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Traumatismo facial por acidente de trabalho - Relato de um caso clínico
Barbosa, D.M. - Aluno do Curso de Cirurgia BMF do Institut de Stomatologie et de Chirurgie Maxillo-Faciale - Hôpital Pitié-La Salpêtrière - Paris
Barbosa, M. - Estagiário da Clínica de Cirurgia BMF - Hospital dos Servidores do Estado de Pernambuco Braga, P.M. - Cirurgião-Dentista
- Componente da Equipe de Cirurgia BMF do Recife
Ribeiro, M - Aluno do Curso de Cirurgia BMF do Institut de Stomatologie et de Chirurgie Maxillo-Faciale, Hôpital Pitié-La Salpêtrière, Paris
Sergio Bartolomeu de Farias Martorelli ( mefis@zaz.com.br ) - CD
- Mestre em Cirurgia e Traumatologia B.M.F., UFPE;
- Pós-graduado em Cirurgia e Reabilitação Maxilo-Facial pelo Institut de Stomatologie et de Chirurgie Maxillo-Faciale - Université Pierre et Marie Curie;
- Professor Assistente Estrangeiro da Faculdade de Medicina de Paris VI;
- Cirurgião do Hospital dos Servidores do Estado de Pernambuco - I.P.S.E.P.
- Professor do Curso de Aperfeiçoamento de Cirurgia Oral do N.E.A.O, João Pessoa/PB
Após a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e a reformulação do Código de Trânsito no Brasil, a incidência de trauma facial por acidentes automobilístico têm diminuido significativamente. Entretanto, é necessário realizar uma maior fiscalização nas normas de segurança do trabalho, que também são responsáveis por fatia significante dos traumas faciais.
Neste trabalho, os autores relatam um caso clínico de trauma facial por penetração de um parafuso de kit de partida de motor de caminhão em um mecânico da região metropolitana de Recife- Pernambuco, onde o mesmo penetrou todo o seio maxilar, indo alojar-se na região do Processo Pterigoide direito do Esfenoide.
1.
Generalidades 
 
Nos
países ditos do primeiro mundo são menos freqüentes
os acidentes de trabalho devido ao elevado nível sócio-cultural da
população, qualificação da mão de obra, programas preventivos permanentes e
respeito ao uso dos equipamentos de segurança. Já nos paises subdesenvolvidos,
onde a maioria da mão de obra não tem formação técnica adequada, os
programas preventivos não são constantes; as empresas nem sempre fornecem os
equipamentos de segurança necessário e, ainda, com o agravante de grande
parcela da população trabalhar em setores da economia
informal sendo o registro nem sempre
realizado, parecendo indicar
que a incidência pode ser
muito mais alta do que parece. 
 
Graças
à reformulação do Código de Trânsito Brasileiro, que obriga o uso do cinto
de segurança, fiscaliza com mais rigor o uso de álcool ao volante, bem como
a melhoria dos ítens de segurança nos veículos pela indústria
automobilística (barras laterais, “Air bags”, etc.) tem diminuido
verticalmente a incidência dos traumas faciais por acidentes automobilísticos.
Entretanto, a nova concepção preventiva da Odontologia, deve obrigar o Cirurgião
Buco-Maxilo-Facial a empreender campanhas
preventivas de acidentes de trabalho nas empresas, desportivos nas escolas, etc,
de modo a contribuir com a diminuição dos traumas faciais. 
 
2.
Relato do caso clínico 
 
M.A.S.,
sexo masculino, casado, 32 anos, cor morena, eletricista de automóveis, natural
de Jaboatão dos Guararapes – PE, procurou o Serviço de Urgência do Hospital
de Aeronáutica de Recife, relatando na anamnese que
foi realizar o conserto de um motor de partida de caminhão. Sem uso de
nenhum equipamento de segurança, prendeu um dos parafusos, de aproximadamente
20cms de extensão por 0,5cm de diâmetro.num tecido empregnado em graxa e pôs-se
à esmerilhá-lo. Para sua infelicidade, o tecido foi tomado
pelo esmeril, que desferiu o parafuso como
uma flecha contra o seu rosto (Fig.1; Fig2). Informou ainda que tentou
retirar o parafuso, mas não logrou êxito.
Fig.1
Fig. 2
Após
avaliação geral do paciente, realizamos o exame clínico. Edema local e uma discreta
rinorragia direita foi observada. O orifício de penetração do corpo estranho
deu-se ao nível da região geniana esquerda, aolado da
asa do nariz, região da parede anterior do seio maxilar a cerca de 5
cms abaixo da cavidade orbitária. Ao exame intra-oral palpamos a extremidade
do parafuso sob a mucosa que reveste o processo pterigoide direito do esfenoide.
Solicitamos de imediato um hematócrito, hemoglobina, parecer Cardiológico c/
ECG e risco cirúrgico e tomadas radiográficas (seios da face, e lateral da face) (Fig.3; Fig.4), que delimitaram o trajeto percorrido
pelo parafuso, que transfixou o seio maxilar, indo alojar-se posteriormente.
Sob
anestesia geral, intubação oral,
realizamos antissepsia loco-regional com solução iodada
e aposição do campo
operatório. Realizamos a mensuração do parafuso com régua milimetrada,
que apresentou o cumprimento de 13 cms
da pele até a extremidade externa. Após contenção da face (Fig.5), realizamos
delicada tração no parafuso, onde observamos resistência. Realizamos, à seguir,
tração/rotação no sentido anti-horário devido ao fato da rosca do mesmo estar
promovendo a sua retenção. Após excisado o corpo estranho (Fig.6), introduzimos
pelo orifício de penetração uma sonda uretral calibre 12 através da qual realizamos
profusa irrigação/aspiração com solução de cloreto de sódio a 0,9% e lavagem
com solução iodada aquosa, seguida de nova irrigação/aspiração com soro fisiológico
0,9% (Fig.7). Após a retirada do
parafuso, pudemos verificar que o mesmo penetrou 07 cms da pele para o interior,
comparando-se à mensuração inicialmente realizada (Fig.8).   
Debridamos
a ferida cutânea e realizamos curativo compressivo com gaze
impregnada em pomada de neomicina/bacitracina. Instituimos terapia antibiótica
(ampicilina 01g 6/6hs), antinflamatória (diclofenaco sódico 50mg de 8/8 hs)
por sete dias, bem como devidamente instituída a profilaxia anti-tetânica. Os
curativos foram trocados diariamente
até o completo fechamento da ferida, que se deu no 12o dia do pós-operatóro. 
 
Solicitamos
tomadas radiograficas de controle (Fig 9; Fig.10). Reavaliamos o paciente com
30 dias (Fig. 11), 03 meses e 06 meses de
pós-operatório, quando demos alta ambulatorial. O mesmo encontrava-se,
até o momento, completamente assintomático e com as funções preservadas. 
 
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CD.; Componente da Equipe de Cirurgia BMF do Recife ***; **** Alunos do Curso
de CirurgiaBMF do Institut de Stomatologie et de Chirurgie Maxillo-Faciale –
Hôpital Pitié-La Salpêtrière – Paris; ***** Estagiário da Clínica de Cirurgia
BMF – Hospital dos Servidores do Estado de Pernambuco
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