Doença periodontal em implantes ósseo-integrados
Carlos Marcelo da S. Figueredo ( cmfigueredo@hotmail.com ) - PhD em Periodontia e Química Clínica pelo Karolinska Institute - Suécia;
- Professor Adjunto da UERJ e UNIGRANRIO;
- Coordenador da Especialização em Periodontia da PUC-RJ
Neste estudo analisaremos os aspectos clínicos, histológicos e microbiológicos envolvidos no sucesso e insucesso dos implantes ósseointegrados, com o objetivo de mostrar ao clínico e ao periodontista sua importância no controle e prevenção de doenças peri-implantares.
Durante o workshop de periodontia realizado na Suíça, em 1993 foi proposta uma terminologia para as reações peri-implantares. O termo doença peri-implantar passou a ser utilizado para denominar as reações inflamatórias nos tecidos peri-implantares. Mucosite peri-implantar passou a ser o termo utilizado para reações inflamatórias reversíveis em tecido mole e Peri-implantite para reações inflamatórias com perda de osso de suporte.
INTRODUCÃO:
Neste
estudo analisaremos os aspectos clínicos, histológicos e microbiológicos
envolvidos no sucesso e insucesso dos implantes ósseointegrados, com o objetivo
de mostrar ao clínico e ao periodontista sua importância no controle e prevenção
de doenças peri-implantares.
Durante
o workshop de periodontia realizado na Suíça, em 1993 foi proposta uma
terminologia para as reações peri-implantares. O termo doença peri-implantar passou a ser utilizado para denominar as reações
inflamatórias nos tecidos peri-implantares. Mucosite peri-implantar passou a ser o termo utilizado para reações
inflamatórias reversíveis em tecido mole e Peri-implantite
para reações inflamatórias com perda de osso de suporte.
EXAME
CLÍNICO
O
exame clínico é importante na manutenção da saúde peri-implantar, na detecção
de sinais precoces da doença e no planejamento de intervenções corretivas.
Durante
o exame clínico devemos ficar atentos a alguns sintomas. A presença da dor é
geralmente associada a perda do implante. A presença de uma sensibilidade ao
toque pode regredir com o ajuste da prótese, mas a situação ideal seria a ausência
de dor sob forças verticais e horizontais.
Com
relação a mobilidade, a situação ideal seria a sua ausência. Mobilidade
horizontal maior que 1mm e/ou vertical poderia ser associada a uma falha na
osseointegração. Casos de mobilidade horizontal por trauma de até 0,5mm
podem retornar a fixação rígida.
Os
sinais clínicos utilizados para o exame periodontal também apresentam grande
valor para o exame peri-implantar. A supuração, por exemplo, é altamente
sugestiva de lesão avançada (Mombelli & Lang, 1994). O índice de
sangramento a sondagem também deve ser utilizado assim como a profundidade de
bolsa. Lang et al. (1994), num estudo sobre a penetração da sonda periodontal
em cães, observaram que em tecidos inflamados a sonda penetrava até a crista
óssea. Já em tecidos sadios, parava a nível de inserção conjuntiva.
Clinicamente a profundidade de bolsa encontrada em implantes saudáveis é de 3
mm (Adell,1981; Mombelli,1990). Isso
porque, o aumento desta profundidade também influencia a composição da
microflora peri-implantar. Bolsas maiores de 5 mm favorecem o aparecimento de
patógenos relacionados com a peri-implantite.
Resumindo,
aceita-se como bolsas estáveis as que apresentarem profundidade em torno de 3 a
5 mm. Bolsas com mais de 5 mm criam um ambiente favorável ao crescimento de
bactérias Gram - , gengivite e uma possível perda óssea. Deve-se respeitar as
limitações da sondagem e usar sondas de plástico para não arranhar a superfície
do implante.
Radiograficamente
podemos avaliar primeiramente a perda óssea na crista alveolar, que seria um
indicador primário de problemas clínicos. A presença de região radiolúcida,
principalmente um espessamento em torno do implante poderia indicar uma deficiência
de osseointegração e sugerir a formação de tecidos fibrosos. A perda óssea
pode ser causada basicamente por 3 fatores: desarmonia oclusal, superaquecimento
ósseo ou infecção microbiana. A perda óssea tolerável depende da qualidade
óssea e o tamanho do implante. Mas em geral, não deve ultrapassar 1/3 da
altura do implante.
Conclusões
sobre exame clínico:
1) O índice
modificado de placa e o índice de sangramento são recomendados para a
avaliação da higiene oral e estado clínico da mucosa.
2) A
profundidade de bolsa parece ser um bom parâmetro para controle longitudinal.
Mobilidade
é um sinal tardio, provavelmente sem tratamento, da peri-implantite.
3) O
aumento da Profundidade de bolsa pode estar relacionado a perda óssea, inflamação,
hiperplasia ou hipertrofia gengival .
4)
Dor, mobilidade vertical, perda óssea progressiva e radiolúcidez generalizada
são fenômenos relacionados com o insucesso .
Assim
sendo, parece ser apropriado a utilização de parâmetros periodontais para
avaliação dos tecidos peri - implantares
ACHADOS
HISTOLÓGICOS
Além
de conhecermos as reações clínicas, é extremamente importante conhecermos o
comportamento histológico dos tecidos
EPITÉLIO
Após
a colocação do cicatrizador, ocorre a formação de um epitélio semelhante ao
sulcular e ao juncional. A presença de hemidesmossomas no epitélio e na lâmina
basal do implante promove a aderência entre o epitélio juncional a superfície
do implante. A presença de fibras conjuntivas imediatamente abaixo ao epitélio
também é observado.
A
presença nos implantes do aparato gengival de inserção, com componentes
epiteliais similares aos encontrados no periodonto, tem sido bem estabelecido (Mckinney,1985).
A
formação do selamento biológico pelo epitélio previne a entrada de placa,
toxinas e resíduos, porém a violação deste selamento leva a injúria do
tecido conjuntivo. A produção de laminina pelo epitélio (agente de adesão
molecular) é responsável pela aderência firme do epitélio ao implante (Mckinney,1985).
INSERÇÃO
CONJUNTIVA 
Como
os componentes colágenos não aderem a superfície dos implantes, a inserção
da base do sulco se dá pela alta concentração de glicosaminoglicanos (Smithlof,
1987). A distribuição de glicoproteínas colágenas e não colágenas da
mucosa queratinizada envolvendo implantes endósseos é muito similar a gengiva
normal. (Chavrier, 1994) 
OSSO
ALVEOLAR 
 
A
formação do osso alveolar segue basicamente as seguintes fases de cicatrização
e maturação:
Após
a cirurgia e osteotomia ocorre a formação da interface osso-implante por
maturação e remodelação óssea. Após a adaptação da prótese ocorre uma
reabsorção seguida da formação de um tecido fibroso que sofre um ossificação
da matriz fibrocelular. Uma nova maturação da interface ocorre. Nesta fase, a
manutenção é importante e deve ser feita através da higiene oral, controle
de doenças e desarmonias oclusais.
ÓSSEOINTEGRAÇÃO
Osseointegração
é uma palavra polêmica. Branemark (1969)
foi o primeiro a sugerir a ancoragem óssea direta de implantes orais metálicos,
e junto com Albrektsson, sugeriram, em 1977, a primeira definição de
osseointegração.
6
parâmetros necessários para uma ancoragem óssea ideal:
1-
Biocompatibilidade.
2-
Design.
3-
Condições da superfície.
4-
Estado da área receptora.
5- Técnica
cirúrgica.
6-
Condições de manuseio.
A
osseointegração pode ser analisada por diversos parâmetros, o primeiro seria
a avaliação radiográfica. A resolução
máxima da radiografia atinge 0.1mm o que corresponde a 1/10 do tamanho de uma célula
conjuntiva. Assim sendo, radiografia não confirma osseointegração, mas é
importante para avaliar evolução da perda óssea .
Já a
microscopia ótica atinge cortes
menores que 10 mícrons, porém dificilmente menores que 3-5 mícrons, o que
corresponde a 3000 - 5000 nanômetros. O uso de técnicas modernas tem
demonstrado claramente que o contato direto entre implante-osso a nível de M.O.
é possível com diferentes materiais cerâmicos e metálicos (Donath,1991).
MICROSCOPIA
ELETRÔNICA
Osso
mineralizado parece não entrar em contato direto com a superfície do implante
(Sennerby et al. 1992 -1993). Existe regularmente, uma camada de 100 a 500nm de
espessura composta por substância amorfa densa, que parece ter origem na matriz
óssea.
Assim
sendo, podemos concluir que o único modo aceitável de definir osseointegração
é baseado em exames clínicos em implantes estáveis e seria um processo em que
uma fixação clínica e assintomática de materiais aloplásticos é atingida e
mantida durante oclusão funcional.
ASPECTOS
MICROBIOLÓGICOS
Esta
parte apresenta o resumo do trabalho apresentado na 135a
sessão anual da American Dental Association (ADA) realizada em Nova Orleans,
Louisiana, EUA (1994).
Orientador:
Prof. Ricardo Guimarães Fischer.
Para consultá-la acesse o artigo: Aspectos microbiológicos da flora bacteriana
em torno de implantes ósseointegrados.
PATOGENIA
CRONOLOGIA 
A
perda de implantes pode ocorrer precoce ou tardiamente. Podemos considerar como
fatores responsáveis pelo insucesso precoce, que ocorre semanas ou poucos meses
após implantação, a necrose óssea excessiva causada por superaquecimento ósseo
durante a fase cirúrgica, a contaminação bacteriana for falta de cuidados básicos
durante a cirurgia, a falta de cuidados durante a cicatrizarão e a
instabilidade e/ou forças
prematuras.
Com
relação ao insucesso tardio, podemos citar os distúrbios no equilíbrio
biomecânico, a sobrecarga oclusal e alterações no equilíbrio hospedeiro -
parasita que levaria a infecção.
EQUILÍBRIO
BIOMECÂNICO
A
presença de forças oclusais leva o osso alveolar a sofrer uma adaptação
funcional contínua. A fadiga óssea pode ser definida como a formação e
crescimento de micro-rachaduras que se desenvolvem dentro do tecido durante
cargas oclusais.
A
manutenção da ósseointegração pode ser vista como a manutenção do equilíbrio
entre o estresse funcional transmitido a interface implante - osso e a
capacidade do osso de reparar danos estruturais conseqüentes do processo de
fadiga (Tonetti & Schmid,1994).
DESARMONIA
BIOMECÂNICA 
Quando
a demanda biomecânica excede a capacidade funcional, o processo de remodelação,
atingido por microfraturas, resulta numa reabsorção óssea que pode
comprometer as características mecânicas do tecido (Glantz,1993).
A
aplicação contínua dessas forças pode levar a uma micromovimentação do
implante. Em tal situação, a interface osso-implante seria substituída por
tecido mole (Uhthoff, 1981).
A
aplicação de forças de tensão sobre feixes de fibras colágenas onde
osteoblastos estão sendo cultivados aumenta a produção de prostaglandinas E
por estas células. A prostaglandina E
é responsável pelo aumento da reabsorção óssea e produção de Citocinas
fibrogênicas. A produção de citocinas, Prostaglandina E, e outras modulações
biológicas podem induzir uma resposta tecidual caracterizada por fibroplasia e
perda de tecido ósseo especializado (Yeh
& Rodan,1984).
CONCLUSÃO 
 
A
incerteza sobre o papel dos fatores biomecânicos no insucesso tardio de
implantes não encoraja os clínicos a negligenciarem os princípios oclusais
das reconstruções dente e/ou implante suportadas.
INFECÇÃO
EQUILÍBRIO
HOSPEDEIRO-PARASITA
Na situação de saúde as características funcionais do epitélio juncional são
mantidas, como migração de neutrófilos, presença de ICAM-1 (receptor de
superfície para aderência e motilidade de leucócitos), Citoqueratina 19 e 13
e desmoplaquinas I e II
(Shmid,
1992).
Com
relação ao tecido conjuntivo supra - alveolar observa-se a presença de fibras
extrínsecas paralelas e\ou perpendiculares
ao longo eixo do implante com um sistema vascular diferenciado pela menor
quantidade de vasos.
Com
relação aos mecanismos de defesa, Oshrain et al. (1990) estudou a atividade de
enzimas lisossomiais e citoplasmáticas no sulco gengival e peri-implantar e
observou volumes maiores nos níveis de Beta- glucuronidase e dehidrogenase
lactato em sulcos peri-implantares. Resultados opostos foram encontrados em
condições patológicas
O
estudo concluiu que a beta-glucuronidase é considerada um indicador de
degranulação de granulócitos. Seu aumento pode estar relacionado com o
aumento da migração de leucócitos e com o aumento da degranulação para
matar bactérias aderentes a superfície do implante.
Com
relação ao infiltrado inflamatório em áreas saudáveis, Adell (1986) e
Lekholm (1986) observaram a presença de um pequeno infiltrado inflamatório
abaixo do epitélio juncional, com predominância de céls T sobre B além de
indicadores de T-Helper e T-supressor. Características bem semelhantes ao
dente.
CONCLUSÃO:
O
infiltrado encontrado em torno de implantes saudáveis é considerado como uma
resposta imune bem controlada e não é significantemente diferente da gengiva
sadia. Porém, apesar das similaridade, dependendo da superfície do implante, a
maturação e aderência da placa pode ser diferente e fatores como fagocitose e
adesão microbiana podem ser negativamente influenciados por bactéria,
polissacarídeos capsulares e outros componentes extra celulares.
DESEQUILÍBRIO
HOSPEDEIRO - PARASITA
O
desequilíbrio entre a defesa do organismo e a infecção causada pela placa
bacteriana pode levar a 2 quadros clínicos : (1) Mucosite e (2) Peri-implantite.
Com
relação a mucosite, Ericsson et al. (1992) observou mudanças inflamatórias
na gengiva peri-implantar de cães Beagles após um período de 3 meses de acúmulo
de placa e observou que clinicamente a gengiva peri-implantar se apresentava
edemaciada, vermelha e com sangramento a sondagem. O experimento indicou que a
mucosite pode ser estabelecida através de acúmulo de placa.
A
peri-implantite vem sendo estudada a um longo tempo. Ericsson (1975)
utilizou ligaduras para estimular a doença e induziu a destruição
tanto do tecido peri-implantar marginal quanto do tecido periodontal, através
de perda de inserção clínica e perda óssea marginal. Porém Lindhe (1992) e
Brandes (1988) acreditam que os sinais de destruição tissular parecem ser mais
pronunciados em implantes do que em dente. Lindhe (1992) realizou um análise
patológica em lesões peri-implantares e observou que além da presença de
placa sub-gengival e ulceração do epitélio juncional, a extensão apical do
infiltrado inflamatório parecia ser maior nas áreas com peri-implantite quando
comparados a áreas com periodontite.
Com
relação a essa extensão apical do infiltrado, a orientação morfológica
alterada das fibras supra-alveolares pode explicar parcialmente o aumento de
tamanho do infiltrado peri-implantar quando comparado ao infiltrado periodontal.
Infelizmente,
muito pouco é sabido sobre a história natural da peri-implantite. A
dificuldade de formar grupos homogêneos com sinais clínicos bem definidos tem
dificultado o entendimento da fisiopatologia da doença e algumas perguntas
precisam ser respondidas, tais como: (1) Será que a bactéria invade o tecido
peri-implantar?
(2)
Existe alguma diferença na composição do polissacarídeo que adere ao dente e
o que adere ao implante? (3) Existe uma lesão peri-implantar estável? (4) Como
esta lesão progride? (5)Existem sinais de desequilíbrio imunológico local nas
lesões peri-implantares? (6) Qual é a relação entre destruição de tecido
mole e destruição óssea?
As
evidências discutidas indicam que a destruição marginal peri-implantar pode
ser causada por infecção e a perda da ósseointegração por sobrecarga
oclusal. A terapêutica deve se preocupar com o restabelecimento do equilíbrio
biomecânico e parasitário e a medição de sinais inflamatórios e destruição
tecidual deve representar a primeira aproximação para detectar infecção.
Muita
atenção deve ser dada para o estabelecimento de parâmetros claros de diagnóstico
baseados em classificações etiológicas primárias do processo de doença (Tonetti
& Schmid, 1994).
Esquematicamente,
podemos resumir a lesão peri-implantar em:
(1)Ulceração
do epitélio sulcular. (2) Infiltrado de leucócitos. (3) Hiperemia vascular.
(4) Perda de fibras colágenas. (5) Migração apical do E.J. (6) Atividade
osteoclástica. (7)Peri-implantite.
CONCLUSÃO
A
doenca peri-implantar parece ser uma realidade ignorada por muitos. A capacidade
de colonizacão bacteriana na superfície dos implantes já foi muito bem
mapeada e as fases da patogenia muito bem descritas. Atualmente, não se discute
mais se existe ou não peri-implantite. A questão é saber o quanto esta doenca
se assemelha a periodontite. Estudos básicos sobre a patogenia e microbiologia
peri-implantar tem sido feitos com a intencão de tracar um paralelo entre as
duas entidades, mas parece haver uma tendência a maior a destruição
tecidual em torno dos implantes, o que desencoraja completamente a teoria de
remover um dente parcialmente comprometido por doenca periodontal e substituí-lo
por um implante. Mas isso é discussão para um outro artigo.
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Trabalho apresentado na 136a reunião anual da American Dental Association (ADA), realizada em Las Vegas, Nevada, EUA. Orientado pelo prof. Ricardo Guimarães Fischer, PhD em Periodontia (Suécia) Prof adjunto UERJ.
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