Pesquisa Dentaria.com
  Artigos
  Educação e Formação
  Apoio Bibliográfico Gratuito
  Em@il Profissional
  Classificados
  Médicos Dentistas
  Congressos
  Especialidades
  imagens
  Jornais e Revistas
 
 
  24 de Abril de 2024
  82 Utilizadores online
Utiliza o odontograma do software informático da sua clínica?
  Sim
  Não
   
O Dentaria.com lançou um Fórum aberto a toda a comunidade! Participe nos temas em discussão ou abra novos temas!
 
. Ordem dos Médicos Dentistas

. Tabela de Nomenclatura e Valores Relativos (Tabela de Honorários)

. Decreto de Lei que aprova o regime de licenciamento e de fiscalização das clínicas e dos consultórios dentários, como unidades privadas de saúde

. Simposium Terapêutico Online (MediMedia)



 

Publicidade

O Dentaria.com foi-lhe útil? Contribua com um DONATIVO!



Síndrome da ardência bucal


Kátia Maria Martins Veloso  ( kmmv@bol.com.br )
- Mestre em Estomatologia pela UFPB

Maria Carmen Fontoura Nogueira Cutrim  ( katia@ceuma.br )
- Mestre em Patologia Oral pela UFRN.
- Especialista em Odontopediatria pela FO-Bauru-USP.
- Profa. das Disciplinas de Patologia Bucal e Odontopediatria da UFMA.
- Profa. da Disciplina de Patologia Geral do CEUMA/FICEUMA


A Síndrome da Ardência Bucal pode ser definida como uma disordem psicossomática causadora de dôr e desconforto sem que haja presença de uma lesão . O obetivo deste estudo é realizar uma revisão de literatura com uma particular referencia a sua prevalência, fatores locais, sistêmicos e psicogênicos e formas de tratamento.

1 – INTRODUÇÃO   

A Síndrome da Ardência  Bucal ou do Queimor Bucal pode ser definida como sendo uma entidade clínica caracterizada pela dor e sensação de ardor que se localiza numa determinada região ou se estende por toda mucosa bucal sem que se possa detectar qualquer alteração ou lesão fora dos padrões da normalidade. (1,5,10,12,14,17,21,27,32,37,40).   

            Autores como LAMEY; LAMB (22), STORB; PLISKIN (35) e TROMBELLI et all (37), acreditavam tratar-se de uma condição multifatorial e vários são os fatores citados como causadores dessa patologia.   

            Por se tratar de uma entidade de difícil diagnóstico é de suma importância que o profissional, ao ter contato  com o portador, realize, durante o exame clínico , uma   anamnese bastante cuidadosa e detalhada de modo que possa obter o maior número de informações possíveis para só então instituir o diagnóstico e estabelecer a conduta terapêutica adequada.   

            Considerando a necessidade de tornar o Cirurgião Dentista capaz de reconhecer seus sintomas, estabelecendo não só seus fatores causais, mas também aqueles que possam vir a exacerbá-la e até interferir no seu tratamento, justifica-se a realização deste trabalho de revisão de literatura.   

2REVISÃO DA LITERATURA  

2.1-Etiologia   

            São vários os termos encontrados na literatura para definir a Síndrome da Ardência Bucal, dentre os quais destacamos Estomatodenia, Estomatopirose, Parestesia Psicogênica Oral, Glossodínia, Glossopirose ou Glossalgia, sendo que os três últimos termos são mais utilizados nos casos onde a sensação dolorosa se restringe somente a língua (11).   

            Buscando-se um melhor entendimento da sua origem, os fatores causais foram divididos em locais, sistêmicos e psicogênicos (5,39).   

            Dentre os fatores locais, vários são os casos onde os pacientes relatam que a sensação de ardor surgiu após a realização de algum tipo de tratamento odontológico (15,18,19). Isto nos leva a supor a existência de uma possível alergia a materiais dentários, tais como  resina acrílica, eugenol e mercúrio, ressaltando-se, entretanto, que esse tipo de alergia é rara.   

            As infecções bacterianas, fúngicas e virais também são apontadas como locais. Dentre estas, destacam-se principalmente as infecções fúngicas causadas por  Cândida albicans, maior responsável pela sensação de ardor no palato duro dos portadores de próteses (8,11,13,20,31,38). Neste caso, deve ser estabelecido o diagnóstico diferencial com estomatite protética.   

            A disfunção das glândulas salivares pode levar a um quadro de xerostomia, ressecando a mucosa bucal causando dôr e desconforto (21,24,27).   

            Disfunções do sistema mastigatório levam ao surgimento de hábitos para funcionais, tais como o bruxismo que pode desencadear a sensação de ardor na mucosa bucal (40).   

            Além destes fatores locais, o fumo, o álcool, o refluxo esofágico e próteses velhas e mal adaptadas também atuam como agentes irritantes sobre a mucosa bucal, ressecando-a e causando sensação de desconforto.   

            Como fatores sistêmicos, podemos citar a anemia perniciosa (33,41), as deficiências de vitaminas do complexo B- principalmente B1 B2  e B6 (13)- deficiência de ferro 25), diabete (2) e o climatério (16,29).   

            Quando não obtemos sucesso ou remissão dos sintomas após tratadas as causas locais e sistêmicos, aponta-se para uma origem de natureza psicogênica (9) e, como em toda patologia com esta natureza, o lado emocional e a personalidade do paciente devem ser cuidadosamente avaliados.   

            Os portadores desta síndrome se caracterizam por serem indivíduos anciosos, desconfiados, deprimidos, preocupados, socialmente isolados e com suas funções corporais e emocionais abaladas (4). Tem tendência a se cansarem com facilidade , sofrem de tensão muscular , tem a voz monótona e são facilmente acometidos por palpitações e indigestão (3). Geralmente são pessoas hipocondríacas, cancerofóbicas e que estão vivendo ou já vivenciaram experiências estressantes (5,26,37,40). Podem ainda apresentar vários graus de desordem mental e tendências neuróticas (2,3,26,42). Diante de todos esses aspectos é importante evidenciármos que os fatores psicogênicos tem considerável importância no diagnóstico das algias orofaciais (6). 

2.2  Prevalência.   

                Em virtude de ainda não haver um estudo epidemiológico a respeito de sua incidência sobre a população, a prevalência de casos desta síndrome ainda continua incerta. Entretanto, não é uma doença incomum, acometendo 5% da população, sendo mais comum no sexo feminino, na faixa etária dos 45 a 60 anos no período da pós menopausa (36,40) e que já tenham passado por vários dentistas e psicólogos com tratamento inapropriado ou que não tenham obtido sucesso (43). É rara em crianças e adolescentes, incomum em adultos jovens e, quando afeta os homens, estes estão em uma faixa etária superior a das mulheres (30)  

2.3  Sintomatologia.   

            O principal sintoma é a dor e sensação de ardor que, quando envolve várias estruturas, acomete principalmente a língua (7) em suas bordas laterais (37), lábios, mucosa e, em menor grau, o palato e a gengiva (23), sendo, na maior parte dos casos, bilateral e não anatômica (22,27,32).    

            A sintomatologia começa no início do dia e agrava-se com o decorrer deste, principalmente se o paciente tem uma jornada diária intensa e estressante. Desaparece a noite e não perturba o sono podendo atenuar ou desaparecer durante as refeições ou atividades que prendam a atenção, como ao ler ou ver televisão, por exemplo (43). Pode se agravar com a fala ou movimentação contínua da língua, fato que ocorre visto que o portador, imaginando haver uma lesão que cause o ardor , usa a ponta da língua para tentar localizar a sede da dor. A saliva tem seu ph alterado para ácido sendo espumosa e de gosto metálico (17).   

            De acordo com a intensidade da dor, esta síndrome pode ser classificada como leve, moderada ou intensa (21)   

2.4. Exame Clínico.   

            Durante o exame clínico observam-se as estruturas bucais verificando se estão dentro dos padrões da normalidade e tenta-se localizar a origem da dor. Além da anamnese detalhada, procura-se traçar um perfil psicológico do paciente fazendo uma análise da sua personalidade.   

            Como recursos diagnósticos complementares, os exames micológico, com cultura para Cândida albicans, hematológico, níveis de ferro sérico, níveis de vitamina  B (30,41), dosagem hormonal (40), níveis de secreção salivar (4,5) e os testes sorológicos para  anticorpos da Síndrome de Sjögren são amplamente utilizados (30). Visto não haver uma lesão clínica associada a esta síndrome, a biópsia não é indicada. Entretanto, caso seja realizada, o tecido se apresentará histologicamente normal.   

2.5. Tratamento.   

            É sempre aconselhável, antes de fechar o diagnóstico, ouvir a opinião de um segundo profissional e conversar com familiares do paciente em busca de mais informações (32).   

             Um dos principais passos para se iniciar o tratamento é explicar o que é a síndrome e quais as suas implicações dando total apoio ao paciente , que deverá não só admitir a sua presença mas aprender a conviver com ela, estando ciente que nem sempre a solução virá a curto prazo(30).

            Como os pacientes podem ser considerados cancerofóbicos, provar a ausência de malignidade para os mesmos contribui sensivelmente para a melhora do seu quadro emocional.   

            Se forem eliminados todos os fatores locais e sistêmicos, a hipótese de uma origem psicogênica deve ser considerada. A necessidade de acompanhamento psicológico nestes casos, é indicada (3,34,37,40) mas nem sempre o paciente reage bem a esta indicação .O uso de medicação antidepressiva também pode ser prescrito (17).    

            O controle do consumo de fumo e álcool deve ser promovido bem como o balanceamento da dieta alimentar, evitando-se o consumo de alimentos condimentados e bebidas com teor ácido que atuam como irritantes da mucosa bucal.   

            Nos casos de deficiência nutricional, a terapia de reposição é recomendada (30). A vitamina B é bastante citada na literatura (3,13,17,22,40) como um recurso utilizado na melhoria dos sintomas obtendo-se excelentes resultados.   

               Quando o paciente é portados de prótese, deve-se verificar as condições da mesma e sua adaptação com a mucosa. Deve-se promover seu reembasamento ou troca, eliminando assim, o fator irritante (28,30,40)   

            Nos casos onde a cultura fúngica for positiva para Cândida albicans, aplicações tópicas de Nistatina ou Clotrimazol produzem resultados clínicos satisfatórios (3,10,41).   

            O uso de esteróides e xilocaína tópica apenas aliviam momentaneamente a sensação de ardor (11).   

Distúrbios hormonais são difíceis de serem tratados (30). No caso das deficiências hormonais em pacientes na menopausa, o tratamento sistêmico com hormônios produz resultados satisfatórios.   

3        CONCLUSÃO:            

Após realizada uma minuciosa revisão de literatura sobre o tema em questão, podemos concluir que:   

            A Síndrome da Ardência Bucal é uma doença de origem multifatorial;   

            É freqüente em mulheres na faixa etária de 45 a 60 anos no período da menopausa;   

            Fazer uma avaliação da personalidade do paciente é de fundamental importância para o diagnóstico visto que a maioria dos casos tem uma origem psicogênica;   

            É importante para o paciente admitir a presença da síndrome  e aceitar o acompanhamento psicológico caso lhe seja indicado.   

4         REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS   

1.      BASKER, R. M; STURDE D. W; DAVENPORT, J. C Patients wth BMS. Br Dent. J. 145:9-16, 1983  

2.      BASKER, R; STURDEE D; DAVENPOR S. Patients with BMS: a clinical investigation of causative factores including the clima leac. Br Dent J. 145:9-16, 1978   

3.      BERGDAHL, J; ANNEROTH G. BMS: literature review and model for research and management. J Oral Pathol Med. 22:433-38, 1993   

4.      BERGDAHL, J; ANNEROTH, G; PERRIS, H; Cognotive therapy in the treatment of patients with resistant BMS: a controlled study  J. Oral Pathol .Med. 24.213-5, 1995   

5.      BERGDAHL, J; ANNEROTH, G; PERRIS, H. Personality characteristics of patients with BMS resistant. Acta Odontol Scand 53:7-11, 1995   

6.      DWORKIN, SF; BURGESS J. A. Orofacial pain of psychogenic origen: current concepts and classification. JADA. 115:565-71, 1987.   

7.      FOX. M. Burning tongue: glossodinia. N. Y. State Med. J. 35:881-8, 1935.  

8.      GORSKY. M; SILVERMAN J. R; CHINN, H. BMS. A review of 98 cases.J. Oral Med. 42:7-9, 1987.   

9.      GORSKY. M; SILVERMAN. S; CHINN, H. Clinical characteristics and management aitcome in BMS: a study of 130 patients. Oral Surg. 72 (2) 192-5, 1991.   

10.  GRISPAN. D. Enfermedades de la boca.Vol 3. Mundi, 1976, 1708p.   

11.  GRISPAN. D; BLANCO. G; ALLEVATO, M; STENGEL, F. BMS. Inter. J. Dermatol. 34 (7) 483-87, 1995.   

12.  GRUSHKA. M. BMS: a review and update Oral Surg. 60 (4):56-61, 1983.  

13.  HUGOSON. A; THORSTENSSON. B; Vitamin B status and response to replacement therapy in patients with BMS. Acta. Odontol. Scand .49:367-75, 1991.   

14.  HUMPHRIS, G. M. et all. Cognitive – behavioural therapy for idiopathic burning mouth syndrome: a report of two cases. Brit. Dent .J. 181 (6):204-208, 1996.

15.  JAMES J; FERGUSON N. M; FORSYTH, A. mercury allergy as cause of BMS. Brit Dent. J. 159:329, 1985.   

16.  JERLANG. B. Burning mouth syndrome (BMS) and the concept of alexithymia – a preliminary study. J. Oral .Pathol Med. 26:249-53, 1997.   

17.  JONATHAN, A. S. et all. Syndrome: na update. JADA. Vol 126, 843-53, 1995.   

18.  KAABER. S. alergy to dental material with special reference to the use of amalgam and polymethylmethacrylate. Int .Dent..J 40:359-65, 1990.   

19.  KAABER. S; THULIN. H; NIELSEN E. Skin sensitivity to denture base materials in the BMS. Cont.Dermat. 5:90-6, 1979.   

20.  KATZ. J; BENOLIER R; LEVINER E. BM sensation associated with fuso espero chetal infecton in edentulos patient. Oral Surg. 62:152-54, 1986.   

21.  LAMB. A. B; LAMEY P. J; REEVE P. BMS: psychological aspects. Brit..Dent .J. 165:256-60, 1988.   

22.  LAMEY. P. J; LAMB. A. B. Lip component of BMS Oral Surg. 78 (5): 290-93, 1994   

23.  LAMEY P. J; LAMB. A.B. Prospective study of aetiological factores in BMS .Brit. Med .J 293:1243-46, 1994.   

24.  LAMEY P. J; LAMB A. B; the usefulnem of the HAD sctole in assessing and depression in patients with BMS. Oral Surg 63:390-92, 1989   

25.  LAMEY, P. J; LEWIS M; Oral medicine in practice: BMS .Brit. Dent .J. 167:197-200, 1989   

26.  LOWENTAL .V; PISANTI .S. The syndrome of oral complaints: etrology and therarpy. Oral Surg. 46:2-6, 1978.   

27.  MAIN, DMG; BASKER, R. M. Patients complaining of the BMS Brit. Dent. J. 154:206-11, 1983   

28.  NICOLO M; AMATO M; BOLLETTI M. BMS Minerva Stomatol. 38:999-1002, 1989   

29.  PISANTI S; RAFAELY B; POLISHUK W. Z. The effect of steroid hormonies on buccal mucosa of menopausa women. Oral Surg. 40:346-53, 1975.   

30.  REGEZI, J; SCIUBBA J.  Patologia clínica: correlações clínico patológicas. Guanabara Koogan. Cap. 4:86-104, 1991.   

31.  SAMARANAYAKE, L. P; LAMB A. B; LAMEY P. J; Mac FARLANG, The coliforms in patients with BMS. Oral Surg. 18:233-35, 1989   

32.  SAVAGE, N; BMS: patient management. Australian Dental Journal 41 (6) 363-6, 1996.   

33.  SCHMITT R; SHERIDAN P; ROGERS. R.  Pernicious anemia with associated glossodynia. JADA. 117:838-40, 1987   

34.  SCHOENBERG, B. psychogenic aspects of BMS. N. Y. State. Dent. J. 33:467-73, 1967   

35.  STORB, L; PLISKIN, M. BMS .General Dentisty 31:32, 1991   

36.  TOURNE, L. P; FRICTON, J. R. 35 Burning mouth syndrome critical review and proposed clinical management. Oral Surg. 74 (2):158-67, 1992   

37.  TROMBELLI. L; ZANGARI .F; CALURA. G. 36 aspette psicologici nei pazienti affeti da  BMS: Minerva Stomatol. 43:215-21, 1994   

38.  TROMBELLI. L; ZANGARI .F; CALURA.G. 37 BMS: studio clinico Minerva Stomatol.  43:49-51, 1990   

39.  VAN DER WAAL I. The BMS Copenhagen: Munksgand:22-72, 1990.    

40.  VAN HOUDENHOVE, B; JOOSTENS, P. BMS: successful treatment with combined psychotherapy and psychopharmacotherapy. Gen. Hosp.Psych. 17: 385:388, 1995   

41.  ZIGARELLI D. J. 40 BMS na analysis of 57 patients.  Oral Surg 58 (1) 34:38, 1984   

42.  ZILLI,C; et all. Screening 41 for psychiatric ilness in patients with oral dysaesthesia  by means of the General Health Questionnaire – twenty- eight item version ( GHQ. 28) and the irritability depression and anxiety scale  (IDA). Oral Surg. 67:384-9, 1989   

43.  ZISKIN D. E; MOUTON R.  Glossodynia a study of orolingual pain. JADA 33 (21):1423-32, 1946




Dentaria.com © 1999 - 2002, Todos os direitos reservados.
Toda a informação apresentada é propriedade do Dentaria.com não podendo ser total ou
parcialmente reproduzida sem a devida autorização. Contacte a equipa Dentaria.com