado de duas maneiras diferentes: 1.
Considerando-se apenas os Dentes Padrões do Índice
Gengival (12,16, 24, 32, 36 44), independente de serem eles
protéticos ou naturais; 2. Considerando-se todos os Dentes
Pilares Presentes na cavidade oral.
·
Exame Radiográfico
Durante
o exame clínico foram feitas tomadas radiográficas
periapicais de todos os dentes pilares. Após análise
das radiografias, os dentes pilares foram divididos em dois grupos:
1)
Dentes Pilares Tratados
Endodonticamente
2)
Dentes Pilares Não
Tratados Endodonticamente
·
Avaliação Periodontal
Os
Dentes Pilares foram avaliados quanto à presença de
Bolsa Periodontal. Sendo considerados com bolsa periodontal, os
dentes que apresentaram profundidade do sulco em uma ou mais faces
superior ou igual a 3 mm.
Os dados obtidos foram anotados na ficha específica e
analisados estatisticamente.
3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste projeto de pesquisa foram
utilizadas técnicas de estatística descritiva através
de 4 tabelas incluindo-se freqüências absolutas e
percentuais e medidas estatísticas e 7 gráficos
ilustrativos.
Cada um dos índices de placa
foi avaliado como: baixo (até 33,3%), médio (mais
de 33,3% a 66,6%) e alto (superior a 66,6%).
Cada um dos Índices Gengivais
foram classificados em Ausência de Inflamação
(0,00), Inflamação Leve (0,1 a 1,0), Inflamação
Moderada (1,1 a 2,0) e Inflamação Severa (2,1 a 3,0).
Para se avaliar o grau da relação
entre os índices IGN e IPN+P e entre IGP
e IPP, obteve-se o coeficiente de correlação
de Pearson e um teste para avaliar se este coeficiente é
significantemente diferente e zero foi utilizado com erro de
significancia de 5,0% .
A amostra pesquisada de indivíduos
idosos integrantes da UnATI-UFPE usuários de próteses
fixa se caracterizou por ser predominante do gênero feminino
(86,7%) (Gráfico 1), estando essa característica da
amostra de acordo com os achados de FRARE, LIMAS, ALBARELO
(1997)6.
Gráfico 1 - Distribuição
dos pequisados quanto ao gênero
Verificou-se que 100% dos indivíduos
idosos realizam higiene bucal das próteses fixas da mesma
forma que higienizam seus dentes naturais, com escova e pasta dental,
sem fazer uso de nenhuma técnica específica para
higienização das próteses e pontes fixas. A
deficiência na higienização é um fato
observado por DUKERSON (1997)4, quando afirma que
na terceira idade, há uma perda gradual dos movimentos
coordenados, que ocasiona segundo DILLIS et al (1989)2,
uma remoção deficiente da placa pela escovação,
já que a mesma requer um certo grau de habilidade e
treinamento especializado, muitas vezes ausentes em pacientes idosos
Para
ETTINGER (1995)5, essa falta de habilidade do
paciente idoso, decorre principalmente do declínio
neurosensorial da visão e tato. Segundo OLIVEIRA, DÖRFER
e STAEHLE (1997)11, as Próteses Fixas podem ser
satisfatoriamente higienizadas utilizando-se escovas interdentais sob
os pônticos, e diretamente no espaços interproximais,
promovendo a remoção de placa nestes locais. Estes
autores estão em acordo com LASCALA Jr. e LOPES (1997)8,
pois estes recomendam que pacientes submetidos a tratamento
periodontal, ortodôntico e protético façam uso de
escovas interproximais, quando houver espaços que permitam seu
uso. Além dos meios físicos citados, os meios químicos
são importantes coadjuvantes no controle da placa
bacteriana, como afirmam, NEWMAN et al (1991)10
embora MICHELI e SARIAN (1990)9 questionem a
utilidade dos meios químicos no controle da placa.
A
higiene bucal não pode ser negligenciada, principalmente
devido a sua importância no controle da placa bacteriana, e por
conseqüência, no controle dos problemas periodontais.
DORMENVAL et al (1995)3 afirmam ainda que a
cavidade oral pode funcionar como um reservatório para os
microorganismos envolvidos na infecção pulmonar. A
atenção a esses problemas devem ser valorizados nos
indivíduos idosos, principalmente porque a sua presença
muitas vezes está associada à repercussão de
problemas sistêmicos na cavidade bucal, como é o caso da
diminuição do fluxo salivar, como afirmam) SHAY
(1999)12.
Dos dentes pilares analisados, 72,9%
tinham sido tratados endodonticamente e os outros 27,1% não
haviam recebido este tipo de tratamento (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Distribuição
dos dentes avaliados segundo a ocorrência ou não de
tratamento endodontico.
A presença de bolsa
periodontal foi detectada em 26,7% dos dentes pilares, e 73,3%
dos mesmos não apresentavam bolsa periodontal (Gráfico
3).
Gráfico 3 - Distribuição
dos dentes pilares segundo a presença ou ausência de
bolsa
Dos dentes pilares que não
tinham sidos tratados endodonticamente, 76,9% tinham condições
satisfatórias e os outros 23,1% condições não
satisfatórias (Gráfico 4).
Gráfico 4 - Distribuição
dos dentes pilares sem tratamento endodontico segundo a sua
condição.
Entre os 35 dentes pilares tratados
endodonticamente, apenas 11,4% se encontravam satisfatórios e
88,6% não satisfatórios (Gráfico 5).
Gráfico 5 - Distribuição
dos dentes pilares com tratamento endodontico segundo a sua condição.
Na Tabela 1 são relacionados,
em ordem decrescente de freqüências, os problemas
encontrados nos dentes tratados endodonticamente onde se destacam:
núcleo com menos de 2/3 do comprimento do canal (28,6%), lesão
periapical (20,0%) e dente sem núcleo (14,3%).
Nas Tabelas 2 e 3 são
apresentadas as estatísticas do índice gengival e do
índice de placa.
Da Tabela 2 se verifica que os
índices gengival dos dentes padrões (IGN) e
dos dentes pilares (IGP) variaram de 0,0 a 2,0,
tiveram médias de 0,96 e 0,90 respectivamente e em ambas as
variáveis pode-se também observar uma variabilidade
razoável conforme resultados do coeficiente de variação,
com valores de 59,44% e 70,91%.
O coeficiente de variação
(C.V.) mede a dispersão relativa do desvio em relação
a média e é em termos percentuais é dada por:
C.V. = 100 x (desvio padrão/média);
Tabela 2 - Estatística dos
Índices Gengivais
-
|
Índice
Gengical
|
|
Estatísticas
|
IGN
|
IGp
|
Mínimo
|
0,0
|
0,0
|
Máximo
|
2,0
|
2,0
|
Média
|
0,96
|
0,90
|
Desvio
|
0,57
|
0,64
|
Coeficiente de
variação
|
59,44
|
70,91
|
IGN : índice
gengival com os dentes naturais IGP :
índice gengival com os dentes pilares
Nas Tabelas 2 e 3 se constata que
apenas um paciente tinha os índice IGN e IGP
representando ausência de inflamação e que nenhum
deles tinha estes dois índices considerados como severo. Para
o IGn, a maioria dos pacientes pacientes se subdividiu
igualmente entre as classificações leve e moderada.
Tabela 3 - Distribuição
dos pesquisados quanto ao índice gengival dos dentes padrões
(IGN)
-
Índice IGN
|
N
|
%
|
Ausencia de inflamação
|
11
|
6,7
|
Inflamação
leve
|
77
|
46,7
|
Inflamação
moderada
|
77
|
46,7
|
Inflamação
severa
|
-
|
-
|
Total
|
165
|
100
|
IGN - Índice
Gengival nos dentes naturais
Tabela 4 - Distribuição
dos pesquisados quanto ao índice gengival dos dentes pilares
(IGP)
-
Índice IGN
|
N
|
%
|
Ausencia de inflamação
|
11
|
6,7
|
Inflamação
leve
|
99
|
60,0
|
Inflamação
moderada
|
55
|
33,3
|
Inflamação
severa
|
-
|
-
|
Total
|
165
|
100
|
IGp - índice gengival dos
dentes pilares
A maioria (60%) tinha inflamação
leve, e 33,3% tinha inflamação moderada.
Nas Tabelas 3 e 4
se observa que os três índices tiveram valor máximo
igual a 100,0% e os valores mínimo foi um pouco mais reduzido
para o índice de placa dos pilares (IPP). O valor
médio foi mais elevado para o índice com os dentes
naturais (IPN) e mais reduzido para o IPP. A
variabilidade foi reduzida para os índices de IPN
(28,66%) e IPN+P (37,60%) e foi razoavelmente
elevada (65,01%) para o IPP.
Tabela
5 - Estatísticas dos índice de placa
-
|
Índice
de placa
|
Estatísticas
|
IPN
|
IPp
|
IPn+p
|
Mínimo
|
6,25
|
0,00
|
6,00
|
Máximo
|
100,0
|
100,0
|
100,0
|
Média
|
85,64
|
62,03
|
78,63
|
Desvio Padrão
|
24,54
|
40,33
|
29,56
|
Coeficiente de
variação
|
28,66
|
65,01
|
37,60
|
IP n : índice de placa com os
dentes naturais;
IP
p : índice de placa com os dentes pilares
IP
n+p : índice de placa com os dentes naturais e pilares.
A Tabela 6 mostra que o índice
IPP teve percentual menos elevado (53,3%) de valores
no nível alto e o maior percentual (33,3%) de valores no nível
baixo do que os outros dois índices.
Tabela 6 - Níveis dos índices
de placa por tipo
-
|
Índice
de placa
|
|
IPN
|
IPN
|
IPn+p
|
Nível
|
N
|
%
|
N
|
%
|
N
|
%
|
Baixo
|
11
|
6,7
|
55
|
33,3
|
22
|
13,3
|
Médio
|
-
|
-
|
22
|
13,3
|
11
|
6,7
|
Alto
|
154
|
93,3
|
88
|
53,4
|
132
|
80,0
|
Grupo Total
|
165
|
100
|
165
|
100
|
165
|
100
|
IP n : índice de placa dentes
naturais
IP p : índice de placa dentes
pilares
IP n+p : indice de placa de dentes
naturais e pilares
Gráfico 6 - Níveis dos
índices de placa por tipo
O coeficiente
de correlação de Pearson entre os índices IGN
e IPN+P foi razoável (r = 0,53%) e entre os índices
IGP e IPP (r = 0,497) e nos dois casos se
comprova diferença significativa de zero (P >
0,05).
4.
CONCLUSÕES
Baseado na metodologia empregada e
análise estatística dos
dados obtidos, conclui-se que:
·
Todos os pacientes da Terceira Idade
Portadores de Prótese Fixa que participaram desta pesquisa
higienizam as próteses fixas de forma incorreta.
·
O Índice de Placa foi alto e o
Índice Gengival foi Leve/Moderado.
·
Há necessidade da criação
de um Manual de Higienização Oral para Pacientes da
Terceira Idade Portadores de Prótese Parcial Fixa, no sentido
de melhor orientar esses pacientes quanto a higiene adequada desse
tipo de prótese.
Abstract: This
reasearch has intended to verify the situation of Fixed Prosthesis
used by elderly people from UnATI-UFPE, through clincal and
radiografic examination, assessing: Plaque Index, Gingival Index,
Hygiene Technics utilized by these people and general conditions of
the prosthesis abutments. The sample was composed by fifteen elderly
people from UnATI all of them had fixed prosthesis. The UnATI
students were examinated at Clinic A in UFPE Odntology Faculty. The
results were analized statistically using the discriptive analisys.
It was concluded that the majority of the sample were female; High
Plaque and Low/Moderated Gingival Index were detected; every patient
in the sample cleaned their prosthesis uncorrectly; there is a
necessity of making a Oral Hygiene Handbook for Elderly People Who
Use Fixed Prosthesis.
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