A Síndrome da Ardência Bucal pode ser definida como uma disordem psicossomática causadora de dôr e desconforto sem que haja presença de uma lesão . O obetivo deste estudo é realizar uma revisão de literatura com uma particular referencia a sua prevalência, fatores locais, sistêmicos e psicogênicos e formas de tratamento.
1
– INTRODUÇÃO 
 
A
Síndrome da Ardência Bucal ou
do Queimor Bucal pode ser definida como sendo uma entidade clínica
caracterizada pela dor e sensação de ardor que se localiza numa determinada
região ou se estende por toda mucosa bucal sem que se possa detectar qualquer
alteração ou lesão fora dos padrões da normalidade.
(1,5,10,12,14,17,21,27,32,37,40). 
 
Autores
como LAMEY; LAMB (22), STORB; PLISKIN (35) e TROMBELLI et all (37),
acreditavam tratar-se de uma condição multifatorial e vários são os
fatores citados como causadores dessa patologia. 
 
Por
se tratar de uma entidade de difícil diagnóstico é de suma importância que
o profissional, ao ter contato com o portador, realize, durante o exame clínico , uma
anamnese bastante cuidadosa e detalhada de modo que possa obter o maior
número de informações possíveis para só então instituir o diagnóstico e
estabelecer a conduta terapêutica adequada. 
 
Considerando
a necessidade de tornar o Cirurgião Dentista capaz de reconhecer seus
sintomas, estabelecendo não só seus fatores causais, mas também aqueles que
possam vir a exacerbá-la e até interferir no seu tratamento, justifica-se a
realização deste trabalho de revisão de literatura. 
 
2
– REVISÃO DA LITERATURA 
2.1-Etiologia 
 
São
vários os termos encontrados na literatura para definir a Síndrome da Ardência
Bucal, dentre os quais destacamos Estomatodenia, Estomatopirose, Parestesia
Psicogênica Oral, Glossodínia, Glossopirose ou Glossalgia, sendo que os três
últimos termos são mais utilizados nos casos onde a sensação dolorosa se
restringe somente a língua (11). 
 
Buscando-se
um melhor entendimento da sua origem, os fatores causais foram divididos em
locais, sistêmicos e psicogênicos (5,39). 
 
Dentre
os fatores locais, vários são os casos onde os pacientes relatam que a sensação
de ardor surgiu após a realização de algum tipo de tratamento odontológico
(15,18,19). Isto nos leva a supor a existência de uma possível alergia a
materiais dentários, tais como resina
acrílica, eugenol e mercúrio, ressaltando-se, entretanto, que esse tipo de
alergia é rara. 
 
As
infecções bacterianas, fúngicas e virais também são apontadas como
locais. Dentre estas, destacam-se principalmente as infecções fúngicas
causadas por Cândida
albicans, maior responsável pela sensação de ardor no palato duro dos
portadores de próteses (8,11,13,20,31,38). Neste caso, deve ser estabelecido
o diagnóstico diferencial com estomatite protética. 
 
A
disfunção das glândulas salivares pode levar a um quadro de xerostomia,
ressecando a mucosa bucal causando dôr e desconforto (21,24,27). 
 
Disfunções
do sistema mastigatório levam ao surgimento de hábitos para funcionais, tais
como o bruxismo que pode desencadear a sensação de ardor na mucosa bucal
(40). 
 
Além
destes fatores locais, o fumo, o álcool, o refluxo esofágico e próteses
velhas e mal adaptadas também atuam como agentes irritantes sobre a mucosa
bucal, ressecando-a e causando sensação de desconforto. 
 
Como
fatores sistêmicos, podemos citar a anemia perniciosa (33,41), as deficiências
de vitaminas do complexo B- principalmente B1 B2 e
B6 (13)- deficiência de ferro 25), diabete (2) e o climatério
(16,29). 
 
Quando
não obtemos sucesso ou remissão dos sintomas após tratadas as causas locais
e sistêmicos, aponta-se para uma origem de natureza psicogênica (9) e, como
em toda patologia com esta natureza, o lado emocional e a personalidade do
paciente devem ser cuidadosamente avaliados. 
 
Os
portadores desta síndrome se caracterizam por serem indivíduos anciosos,
desconfiados, deprimidos, preocupados, socialmente isolados e com suas funções
corporais e emocionais abaladas (4). Tem tendência a se cansarem com
facilidade , sofrem de tensão muscular , tem a voz monótona e são
facilmente acometidos por palpitações e indigestão (3). Geralmente são
pessoas hipocondríacas, cancerofóbicas e que estão vivendo ou já
vivenciaram experiências estressantes (5,26,37,40). Podem ainda apresentar vários
graus de desordem mental e tendências neuróticas (2,3,26,42). Diante de
todos esses aspectos é importante evidenciármos que os fatores psicogênicos
tem considerável importância no diagnóstico das algias orofaciais (6). 
2.2
Prevalência. 
 
Em virtude de ainda não haver um estudo epidemiológico a respeito de
sua incidência sobre a população, a prevalência de casos desta síndrome
ainda continua incerta. Entretanto, não é uma doença incomum, acometendo 5%
da população, sendo mais comum no sexo feminino, na faixa etária dos 45 a
60 anos no período da pós menopausa (36,40) e que já tenham passado por vários
dentistas e psicólogos com tratamento inapropriado ou que não tenham obtido
sucesso (43). É rara em crianças e adolescentes, incomum em adultos jovens
e, quando afeta os homens, estes estão em uma faixa etária superior a das
mulheres (30) 
2.3
Sintomatologia. 
 
O
principal sintoma é a dor e sensação de ardor que, quando envolve várias
estruturas, acomete principalmente a língua (7) em suas bordas laterais (37),
lábios, mucosa e, em menor grau, o palato e a gengiva (23), sendo, na maior
parte dos casos, bilateral e não anatômica (22,27,32).  
 
A
sintomatologia começa no início do dia e agrava-se com o decorrer deste,
principalmente se o paciente tem uma jornada diária intensa e estressante.
Desaparece a noite e não perturba o sono podendo atenuar ou desaparecer
durante as refeições ou atividades que prendam a atenção, como ao ler ou
ver televisão, por exemplo (43). Pode se agravar com a fala ou movimentação
contínua da língua, fato que ocorre visto que o portador, imaginando haver
uma lesão que cause o ardor , usa a ponta da língua para tentar localizar a
sede da dor. A saliva tem seu ph alterado para ácido sendo espumosa e de
gosto metálico (17). 
 
De
acordo com a intensidade da dor, esta síndrome pode ser classificada como
leve, moderada ou intensa (21) 
 
2.4.
Exame Clínico. 
 
Durante
o exame clínico observam-se as estruturas bucais verificando se estão dentro
dos padrões da normalidade e tenta-se localizar a origem da dor. Além da
anamnese detalhada, procura-se traçar um perfil psicológico do paciente
fazendo uma análise da sua personalidade. 
 
Como
recursos diagnósticos complementares, os exames micológico, com cultura para
Cândida albicans, hematológico, níveis
de ferro sérico, níveis de vitamina B
(30,41), dosagem hormonal (40), níveis de secreção salivar (4,5) e os
testes sorológicos para anticorpos da Síndrome de Sjögren são amplamente
utilizados (30). Visto não haver uma lesão clínica associada a esta síndrome,
a biópsia não é indicada. Entretanto, caso seja realizada, o tecido se
apresentará histologicamente normal. 
 
2.5.
Tratamento. 
 
É
sempre aconselhável, antes de fechar o diagnóstico, ouvir a opinião de um
segundo profissional e conversar com familiares do paciente em busca de mais
informações (32). 
 
Um
dos principais passos para se iniciar o tratamento é explicar o que é a síndrome
e quais as suas implicações dando total apoio ao paciente , que deverá não
só admitir a sua presença mas aprender a conviver com ela, estando ciente
que nem sempre a solução virá a curto prazo(30).
Como
os pacientes podem ser considerados cancerofóbicos, provar a ausência de
malignidade para os mesmos contribui sensivelmente para a melhora do seu
quadro emocional. 
 
Se
forem eliminados todos os fatores locais e sistêmicos, a hipótese de uma
origem psicogênica deve ser considerada. A necessidade de acompanhamento
psicológico nestes casos, é indicada (3,34,37,40) mas nem sempre o paciente
reage bem a esta indicação .O uso de medicação antidepressiva também pode
ser prescrito (17).  
 
O
controle do consumo de fumo e álcool deve ser promovido bem como o
balanceamento da dieta alimentar, evitando-se o consumo de alimentos
condimentados e bebidas com teor ácido que atuam como irritantes da mucosa
bucal. 
 
Nos
casos de deficiência nutricional, a terapia de reposição é recomendada
(30). A vitamina B é bastante citada na literatura (3,13,17,22,40) como um
recurso utilizado na melhoria dos sintomas obtendo-se excelentes resultados. 
 
Quando o paciente é portados de prótese, deve-se verificar as condições
da mesma e sua adaptação com a mucosa. Deve-se promover seu reembasamento ou
troca, eliminando assim, o fator irritante (28,30,40) 
 
Nos
casos onde a cultura fúngica for positiva para Cândida
albicans, aplicações tópicas de Nistatina ou Clotrimazol produzem
resultados clínicos satisfatórios (3,10,41). 
 
O
uso de esteróides e xilocaína tópica apenas aliviam momentaneamente a sensação
de ardor (11). 
 
Distúrbios
hormonais são difíceis de serem tratados (30). No caso das deficiências
hormonais em pacientes na menopausa, o tratamento sistêmico com hormônios
produz resultados satisfatórios. 
 
3
CONCLUSÃO:
 
 
Após
realizada uma minuciosa revisão de literatura sobre o tema em questão,
podemos concluir que: 
 
A Síndrome
da Ardência Bucal é uma doença de origem multifatorial; 
 
É
freqüente em mulheres na faixa etária de 45 a 60 anos no período da
menopausa; 
 
Fazer
uma avaliação da personalidade do paciente é de fundamental importância
para o diagnóstico visto que a maioria dos casos tem uma origem psicogênica; 
 
É importante para o paciente admitir a presença da síndrome
e aceitar o acompanhamento psicológico caso lhe seja indicado. 
 
4
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