Odontossecção intermediária em retenção atípica de caninos inferiores
Dalva Maria Pereira Padilha - Professora Adjunta da Disciplina de Exodontia II da FO/UFRGS.
- Especialista em Educação
- Mestre em Traumatologia Bucomaxilofacial
- Doutora em Estomatologia.Francesca Bercini - Professora Assistente da Disciplina de Exodontia II da FO-UFRGS
- Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial Taís Weber Furlanetto de Azambuja - Professora Assistente da Disciplina de Anestesiologia e Exodontia da FO de UFRGS
- Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial
- Mestre em Educação.
As autoras relatam caso de remoção cirúrgica de dois caninos inferiores retidos horizontalmente na região anterior do mento. Foi utilizada a técnica de odontossecção intermediária para remoção destas peças dentárias com o objetivo de minimizar a ostectomia. A odontossecção intermediária permitiu a remoção das porções centrais, coronárias e apicais dos dentes através de uma abertura óssea pouco extensa.
INTRODUÇÃO
Dente incluso é para Graziani¹ um
órgão dentário que, mesmo completamente desenvolvido, não fez sua erupção na
época normal. Classifica de inclusão intra-óssea quando o dente estiver no interior
do osso; inclusão submucosa quando recoberto por fibromucosa e semi-incluso,
quando o dente venceu a camada fibromucosa, porém não terminou sua erupção. 
 
REVISÃO
DE LITERATURA
A terminologia empregada
para as retenções dentárias é variada provocando controvérsias. Archer²
denomina esta anomalia como dente impactado e Ries Centeno¹4
como dente retido, o que
nos parece mais apropriado.
Na prática odontológica a retenção dentária é freqüentemente
encontrada. Os dentes que mais comumente sofrem retenção nos adultos e
adolescentes são os terceiros molares. Nas crianças, porém são caninos
superiores.
Para Dachi e Howell³ os dentes mais freqüentemente retidos são os
terceiros molares inferiores, caninos superiores seguidos dos terceiros molares
inferiores, caninos superiores e pré-molares inferiores. Num estudo de 1685
radiografias constataram que, em 281 destas ( 16,87% ) havia a presença de no mínimo
um dente retido. Encontraram retidos 213 terceiros molares superiores, 209
terceiros molares inferiores e 28 caninos superiores. Opinião semelhante a
respeito da freqüência de retenção tem Petersen¹¹.
Kramer e Williams6
concordam com esta ordem, porém eles apontam o segundo molar em quarto lugar de
freqüência de retenção, seguido dos pré-molares. Estes autores analisando a
incidência de dentes retidos em 3745 radiografias, encontraram em 681,59 destas
( 18,2% ) um ou mais dentes retidos. A retenção dentária foi identificada em
45 caninos superiores ( 3,69% ), 3 caninos inferiores ( 0,24% ), 717 terceiros
molares superiores ( 58,87% ) e 429 terceiros molares inferiores ( 35,22% ), num
total de 1218 retenções.
Grover e Lorton5 encontraram
a seguinte seqüência de retenção: terceiros molares superiores, molares
inferiores, caninos superiores, pré-molares inferiores e caninos inferiores. No
estudo de 5000 radiografias observaram 10979 dentes retidos, sendo 5770
terceiros molares superiores ( 52,56% ), 4984 terceiros molares inferiores (
45,40%), 142 caninos superiores ( 1,29% ) e 11 caninos inferiores ( 0,10% ).
Rohrer¹5 na análise de 3000 radiografias, encontrou retidos
62 caninos superiores ( 2,06% ) e 3 caninos superiores ( 0,1% ).
Miranti e Levbarg8 num
levantamento de 2000 radiografias encontraram a ocorrência de canino inferior
retido em 0,5%.
As técnicas cirúrgicas utilizadas para o tratamento das retenções
dentárias são divididas em dois grupos: conservador, que visa a manutenção
da peça dentária e radical, que consiste na remoção cirúrgica do dente
retido.
Segundo a literatura, o tratamento cirúrgico conservador de um dente
retido visa a exposição cirúrgica da sua coroa na expectativa de sua erupção.
Quando há previsão de que a erupção livre não aconteça, a tração ortodôntica
para movimentação do dente será necessária. Laçada de fio metálico na
coroa dentária ( em desuso ), perfuração da coroa com passagem de fio e
colagem de bracket na coroa são alternativas para tracionamento do dente. 1,2,9,13,14
Quando existe a impossibilidade de tratamento conservador a cirurgia
radical é necessária na quase totalidade dos casos. Petersen ¹¹ estabelece
indicações e contra-indicações para a remoção dos dentes impactados. As
indicações compreendem a prevenção da doença periodontal, da cárie dentária,
da pericoronarite, da reabsorção radicular, de cistos e tumores, da dor de
origem desconhecida e da fratura de mandíbula, além de dentes impactados sob
prótese, facilitação do tratamento ortodôntico e otimização da saúde
periodontal. As contra-indicações dizem respeito aos extremos da idade, à
condição médica comprometida e a possibilidade de dano excessivo às
estruturas adjacentes.
Há
concordância entre os autores de que o tratamento cirúrgico para os dentes
retidos exige um detalhado exame clínico e radiográfico além de um plano cirúrgico
correto que compreende basicamente, a incisão, o descolamento do retalho
muco-periósteo, a ostectomia e/ou odontossecção.
Miranti e Levbarg8 apresentaram
caso de remoção cirúrgica de canino inferior retido horizontal. O dente
apresentava-se invertido, ou seja, a coroa apontava para o bordo lingual da mandíbula.
A incisão intra-oral foi aplicada e as técnicas de ostectomia e odontossecção
foram utilizadas.
Milano, Barrett e Marshall7 relataram caso de canino inferior localizado abaixo dos ápices
dos dentes ântero-inferiores, em que foi removido uma porção óssea intermediária,
na porção mentoniana, juntamente com o dente. Foram fixadas duas placas de titânio,
em forma de X, para evitar fratura óssea.
Prabhu
e Munshi 12
propuseram hemissecção
do primeiro molar inferior permanente, com remoção da raiz mesial, para obter
espaço para a erupção do segundo pré-molar inferior retido, em posição
vertical.
Enquanto a hemissecção é a divisão da peça dentária, com remoção
de parte do dente ou de uma das raízes, consideradas inaproveitáveis, a
odontossecção consiste em secionar o dente em partes, com o objetivo de
facilitar a exodontia, removendo as raízes individualmente.
Segundo Graziani 4 um
dos princípios da cirurgia das retenções dentárias é a necessidade de
fazer-se uma abertura óssea suficientemente ampla para permitir a passagem do
maior diâmetro do dente retido. Portanto, diminuindo-se o tamanho do dente
reduzimos automaticamente a extensão da ressecção óssea e, por conseguinte,
o trauma operatório.
Archer 2 recomenda
a técnica de odontossecção no tratamento cirúrgico de dentes retidos,
associando cortes perpendiculares e paralelos ao longo eixo dos dentes em casos
de molares inferiores retidos horizontais.
Ries Centeno 14 indica
a técnica de odontossecção para remoção cirúrgica de caninos e pré-molares
superiores retidos horizontais, com ostectomia para acessar a coroa e a porção
cervical da raiz. O primeiro corte, no colo dentário, tem por objetivo separar
a coroa da raiz, que é o primeiro segmento a ser removido. A raiz é trazida
para o interior da cavidade vazia deixada pela coroa e faz-se o segundo corte
para remover uma porção intermediária do dente, ou seja, o terço médio
radicular. Por último, traciona-se e remove-se a porção radicular apical.
O objetivo deste trabalho é apresentar a técnica cirúrgica de
odontossecção intermediária utilizada na remoção de dentes retidos em posição
atípica.
CASO
CLÍNICO: CANINOS INFERIORES
A paciente C. D., 19 anos, sexo feminino, raça branca, foi encaminhada
para tratamento radical de caninos retidos por indicação ortodôntica.
Ao exame clínico foi verificado a ausência de caninos inferiores ( 43 e
33 ) e ao exame radiográfico ( Fig. 1 ), constatada a retenção intra-óssea
destes, bilateralmente. Os caninos apresentavam-se em posição horizontal, pelo
lado vestibular, com suas coroas aproximando-se na linha média, na região
anterior e com os ápices voltados para distal, na região de forames
mentonianos. Estes dentes estavam localizados entre os ápices radiculares dos
dentes ântero-inferiores e o bordo da mandíbula, na região do mento. De
acordo com Ries Centeno14 estes
caninos são classificados como Classe III ( Dentado, Bilateral ); b (
vestibular ); b1 ( posição horizontal ).
O procedimento cirúrgico constou de anestesia regional dos nervos Dentário
Inferior, Lingual e Bucinador do lado dierito e, do lado esquerdo, anestesia do
nervo Incisivo e anestesias terminais por lingual. A incisão realizada foi a de
Newmann seguida de descolamento do retalho muco-periósteo.
Através de ostectomia sobre a cortical óssea vestibular obtivemos
acesso ao canino do lado direito em suas porções cervical e mediana da raiz. A
porção coronária não foi totalmente exposta pela ostectomia no sentido de
preservar ao máximo o tecido exposta pela ostectomia no sentido de preservar ao
máximo o tecido ósseo. Nesse momento, procedeu-se a odontossecção intermediária,
na metade da raiz, no sentido de remover uma fatia central do dente, ou seja, o
seu terço médio entre o ápice e a coroa. ( Fig. 2 ). Uma vez removida a porção
mediana, procedeu-se a avulsão da porção apical e coronária. Esta mesma técnica
de odontossecção intermediária foi utilizada também para a exodontia do
canino do lado esquerdo. ( Fig. 3 ). Os cuidados com a cavidade operatória,
sutura e pré-operatório foram as de rotinas.
Figura 1 - Radiografia panorâmica pré-operatória
Figura 2 - Aspecto trans -operatório: odontossecção intermediária
Figura
3 - Aspecto do dente seccionado   
 
 
DISCUSSÃO
A odontossecção visa facilitar a remoção de uma peça dentária através
da diminuição das áreas e zonas retentivas do próprio dente através da sua
fragmentação bem como a preservação de tecido ósseo hígido e que, em
algumas circunstâncias protege regiões e estruturas ósseas anatômicas,
esteticamente importantes como neste caso de caninos retidos na região do
mento.
Milano, Barret e Marshall7 descreveram
um caso em que este princípio de preservação estética de tecido ósseo não
foi observado, pois para remoção de um canino na região do mento, um grande
segmento ósseo foi removido.
Por outro lado, Graziani4 aponta
a necessidade de abertura ampla o suficiente do tecido ósseo para permitir a
passagem do maior diâmetro dentário. Esta técnica não observa, entretanto, o
princípio da fragmentação e remoção do tecido dentário em detrimento de
uma abertura mais conservadora da estrutura óssea.
Na técnica preconizada por Ries Centeno14 para
remoção cirúrgica de caninos horizontais a ostectomia engloba a totalidade da
coroa e região cervical do dente a ser também removido configurando também um
desnecessário sacrifício do tecido ósseo em relação ao benefício
resultante do seccionamento dentário.
Portanto, no caso ora descrito, ao ser preconizada a odontossecção
intermediária, o princípio de preservação do tecido ósseo é alcançado
através da manutenção da continuidade óssea importante para a perfeita
recuperação estética e funcional das regiões atingidas.
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