Adenoma Pleomórfico, considerações gerais
Adílio César Monteiro Nogueira - Acadêmico do 6° período do curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará Estagiário do curso de aperfeiçoamento de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Academia Cearense de Odontologia. Aline Kelly Souza Chavante - Acadêmica do 6° período da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Ceará. Juliana Oliveira Gondim - Acadêmica do 7° período da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Ceará.
Adenoma Pleomórfico é considerado o tumor mais comum das glândulas salivares. Histopatologicamente, apresenta-se com um padrão altamente diversificado e é derivado de uma proliferação simultânea de elementos ductais e mioepiteliais. Dentre todas as glândulas salivares, a parótida é a mais acometida. A área afetada apresenta uma tumefação de crescimento lento e, normalmente indolor. O tratamento consiste na excisão cirúrgica com margem de segurança. O risco de recidiva é bastante baixo quando se faz o tratamento adequado e o risco de transformação maligna varia em alguns estudos.
Reuni, nesse trabalho, os aspectos mais importantes do Adenoma Pleomórfico juntamente com uma revisão de literatura.
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Introdução
Dos neoplasmas das glândulas
salivares, o adenoma pleomórfico, também conhecido por tumor misto
benigno, é, de longe, o mais comum, constituindo aproximadamente 90%
de todos os casos de tumores benignos das glândulas salivares e 50% de
todas as neoplasias (incluindo as malignas) originárias das glândulas
salivares maiores e menores.(6)
Apesar de os valores percentuais
variarem em alguns estudos, não restam dúvidas que a sede mais
acometida por esta lesão é a glândula parótida que,
segundo NEVILLE, é afetada em 53 a 77% dos casos, seguida pela glândula
submandibular com 44 a 68% e pelas glândulas menores, acometidas em 38
a 43%. Dentre estas últimas, as mais freqüentes localizam-se no
palato (60%), lábio superior (20%) e mucosa jugal (10%).
Revisão de Literatura
Esta neoplasia foi relatada pela primeira vez por
Billroth. (1)
Desde a sua publicação
inicial este tumor foi alvo de diferentes nomenclaturas (endotelioma, encondroma,
branquioma, enclavoma).(6) MISSEN foi quem introduziu o termo "tumor misto"
acreditando ser a origem desse tumor, epitelial e mesenquimatosa, todavia, posteriormente
soube-se que ela não se originava de mais de uma camada germinativa,
apesar de ter uma aparência mesenquimal proeminente.(1)
A denominação para
adenoma pleomórfico foi sugerida por WILLIS e MEYER devido ao padrão
variável que apresentava. Além disso, reafirmaram a origem epitelial
do tumor.(1)
No que diz respeito à histogênese,
as teorias atuais dessa lesão relatam haver uma proliferação
de diversas células com características de células ductais
e mioepiteliais.
Segundo HÜBNER e colaboradores, a célula
mioepitelial é responsável pela diversidade morfológica
do tumor. REGEZI e BATSAKIS afirmaram que a célula de reserva do ducto
intercalado pode diferenciar-se em célula ductal e mioepitelial que,
por sua vez, pode sofrer metaplasia mesenquimatosa.
Mais recentemente, BATSAKIS afirmou
que o papel da célula mioepitelial ainda é incerto e que, histogeneticamente,
ela pode ter participação ativa ou passiva. Por último
DARDICK e colaboradores afirmaram que uma célula epitelial alterada neoplasicamente,
com potencial para diferenciação multidirecional, pode ser responsável
pela histogênese do adenoma pleomófico.
Discussão
Características clínicas
A maioria das lesões diagnosticadas
como tumor misto benigno é encontrada em pacientes com idade entre 30
e 60 anos, e em adultos jovens, mas podem se desenvolver em qualquer idade,
inclusive em crianças e recém-nascidos (4)(6). É um pouco
mais freqüente a ocorrência no sexo feminino, numa proporção
de 6:4, podendo mostrar diferenças estatísticas em outros levantamentos.
O paciente geralmente chega ao consultório
reclamando de um nódulo pequeno; indolor (podendo haver um desconforto
local); quiescente; que tem um crescimento lento; e por vezes, intermitente
(6).
Na glândula parótida,
os tumores tipicamente não apresentam fixação nem aos tecidos
profundos nem à pele suprajacente. Inicialmente surge como uma lesão
móvel, porém perde essa mobilidade com o crescimento. Ocorrem
mais freqüentemente no lobo superficial (90%) com rara paralisia do nervo
facial e se apresentam como uma tumefação no ramo mandibular à
frente da orelha, formando uma massa nodular irregular de consistência
firme, tipicamente lobulada e é envolvida por uma pseudocápsula.
Tem uma superfície lisa e bocelada e que dificilmente sofre ulceração
secundária, a menos que a superfície seja traumatizada. Por vezes
podem ser palpadas áreas de degeneração cística
(3)(4)(6)
A grande maioria possui um tamanho
que varia entre dois e seis cm, porém, se negligenciada pode crescer
a proporções grotescas. Um caso relatado na literatura inglesa
moderna revela um adenoma pleomórfico com 6,85 kg e um diâmetro
de 26 cm.
Cerca de 10% dos tumores mistos
da parótida desenvolvem-se dentro do lobo profundo da glândula,
abaixo do nervo facial, podendo provocar injúria do mesmo.
Geralmente, apresentam-se como
massas discretas quando acometem a glândula submandibular, sendo impossível
separá-los clinicamente dos tumores malignos de glândulas salivares
durante estágios precoces de crescimento. É, também, difícil
distingui-los dos nódulos linfáticos aumentados que se encontram
no triângulo submandibular (4)(9).
Na glândula sublingual, o
adenoma pleomórfico raramente ocorre. Somente 10 ocorrências foram
relatadas em um estudo em 1954 (11).
Quanto ao comprometimento das glândulas
menores, o tumor geralmente tem um diâmetro menor do que um ou dois cm.
Quando compromete o palato (localização intra-oral mais comum),
os tumores são encontrados comumente na região póstero-lateral,
no limite entre o palato duro e mole Apresentam-se inicialmente como nódulos
sésseis, indolores, consistentes à palpação e relativamente
fixos e bem delimitados. Em algumas zonas podem ser moles ou flutuantes, podendo
haver ulceração secundária e sangramento devido a fatores
mecânicos ligados à mastigação.
Pelo fato de este tumor causar
dificuldades na mastigação e articulação da palavra,
ele é descoberto e tratado mais precocemente do que os tumores das glândulas
maiores (6).
Quando a neoplasia atinge as demais localizações,
mostram-se moles e, normalmente móveis.
Características histopatológicas
Um dos aspectos mais característicos
desse neoplasma é a sua diversidade no que se refere ao padrão
histológico. Freqüentemente, o epitélio forma ductos e estruturas
císticas, ou pode-se apresentar como ilhas ou ninhos de células.
Ele é composto de uma mistura de epitélio glandular e células
mioepiteliais dentro de um fundo semelhante ao mesênquima (3), podendo
a proporção desses elementos ser altamente variável (ver
figuras 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11).
O componente mioepitelial tem uma morfologia variável.
NEVILLE relata que as células mioepitelias podem aparecer, algumas vezes,
angulares ou fusiformes, outras mostram-se redondas com núcleo excêntrico
e citoplasma eosinófilo hialinizado, lembrando células plasmáticas
- são as células plasmocitóides - que tendem a se agregar.
Já as células que se apresentam fusiformes tendem a aparecer paralelas
entre si.
LOMAX-SMITH e AZZOPARDI descreveram a presença
de célula plasmocitóide em 70% de adenomas pleomórficos
das glândulas maiores e 10% nos das glândulas menores estudados.
BUCHNER e colaboradores encontraram estas células nos 124 adenomas pleomóficos
estudados.
Células epiteliais escamosas são
relativamente comuns e mostram pontes intercelulares típicas e, às
vezes, verdadeiras pérolas de ceratina.
Acredita-se que as mudanças
"estromais" sejam produzidas pelas células mioepiteliais (3).
Estas incluem uma mescla de aspecto mixóide (pelo extenso acúmulo
de material mucóide entre as células do tumor), condróide
(pela degeneração vacuolar das células), hialino e, raramente,
tecido adiposo e ósseo.
O adenoma pleomórfico é
um tumor tipicamente encapsulado, bem circunscrito, no entanto, a cápsula
(de natureza fibrosa) pode ser incompleta ou mostrar infiltração
pelas células tumorais (3).
Tratamento e Prognóstico
O tratamento mais aceito para o adenoma pleomórfico
consiste na excisão cirúrgica com margem de segurança.
Para as lesões que atingem o lobo superficial
da glândula parótida, recomenda-se a parotidectomia superficial
com a preservação do nervo facial não envolvido. A enucleação
não é aconselhável devido ao risco de recidiva.
Para os tumores do lobo profundo da parótida,
usualmente, se faz a parotidectomia total, com preservação do
nervo facial, se possível, pois a paralisia deste nervo é considerada
como um sinal extremamente desfavorável.
Para o tumor que atinge a glândula submandibular
o ideal é a remoção completa da glândula com o tumor.
Lesões no palato ou gengiva
envolvem freqüentemente periósteo e osso, tornando a remoção
difícil (4). As lesões do palato duro devem ser excisadas com
a mucosa suprajacente, enquanto que as da mucosa de revestimento, como as dos
lábios, do palato mole e da mucosa jugal, muitas vezes, podem ser tratadas
com êxito pela enucleação ou excisão extracapsular.
Visto que estes tumores são radioresistentes, a radioterapia não
traz benefícios e, portanto, é contra-indicada (6).
A taxa de recorrência do tumor na parótida
varia de acordo com a técnica cirúrgica utilizada, sendo estimada
entre 20 e 45% depois de uma simples enucleação, e entre 2 a 5%
depois de uma parotidectomia parcial, mas é somente 0 a 0,4% quando a
parotidectomia total é utilizada.
A recorrência também
está associada com uma acidental ruptura da pseudo-cápsula durante
a cirurgia ou com um "derramamento" de células tumorais na
ferida.
Estudiosos avaliam a importância do derramamento
para o desenvolvimento da recorrência. Além disso, a localização
do tumor na porção profunda da glândula parótida,
tumor de grande tamanho, pacientes com idade avançada e contato do tumor
com o nervo facial são outras suspeitas que levariam a um aumento no
risco de recorrência.
Em 1995, pacientes que fizeram cirurgia para retirada
do tumor no Departamento de Otorrinolaringologia da Hudding Univ. Hospital durante
os anos de 1974 - 1993 foram revistos (ao todo 230). Foi observado que, dos
28 pacientes que tiveram ruptura visível da cápsula tumoral durante
o ato operatório, 2 (7,1%) tiveram recidiva.
Este valor não foi significativamente maior
do que nos pacientes onde a cápsula não foi rompida (4,1%).
Já para as glândulas salivares menores,
o risco de recidivas parece variar, com uma taxa de 5 a 30% nas excisões
cirúrgicas com margem de segurança.
As lesões recidivantes apresentam maior
potencial de transformação maligna. Apesar disso, as lesões
localizadas nas glândulas salivares menores, que apresentam uma menor
possibilidade de recidiva, possuem um risco de transformação maligna
maior.
Quanto à possibilidade de
transformação maligna, há variações estatísticas
segundo alguns autores. NEVILLE et al publica que o adenoma pleomórfico
tem um risco de transformação maligna em carcinoma ex-adenoma
pleomófico provavelmente pequeno, mas pode ocorrer em 5% dos casos. Já
REGEZI e SCIUBBA dizem que a probabilidade de malignização está
em torno de 25% quando as lesões ficam muito tempo sem tratamento e aumenta
quando a área é tratada previamente com radioterapia. E SHAFER
et al publicaram que não há certeza quanto ao índice de
transformação maligna, sendo calculado entre 3 e 15%. LIVOLSI
e PERZIN estudaram 47 adenomas pleomórficos nas glândulas maiores
e menores.
O prognóstico é considerado
excelente quando a cirurgia é feita de maneira adequada, com um índice
de cura de aproximadamente 95% (3).
Conclusão
De acordo com o que foi estudado
sobre adenoma pleomórfico, deve-se salientar a importância de se
fazer um exame histopatológico da lesão, uma vez que a forma maligna
pode apresentar características muito semelhantes à benigna.
É portanto, de responsabilidade do cirurgião
uma grande parte do sucesso do tratamento desse tipo de neoplasia, uma vez que
a recidiva pode ocorrer, inclusive também em razão da permanência
de um resíduo de cápsula ou mesmo da própria lesão.
A orientação dos pacientes e a observação
pós-operatória também são de grande valia no acompanhamento
dos casos de adenomas pleomórficos.
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