Tensão superficial de algumas soluções irrigantes de canais radiculares
SURFACE
TENSION OF ROOT CANAL IRRIGATING SOLUTION
Luiz
Fernando Lopes GUIMARÃES
Carlos
Roberto Colombo ROBAZZA
Carlos
Alberto Ferreira MURGEL
Jesus
Djalma PÉCORA
Wanderley
Ferreira COSTA
RESUMO:
Estudou-se
a tensão superficial de várias soluções auxiliares
de instrumentação de canais radiculares por meio do método
da ascensão capilar.
O
Lauril sulfato de sódio a 0.1 por cento apresentou a mais baixa
tensão superficial das soluções estudadas. A associação
de tensoativos ao EDTA reduz sensivelmente sua tensão superficial.
O
liquido de Dakin apresenta uma tensão superficial de 31.34 din/cm,
que o posiciona como uma boa solução de contato.
UNITERMOS
Tensão superficial, soluções auxiliares; Endodontia.
INTRODUÇÃO
A
tensão superficial é uma das propriedades físico-químicas
de maior importância em relação as soluções
comumente utilizadas na terapêutica endodôntica.
As
soluções auxiliares de instrumentação de canais
radiculares para terem uma maior eficiência em sua atuação
devem entrar em intimo contato com as paredes dos canais e restos orgânicos
ali contidos e isto dependerá dessa propriedade físico-química.
Quanto menor a tensão superfcial do líquido usado, maior
será este contato.
A
tensão superficial é a força existente entre as moléculas
da superfície o que faz com que uma gota de líquido quando
colocada sobre uma superfície esparrame-se ou concentre-se. Isto
irá depender dos valores de suas forças: coesivas (Fc,
força de atracão resultante das forças que as moléculas
do líquido exercem entre si) e adesivas (Fa, resultante das
forças que as moléculas da superfície, em contato,
exercem sobre as do líquido). Uma gota de água colocada sobre
um vidro limpo se estende sobre ele porque a atracão da água
pelo vidro (Fa)
é maior do que a atracão das moléculas de água
entre si (Fc).
No equilíbrio, a superfície da água é perpendicular
à força total que se exerce sobre ela. Isto parece ilustrado
na figura la que mostra a força adesiva sobre uma molécula
situada no ponto P.
A
superfície é perpendicular a força total S=Fc+Fa
exercida sobre a molécula.
Como
a força da coesão do mercúrio é bem maior do
que a força de adesão do vidro, uma gota de mercúrio
colocada sobre um vidro adquire a forma arredondada como é mostrado
na figura lb.
Com
base neste fato, a água, que tem uma das mais altas tensões
superficiais dos líquidos usuais, pode ter esta tensão diminuida
pela presença de agentes tensoativos.
Quando
adiciona-se os tensoativos, as suas moléculas se posicionam entre
as moléculas da água diminuindo ainda mais as forças
coesivas e consequentemente a sua tensão superficial. Então,
a força total S será maior em direção as forças
adesivas, isto é, em direção as moléculas
do corpo em contato e assim as moléculas da água tendem a
se agregarem mais ao corpo e conseqüentemente contribuem para que
a água se subdivida facilmente e espraia, umedecendo o corpo que
toca.
NAUMOVICH2
[1963) estudou várias soluções utilizadas em Odontologia
e observou a tensão superficial das mesmas, relacionando-as com
o pH.
O
objetivo do presente trabalho consiste em analisar à tensão
superficial de várias soluções utilizadas como irrigantes
de canais radiculares
Figura
1-Forças adesivas e coesivas sobre umu molécula localizada
na borda de uma gota (a) água e 1h) mercúrio] colocada sobre
uma superficie de vidro
MATERIAL
E MÉTODO
A
Tabela 1 mostra as soluções
irrigantes estudadas, a concentração, pH e características
físico-químicas.
Como
controle foram utilizadas a água destilada, álcool etílico
960GL e clorofórmio.
As
soluções listadas na tabela 1foram preparadas nas concentrações
citadas, no laboratório de Endodontia da FORP-USP.
As
medidas da tensão superficial foram realizadas a 25 graus centígrados,
através do método da ascensão capilar (BUENO &
DEGRÉVE 1980)1. Foram utilizados dois tubos capilares de vidro com
diâmetros internos diferentes (0,58 e 0,56 mm). Os valores da tensão
superficial foram calculados a partir da média entre os valores
encontrados para cada um dos capilares.
O
pH das soluções foram obtidos em um pH meter marca Digimed
de procedência nacional.
RESULTADOS
Os
resultados da tensão superficial das soluções estão
expressos na Tabela II.
Gráfico
1 — TENSÃO SUPERFICIAL DAS SOLUÇÕES ESTUDADAS.
IBUENO & DEGRËVE, 1980
DISCUSSÃO
Pela
Tabela II observa-se que todas as soluções
estudadas apresentaram tensão superficial com valores inferiores
a da água destilada.
PAIVA
& ANTONIAZZI 6 (1985) e PECORA et alii (1987) observaram a dificuldade
que a água apresenta em promover a umectação de um
corpo sólido em relação às outras soluções
de uso endodôntico. Isto é perfeitamente explicável
pela sua tensão superficial.
A
tensão superficial é considerada um dos mais importantes
fatores que determinam a penetrabilidade de uma solução irrigante
em canais radiculares, quanto menor a tensão superficial maior será
a capacidade da solução em penetrar nas irregularidades da
parede do canal, promovendo assim intimo contato entre o líquido
e o sólido, LEONARDO et alii3 (1982) e PAIVA & ANTONIAZZI
6(1985).
Os
tensoativos aniônicos-lauril sulfato de sódio (25.28 din/cm)
e o lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio (33.41 din/cm)
apresentam baixa tensão superficial, com vantagens para lauril sulfato
de sódio e isto pode explicar o fato de que PÉCORA et alii
7(1987) constataram que este produto, na mesma concentração
usada neste trabalho. promove mais rápida umectação
que qualquer outro tensoativo.
A
adição de um tensoativo reduz significantemente a tensão
superficial de um líquido e isto pode ser observado quando da adição
de um tensoativo à solução de EDTA, de acordo com
OSTBY4 (1957). A solução aquosa de EDTA apresenta
uma tensão superficial de 69.25 din/ cm e a adição
de cetavlon, formando o EDTAC, reduz a tensão para 33.92 din/cm
e o preparo do EDTA com Tergentol, de acordo com PAIVA & ANTONIAZZI
~‘ (1985), para formar o EDTAT, reduz a tensão para 31 .09 din/cm.
A
adição de tensoativo reduz a tensão superficial do
EDTA em 50 por cento. As soluções de EDTA com tensoativos
terão, então, maior capacidade de umectação.
Os
tensoativos anfóteros - Miranol (25.97 din/cm) e o Dehyton AB30
(29,44 din/cm) - apresentaram tensão superficial mais baixa que
os tensoativos catiônicos.
O
líquido de dakin analisado apresentou uma tensão superficial
de 31,34 din/cm, o que posiciona-o como uma das soluções
de mais baixa tensão superficial utilizada para a irrigação
de canais radiculares.
NAUNOVICK
(1963) relacionou o efeito do pH na tensão superficial e ajustava
todas as soluções para pH neutro.
Neste
trabalho o pH não foi ajustado e não relacionou-se o pH com
a tensão superficial. As tiveram seus pH medido, logo após
preparadas.
O
álcool etílico (23,06 din/cm) e o clorofórmio ( 28,24
din/cm ) foram colocados no experimento como soluções controles,
juntamente com a água destilada. esses valores de tensão
superficial foram semelhantes aos obtidos por NAUMOVICK (19630, PUCCI (1945)
e tabelados em Handbook por WEAST (1978)
CONCLUSÕES
Com
base nos resultados obtidos pode-se concluir:
1
- A água destilada apresentou a maior tensão superficial
(72.72 din/cm), em relação às demais soluções
irrigantes estudadas.
2
O lauril sulfato de sódio a 0.1 por cento apresentou a menor tensão
superficial 25.28 din/cm, em relação aos demais tensoativos
aniônicos, catiônicos e anfóteros.
3
- A associação de EDTA com cetavlon (EDTAC 33.92 din/cm)
apresentaram tensão superficial bem mais baixa que a solução
de EDTA- 69.25 din/cm.
4
- O líquido de Dakin apresenta tensão superficial muito baixa
e coloca-o em posição entre os tensoativos anfóteros
e catiônicos.
5
- Todas as soluções aquosas irrigantes de canais radiculares
devem apresentar em sua composição um tensoativo para maior
eficiência e uma rápida atuação
REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1.
BUENO, W.A. & DEGRËVE, L. Manual de Laboratório de Fisica-Quimica.
São Paulo, MGraw-Hill do Brasil, 1980. p. 177.
2.
NAUMOVICH, 0.8. Surface tension an pH of drugs in root canal therapy. Oral
Surg.. 16(8): 965-8, Aug. 1963.
3.
LEONARDO, M.R.; LEAL, J.M.; SIMÕES F.0, A.P. Endodontia:
tratamento de canais radiculares. São Paulo, Panamericana, 1982.
416 p.
4.
OSTBY, N.B. Chelation in root canal therapy. Ethylenediamine tetra-acetic
acid for cleasing and
widening
of root canal. Odont. T., 65(2): 3-11, Feb. 1957.
5.
PUCCI, F.M. Condutos radiculares. Montevidéo, Barreio y Ramos,
1945, v. 2. p. 350-1.
6.
PAIVA, J.G. & ANTONIAZZI. 1H. Endodontia: bases para prática
clinica. 2. ed. São Paulo, Artes Médicas, 1985. p. 421.
7.
PÉCORA, J.D. et alii. Capacidade de umectação dos
tensoativos (aniônicos, catiônicos e anfóteros). Teste
in vitro. Rev. bras. Odont. 45(1): 22-5, jan./ fev. 1988.
8.
WEAST, R .C. Handbook o! chemistry and physics Cleveland. CRC Press,
1978. p 46
COPYRIGHT
1999 Update
15/sept, 1999
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e Pós-Graduação da Universidade de São Paulo
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