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Hipertrofia hemi-facial - A propósito de um caso clínico


L .G.N Carvalho
- Estagiário da Clínica de Cirurgia BMF, H.S.E., IPSEP, Recife-PE

M.B. Cavalcanti
- Estagiário da Clínica de Cirurgia BMF, H.S.E. IPSEP/Recife-PE

P.G.T Freire
- Estagiário da Clínica de Cirurgia BMF, H.S.E./IPSEP, Recife, PE

S. L. Menezes
- Estagiário da Clínica de Cirurgia BMF, H.S.E./IPSEP Recife, PE

Sergio Bartolomeu de Farias Martorelli  ( mefis@zaz.com.br )
- CD
- Mestre em Cirurgia e Traumatologia B.M.F., UFPE;
- Pós-graduado em Cirurgia e Reabilitação Maxilo-Facial pelo Institut de Stomatologie et de Chirurgie Maxillo-Faciale - Université Pierre et Marie Curie;
- Professor Assistente Estrangeiro da Faculdade de Medicina de Paris VI;
- Cirurgião do Hospital dos Servidores do Estado de Pernambuco - I.P.S.E.P.
- Professor do Curso de Aperfeiçoamento de Cirurgia Oral do N.E.A.O, João Pessoa/PB


A Hipertrofia hemi-facial é uma dismorfose maxilo-facial rara, cuja etiologia é discutível. Freqüentemente está associada a distúrbios cosméticos e distúrbios funcionais mais ou menos importantes, na dependência do grau de hipertrofia. Neste trabalho os autores relatam um caso clínico de hipertrofia hemi-facial em uma paciente de 28 anos de idade, cuja cirurgia foi empregada objetivando melhoria do equlíbrio cosmético facial.

Introdução

A Hipertrofia Hemi-Facial é um distúrbio raro que se caracteriza pelo aumento de uma das metades da cabeça, em certos casos, desde o nascimento.4;7;8;9;10
A etiologia desconhecida.3;4;7;8;9;10;11 No entanto, fatores etiológicos múltiplos tem sido implicado no desenvolvimento da hipertrofia hemi-facial, incluindo anormalidades linfáticas, disfunção endócrina, ambiente intra-uterino alterado, alterações cromossômicas, divisão celular assimétrica3;8;9, alterações vasculares e neurogênicas 3;8;9;11, sendo de todas estas, as duas últimas, as mais plausíveis para explicar os achados clínicos.3;8;9;11
Com relação à incidência, existe um ligeira predileção pelo sexo feminino3;8;9, com uma preponderância de 2/3 para as mulheres8;9, sendo o envolvimento dos lados direito e esquerdo quase igual4;9.

Alterações associadas à patologia

Algumas alterações podem aparecer associadas particularmente, em ordem decrescente: anomalias cutâneas (como nevos e hemangiomas), deficiência mental, escoliose compensadora, veias varicosas e hérnia umbilical.3;4;7;9;11

Características peculiares

O lado aumentado cresce em ritmo proporcional ao lado não envolvido, de modo que a desproporção é mantida através da vida, embora o crescimento da face cesse por volta dos 20 anos de idade.7;9;10;11

Características clínicas

O aumento pode ocorrer em qualquer dente, mas parece acontecer com mais freqüência nos caninos, pré-molares e primeiros molares.3;7;8;9
Caracteristicamente, os dentes permanentes do lado afetado desenvolvem-se mais rapidamente e fazem erupção antes dos correspondentes do lado não envolvido.7;9
A macroglossia unilateral, com proeminentes papilas linguais, é comum. Pode ocorrer aumento de outros tecidos moles orais e dos ossos como frontal, cavidade orbitária, zigoma, maxila e mandíbula. O canal mandibular pode se mostrar aumentado de tamanho nas radiografias.7;9
A má-oclusão que se desenvolverá é de difícil correção, devido ao progressivo crescimento até a maturação somática. 1;6;7;8;11
Clinicamente, também pode ser observado que os fios de cabelo do lado afetado são mais espessos, assim como a pele que também pode apresentar um aumento da pigmentação.3;7;8;9

Diagnóstico diferencial

Deve ser feito um estudo para afastar a possibilidade de outras causas de crescimento unilateral, especialmente a neurofibromatose.7;8;9 Também é feito o diagnóstico diferencial com displasia fibrosa dos maxilares8;9 e a Síndrome de Klippel-Trenaunay-Weber.6;8

Tratamento

É uma condição de difícil tratamento cirúrgico. Ambos os tecidos mole e duro estão envolvidos, necessitando de cuidadoso planejamento pré-operatório baseado em fotografias, radiografias, tomografias e modelo de gesso das arcadas dentárias. Cirurgia ortognática e intervenções em partes moles podem ser eficientes. O tratamento ortodôntico do paciente pode estar indicado. O acompanhamento do estado do paciente por uma equipe multidisciplinar de profissionais da área de saúde se faz necessário. 3;7;8;9;11

Relato Do Caso Clínico

P.M.S., 28 anos, secretária, cor branca, natural de Recife-PE, solteira, foi encaminhada à clínica privada, por um dentista clínico, para tratamento de uma dismorfose maxilo-facial.
Na anamnese, referiu que desde de criança apresentava uma desarmonia na face. Fez cirurgia plástica no lábio inferior por ser o lado direito do lábio mais desenvolvido do que o esquerdo. Referiu ainda, que, como sua mordida era errada, um dentista procedeu a remoção de vários elementos dentários tentando compensá-la com dispositivos protéticos, pois os dentes do lado direito eram maiores e mais volumosos que os do lado esquerdo.
Ao exame clínico, apresentava uma assimetria facial notabilizada por um hiper-desenvolvimento da hemi-face direita em relação à esquerda. A cavidade orbitária, globo ocular, zigoma, e mento com assimetria de tamanho e volume comparando-se os dois lados. Os fios dos cabelos do lado direito apresentavam-se mais grossos que os do lado esquerdo e a língua apresentava as papilas hiperdesenvolvidas do lado direito em relação ao esquerdo. (Fig. 1, 2, 3 e 4).


Fig. 1- Aspecto inicial do caso

Fig. 2 - Vista lateral D no pré-operatório.

Fig. 3- Vista lateral E no pré-operatorio.

Fig. 4- Aspecto da língua.

Exame radiogáfico panorâmico exibia um maior desenvolvimento da hemi-mandíbula dieita em relação à esquerda (Fig.5).
Confrontando os dados da anamnese, exame físico e radiográfico, formulamos uma hipótese diagnóstica de Hipertrofia Hemi-facial.
Confeccionamos uma máscara facial (Fig. 6) e solicitamos fotografias de frente e de perfil para planejamento cirúrgico.


Fig. 5- Radiografia pré-operatória

Fig. 6 - Máscara facial.

Foi, então, planejada uma osteoplastia mandibular por via intra-oral, da região mentoniana até o ângulo mandibular afetado, com o intuito de melhorar a harmonia facial, promovendo-se , assim, um melhor equilíbrio cosmético.
Sob anestesia geral, intubaçào naso-traqueal, realizou-se incisão ao nível do rebordo alveolar edêntulo, subperiostal, para em seguida realizar-se o descolamento muco-periostal, preservando-se o mentoniano. A incisão foi propositadamente estendida até o lado oposto com o intuito de transferir as dimensões da altura do corpo mandibular normal para o lado hipertrofiado.
Delimitada a área de osteotomia/ostectomia com brocas esféricas, (Fig. 7), utilizando brocas de Linderman foram unidas as perfurações, sempre empregando-se irrigação com solução salina concomitantemente. (Fig 8). Através de cinzeis bibiselados, a ostectomia foi concluída. (Fig. 9). Brocas para acabamento ósseo foram utilizadas com objetivo de regularizar as osteotomias e remover arestas ósseas. (Fig. 10).


Fig. 7 - Delimitação da osteotomia/ostectomia.

Fig. 8 - União dos pontos de delimitação.

Fig. 9 - Utilização do cinzel bi-biselado.

Fig. 10 - Acabamento da ostectomia.

Uma profusa irrigação/aspiração foi realizada à seguir, tendo sido a sutura realizada través de sutura contínua festonada ao fio de seda 2-0.
A peça operatória pode ser observada na Fig.11.


Fig. 11 - A peça operatória.

Fig. 12 - Aspecto clínico pós-operatório.

O pós operatório transcorreu sem intercorrências e o aspecto final da osteoplastia, clínica e radiograficamente, pode ser observado na Fig. 12 e 13.


Fig. 13 - Controle radiográfico pós- op.

Algumas sessões de eletro-cirurgias foram realizadas na língua, obetivando minimizar o aspecto de " língua verrucosa", sendo o resultado final observado na Fig. 14.


Fig. 14 - Aspecto final da língua no pós-op.

Referências Bibliográficas


1-BARCHFIELD, Escobar. Familial facial asymetry.Oral Surgery, v.50, n.4, p.321-324, Out.1980.

2-DANFORT et al. Segmental odontomaxillary dysplasia. Oral Surgery Oral Medicine Oral Patology, v,70,n.1, p.81-85, jul.1990.

3-DURSO, B.Campos et al . Hemihipertrofia do tipo complexo. Revista da APCD, v.51,n.5,p.489-493, set/out. 1997.

4-KOGON et al. Hemifacial hypertrophy affecting maxillary dentition. Oral Surgery,v.58,n.5,p.549-553, nov.1984.

5-MULLER, James T.; PICKETT, A. ; FREDERICK, F.D.. Facial hemihypertrophy associated with nevus unius lateris Syndrome. Oral Surgery, v.50,n.3, p.226-228, set.1980.

6-PAULO et al. Síndrome de Klippel-Trenaunay relato de um caso clínico. Rev. Inst. Ciênc. Saúde, v.11,n.2,p.77-82, jul/dez.1993.

7-NEVILLE et al. Patologia Oral &Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1998.705p.

8-REGEZI, Joseph A.; SCIUBBA, James J. Patologia Bucal: Correlações clínicopatológicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.390p.

9-SHAFER et al. Tratado de Patologia Bucal. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara S.A., 1987.837 p.

10-SILVEIRA, Anibal M. ; SCARFE, William C.. Three-Dimensional CTS Scan of Hemimandibular Hyperplasia: Case Report. Braz. Dent. J., v.6, n.1,p.65-70, jan.1995.

11-TOMMASI, Antônio F. Diagnóstico em Patologia Bucal. São Paulo: Artes Médicas, 1982. 575p.




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