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Anestesia local em odontologia - Aspectos Psicológicos


ANESTESIA LOCAL EM ODONTOLOGIA
Aspectos Psicológicos

Clóvis MARZOLA *
Nilva TEDESCHI **
João Lopes TOLEDO FILHO ***

* Professor Titular de Cirurgia da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP. Membro Titular Praticante do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia BMF e Ex. Presidente. Especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial. Professor "HONORIS CAUSA" da UNIGRANRIO. Membro "Life Fellow" da Academia "Pierre Fauchard". "Life Fellow" da International Association of Oral and Maxillofacial Surgeons. Fellow do International College of Dentistry. Membro do Gruppo Italiano di Studi Implantari de Bologna - Itália. Membro Honorário do International Research Committee of Oral Implantology. Membro Honorário da Academia Mineira de Odontologia. Coordenador do Curso de Especialização em CTBMF da FUNBEO da FOB-USP.

** Psicóloga Clinica. Licenciada em Psicologia. Bacharel em Psicologia. Especialista em Psicoterapia Centrada na criança e em seu meio, pelo Sedes Sapientiae de São Paulo. Membro do Centro de Desenvolvimento da Pessoa do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.

*** Professor Associado de Anatomia da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP. Especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial. Chefe do Serviço de Cirurgia Buco Maxilo Facial do Hospital de Base da Associação Hospitalar de Bauru. Membro Titular Praticante do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia BMF. Membro da Academia "Pierre Fauchard". Coordenador do Curso de Especialização em CTBMF da A.P.C.D. de Bauru.

ANESTESIA LOCAL EM ODONTOLOGIA
Aspectos Psicológicos

LOCAL ANESTHESIA IN DENTISTRY
Psychological Aspects

RESUMO

Os autores tecem considerações sobre o cuidado que todo paciente requer, não só através do simples conhecimento e da habilidade técnica, mas também do imprescindível interesse para com o paciente como "ser humano". Procura-se conscientizar os profissionais a respeito da natureza do homem como um "todo"; os tipos mais comuns de ansiedade e medo encontrados no paciente; os diferentes tipos de personalidade e sua importância na prática odontológica, além de sugestões psicológicas para o tratamento de pacientes portadores de alterações dentais.

UNITERMOS: Anestesia, Anestesia local, Aspectos psicológicos, Psicologia.

KEYWORDS: Anesthesia, Local anesthesia, Psychological aspects, Psychology.


INTRODUÇÃO

O cuidado de todo paciente requer muito mais que o simples conhecimento e habilidade técnica, sendo também imprescindíveis o interesse para com o paciente como "ser humano" através da compreensão de seus sentimentos e emoções. O bom profissional é aquele que instintivamente entende e respeita o paciente, aplicando na prática, no decurso das manobras cirúrgicas seus conhecimentos sobre o ser humano, atendendo às necessidades psicológicas e físicas do mesmo. A capacidade inata e natural para compartir os sentimentos dos outros e reagir de modo intuitivo é qualidade valiosa para o clínico e, que dependerá unicamente dele próprio. Durante anos tem-se acumulado todo um acervo de conhecimentos sobre o ser humano e sua personalidade. Assim, o clínico deve adquirir estes conhecimentos que lhe serão tão úteis e importantes quanto o estudo da anatomia, fisiologia ou da própria cirurgia.

O interesse fundamental deste trabalho é exatamente este princípio, sendo basicamente nossa proposição, ou seja, mostrar as experiências que tivemos, além de outros estudos correlatos (02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13), que por si só já justificariam sua apresentação. Aqui serão estudados os quatro seguintes aspectos: 1) A natureza do homem como um "todo"; 2) Os tipos mais comuns de ansiedade e medo encontrados no paciente; 3) Os diferentes tipos de personalidade e sua importância na prática odontológica e, 4) Sugestões psicológicas para o tratamento de pacientes portadores de alterações dentais.

1. NATUREZA DO HOMEM COMO UM "TODO".

O conceito de que o homem é um "todo", expressa que ele é realmente um organismo indivisível, indecomponível, uma obra prima da natureza. O homem não é um conjunto de partes sem relacões entre si, ou que funcionam de maneira independente - cada porção é uma parte primordial e integral de um "todo", e cada uma destas partes contribui e influi sobre o conjunto. Assim, tanto os efeitos da enfermidade como aqueles do tratamento, não ficam nunca limitados à parte interessada, senão que afetam o paciente em sua totalidade. As mudanças numa parte não apenas afetam o organismo totalmente, mas também exercem uma influência recíproca e dinâmica sobre todas suas partes constituintes. As partes não são entidades distantes que se englobam ou funcionam isoladamente, fora da influência do controle do "todo". Os processos dinâmicos que acontecem no organismo afetam todas as suas partes. O "todo" aqui empregado refere-se ao núcleo central do homem, ou seja a sua personalidade, sendo nela que o homem encontra sua integração final e sua plenitude. Na personalidade se prende a vida e se encontra a diretriz da atividade humana. É a personalidade que experimenta o conhecimento, o sentido e a finalidade. A desintegração da mesma destrói o ser humano, apesar de que a vida possa persistir (01).

O ponto de vista no qual se destaca a totalidade do homem realça sobremaneira a importância básica da personalidade, sobretudo onde existe esta totalidade. Ao dizer-se que a enfermidade afeta ao homem, refere-se à personalidade, sendo esta personalidade que determina a resposta à enfermidade ou ao tratamento, resposta baseada no sentido e no significado. Portanto, o profissional sempre deve tomar em consideração a personalidade de seu paciente, seu papel na enfermidade, sua resposta ao tratamento e a influência do tratamento sobre ela, além das reações naturais quanto às manobras cirúrgicas (08) . Assim, numa anestesia, numa exodontia, ou outro tipo de intervenção, deve-se também relacionar este significado, pois a cirurgia ou outros tratamentos, que serão realizados neste paciente, poderão lhe representar uma alteração do seu "todo".

2. TIPOS MAIS COMUNS DE ANSIEDADE E MEDO ENCONTRADOS NO PACIENTE:

A ansiedade e o medo são reações emocionais elaboradas pela personalidade e baseadas no sentido e no significado. Uma situação poderá suscitar ansiedade ou medo, pois significa perigo ou ameaça para uma pessoa, ainda que realmente possa não existir tal perigo. O importante não é precisamente a situação em si, mas sim como é percebida pelo homem e, seu significado. Sem dúvida, na vida há certas situações básicas que tendem a provocar ansiedade na maioria das pessoas, sendo uma destas situações a visita ao médico ou ao Cirurgião-Dentista (CD), tendo em vista a possibilidade de uma eventual cirurgia (02, 03, 04, 05, 08, 11, 13) .

2.1 ANSIEDADE E MEDO:

Geralmente o medo é uma resposta emocional realista, caracterizada pelo conhecimento intelectual, sendo a resposta a uma situação que constitui um perigo ou uma ameaça concreta e real. Por exemplo, um soldado que encontra-se em meio de um campo de batalha, ou um alpinista ao lado vertical de uma montanha para escalá-la, ou ainda, alguém que esteja frente a um C.D. com este empunhando uma seringa ou um fórceps, pode sentir medo.

Por outro lado, a ansiedade é uma resposta a situações que são perigosas apenas simbolicamente, sendo desprovida do conhecimento intelectual. A ansiedade é uma apreensão indefinida que serve normalmente para colocar o organismo, prevenido contra possíveis perigos que não estão, entretanto, totalmente definidos. As raízes da ansiedade encontram-se na infância, quando a criança é débil e vulnerável, quando parece que tudo é potencialmente ameaçador. Não obstante, com a idade e experiência aprende-se que nem tudo é perigoso. O indivíduo desenvolve progressivamente um sentimento de segurança e confiança, sentindo-se capaz de enfrentar a vida. A ansiedade permanece latente na memória inconsciente do homem. Assim pois, as novas situações que recordem certos perigos do passado, fazem surgir com facilidade ansiedades esquecidas que revestir-se-ão de perigos inexistentes à nova situação. Problemas que normalmente se nos deparam com crianças, que são muito intimidadas contra médicos e C.D., futuramente ao se depararem com esta situação, o problema poderá surgir novamente, sendo necessário aqui, toda a cautela do profissional.

A ansiedade ainda que irracional e imprópria, é um acontecimento da vida, sendo parte em grau variável, de todas as vidas. Portanto, o clínico deve sempre ter em conta esta dimensão ao tratar o problema de seu paciente, devendo também ser capaz de conhecer sua ansiedade, compreendê-la, e respeitá-la, estando preparado para tratá-la de maneira construtiva.

2.2 ANSIEDADE E DOR:

A dor tem uma finalidade - advertir o organismo do perigo, para que ele possa empreender uma ação de proteção e de defesa. Assim, a ansiedade correlaciona-se com o substitutivo psicológico da dor, e por meio da experiência e de processos de associação, protege o organismo, antecipando-se à dor. Neste caso, o organismo poderá atuar antes de ocorrer qualquer dano.

A ansiedade antecipa e exagera qualquer experiência dolorosa real, chegando a diminuir o umbral da dor e a aumentar a tolerância aos medicamentos. Portanto, é preciso saber reconhecer e tratar estes aspectos da ansiedade antecipando-se à dor e, prevenindo o aparecimento de outras emoções como a angústia. A angústia é um estado emocional que pode ou não ocorrer após o contato com o profissional, ou mesmo depois de uma intervenção profissional. Depende do desfecho final da relação "profissional x paciente" e do resultado do tratamento esperado pelo indivíduo.

2.3 ANSIEDADE E MUTILAÇÃO CORPORAL:

Uma das causas básicas de ansiedade na criança e no adulto, é sua preocupação sobre mutilações exercidas sobre seu corpo. Na criança, a falta de experiência e de perspectiva transformam a simples extração de um dente decíduo, um corte sem importância ou uma gota de sangue, numa verdadeira catástrofe. No adulto, normalmente isso não ocorre, pois vê seu corpo mais objetivamente e com certo controle emocional, levando-o a confiar nele, em sua fortaleza e em sua capacidade de recuperação.

Contudo, pessoas imaturas, que continuam tendo grandes preocupações sobre a integridade de seu corpo, apenas a idéia de uma exodontia ou uma anestesia, ou de um corte, pode despertar imagens vividas de lesões corporais, antecipar dores e resultados negativos que o levariam a um estado angustioso grave, criando assim um problema a ser considerado na realização de uma cirurgia, ou de um tratamento dentário.

2.4 ANSIEDADE E PERDA DE UMA PARTE DO CORPO:

Estreitamente ligada à preocupação sobre a mutilação e lesão corporais, encontra-se a inquietação pela integridade e perfeição da imagem do corpo. A preocupação da criança pelo seu corpo e sua integridade, revela-se quando descobre a "angústia da castração" e a "perda do pênis". Ao ser utilizado estes termos, identifica-se a precupação da criança sobre a perda de uma parte importante de seu corpo, que o distingue como homem. Da mesma maneira, identifica-se o qüestionamento por parte de "algumas" meninas por não possuirem esta parte anatômica, que parece lhes indicar a falta de algo, e que portanto, não está completa (01) .

Não sabe-se quão válidos ou freqüentes possam ser realmente estes sentimentos e temores no espírito de uma criança, mas é fora de dúvida que certas crianças ficam inquietas quanto a seu corpo, seu aspecto, sua beleza, sua força e sua integridade. A constante fixação pessoal, a preocupação pelo corpo, o desejo de perfeição, beleza e integridade corporais podem ser traços de narcisismo, que normalmente são manifestações no homem mais maduro. Este aspecto da vida pode ser manifestado no orgulho ferido do homem que vai tornando-se calvo ou que perde sua virilidade ou sua capacidade atlética, etc... A perda de um ou vários dentes, motivada pela extração ou a necessidade de uma prótese, ou ainda um acidente, etc..., pode ter profunda repercussão emocional, vindo a significar ao paciente, que ele está envelhecendo, ou que não está tão completo quanto antes. Por este motivo a exodontia ou a confecção de próteses, que são problemas técnicos relativamente simples, podem trazer problemas psicológicos, de resoluções bastante difíceis. Para certos pacientes, estas alterações são absolutamente inaceitáveis e, seu rechaçamento será a origem de reações adversas e de complicações, muitas vezes, necessitando de um acompanhamento psicológico.

2.5 ANSIEDADE E PERSONIFICAÇÃO DA AUTORIDADE:

O sentido de ansiedade mais precoce e mais arraigado ao homem pode estar associado com a imagem dos pais que educam e que castigam. A criança, relativamente pequena e desamparada, teme ao pai, relativamente grande e poderoso. A criança sente que seu destino e sua vida estão nas mãos desta figura poderosa e à mercê dos caprichos desta autoridade. Geralmente os anos não apagam esta primeira percepção dos pais e a angústia associada à ela. Esta reação de tipo arcaico e precoce poderá ressurgir quando homem, já adulto encontrar-se na presença de algum dignitário como por exemplo um juiz, ou quando na presença de um policial, ou ainda de um profissional que pode ser idenfificado com a figura paterna ou materna. Estas situações ou outras semelhantes podem produzir estado de ansiedade e um mal-estar agudo, que a realidade do acontecimento não justificaria de nenhuma maneira, levando-o à angústia.

O médico e o C.D. também são símbolos de autoridade e podem representar, na memória inconsciente do paciente, uma figura familiar do passado, que poderia trazer-lhe prejuízos ou ferir-lhe. É quase inevitável que uma pessoa que passa pelo consultório médico ou do C.D., não experimente certa ansiedade e angústia, provocada unicamente por esta associação inconsciente. Simbolicamente, é entrar na sala para defrontar-se com o pai poderoso (na figura do C.D.). A experiência pode reavivar no paciente as imagens inconscientes quando era criança e frágil e o pai era poderoso e que no caso, no momento, o C.D. pode ser identificado com este, e significar alguém que possa vir a provocar sérios danos. A comparação inconsciente de cirurgias ou de tratamentos dentais ou médicos com o castigo, é um traço muito freqüente nesses pacientes.

Assim é muito importante que o C.D. ou o médico lembrem-se que quando estáo em seus consultórios, vestidos de branco e, com algum instrumental nas mãos (seringa, fórceps, etc...), poderá estar despertando no paciente certa ansiedade, baseado unicamente em seu significado simbólico como figura de autoridade que surge do passado de seu paciente e, conseqüentemente também poderá estar desencadeando certa angústia, caso o profissional não identifique tal emoção e não tinha controle sobre ela.

2.6 ANSIEDADE E SENTIDO DE DESAMPARO:

O fato incontrovertido da pequenez e debilidade da criança num mundo de adultos poderosos, pode ser causa de ansiedade na infância. Esta emoção pode ser dominada mediante mecanismos de defesa, através da obtenção da independência, do domínio e do controle, que continuam sendo defesas psicológicas importantes, contra a angústia que o sentimento de desamparo pode trazer.

As situações que tendem a privar uma pessoa desta defesa, podem criar um estado de ansiedade. Ao submeter-se a um tratamento dentário ou médico, o indivíduo abandona algo de sua independência e domínio. Esta situação é particularmente sensível, pois o paciente se encontra quase que totalmente imobilizado na cadeira do C.D., sem poder falar ou mover-se, para ser submetido a uma intervenção cirúrgica, como uma anestesia, exodontia, etc... Neste procedimento, o indivíduo percebe o C.D. trabalhando com todos os instrumentos, sem nada poder fazer. Esta dependência nas mãos do profissional, e a falta de domínio da situação, pode prejudicar o auto-controle, levando-o a uma posição de desconforto total. A percepção antecipada deste momento de impotência, poderá levá-lo à uma ansiedade precoce, induzindo-o até a desistir da intervenção. É importante que no contato com o paciente, seja estabelecida uma relação de respeito + confiança, ou seja, o profissional não deverá questionar as verbalizações ou atitudes de seu paciente, mas sim demonstrar respeito pelas mesmas, e conseqüentemente o paciente sentirá confiança em seu profissinal. Esta atitude profissional terá para o paciente, o significado de amparo, de acolhimento.

3. DIFERENTES TIPOS DE PERSONALIDADE E SUA IMPORTÂNCIA NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA:

Conhecer a uma pessoa significa conhecer sua personalidade, da mesma maneira que entender essa pessoa, significa entender sua personalidade. A personalidade é a caracterização ou o padrão estruturado da conduta, e o padrão particular da conduta que exibe um paciente. Assim, pode-se sugerir a que tipo de personalidade determinados pacientes possam pertencer, respeitando-se sua individualidade, ou seja, como o são realmente (01) . Ainda, a "personalidade é a organização dinâmica, no indivíduo, dos sistemas psicofísicos, que determinam seu comportamento e seu pensamento característicos" (01) . Classificar a personalidade de um cliente, envolve os conhecimentos técnicos do profissional psicólogo. No entretanto, o C.D. pode e deve identificar algumas características de seu comportamento para compreender melhor sua personalidade e atendê-lo melhor.

Por isso, é necessário que seu interesse pelo paciente não seja limitado unicamente ao campo profissional, ou seja, no caso do C.D. à cavidade bucal e aos dentes. Os profissionais devem procurar conhecer o paciente em sua totalidade, observando suas ações e maneiras, o que fala e como fala, seu modo de vestir-se, sua cultura e seu aspecto pessoal, enfim todo seu "ser", conhecendo, em parte, sua personalidade e entendendo-a.

Assim, para o C.D., existem diferentes tipos de personalidade, que deve conhecer para compreender melhor a conduta e as reações dos indivíduos que pertencem a um dos tipos básicos de personalidade, que podem ser relacionados da seguinte maneira: personalidade bucal, compulsiva, histérica e paranóide-esquizóide (04, 05, 07, 08, 10, 11, 12, 13) .

3.1 PERSONALIDADE BUCAL:

O paciente com este tipo de personalidade atribui um valor emocional exagerado à boca e às suas funções. Para ele, a boca e sua atividade continuam sendo uma importante fonte de prazer, além de um meio para aliviar seu estado de tensão. Portanto, para este tipo de personalidade, as funções de comer e beber, mastigar e morder são objeto de grandes inquietações.

Geralmente, são pessoas obesas, impacientes, que toleram mal qualquer frustração e, apesar de parecerem simpáticas e amigáveis, seu senso de humor poderá alterar-se rapidamente, tornando-se ruins, sarcásticas, exigentes e intransigentes. Este tipo de paciente tolera mal qualquer perda, como por exemplo, a de um dente, caindo facilmente em estado de depressão. O paciente com personalidade bucal está inclinado a experimentar tensões bucais exageradas, que o levarão a apresentar queixas injustificadas, ou a pedir cuidados que realmente não são necessários.

3.2 PERSONALIDADE COMPULSIVA:

As características dominantes deste tipo de personalidade são o perfeccionismo e a inflexibilidade, além da rigidez de caráter. O indivíduo classificado neste grupo é formal, pontual, meticuloso e preocupado ao máximo em detalhes; seu perfeccionismo e inflexibilidade fazem com que seja reacionário à qualquer tipo de alteração em seu comportamento.

As repetidas exigências destes enfermos para fazer modificações na mordida, na prótese ou ainda durante uma cirurgia, chegam em determinadas situações a desorientar o profissional, e ainda que procure fixar, ajustar ou equilibrar a oclusão, ou a abreviar determinadas cirurgias pelos constantes apelos do paciente, ele ainda continua descontente, considerando que "algo" em sua boca está, todavia, fora de linha. Se o C.D. não reconhecer a tempo com que tipo de personalidade está tratando, seu trabalho será interminável, corrigindo sempre problemas dentais aparentes, quando em realidade trata-se de um problema de personalidade. Este tipo de paciente poderá necessitar inclusive de tratamento psicológico.

3.3 PERSONALIDADE HISTÉRICA:

O paciente com personalidade histérica pode ser emocionalmente instável, inclinado ao histerismo e a dramatizar todas as situações, sendo muito sugestionável, além de possuir grande imaginação. A sedução, a coqueteria e a vaidade são traços habituais em seu comportamento. Sua preocupação com a aparência está unida a um excesso de adornos em vestir-se. As fobias e um estado de angústia consciente, são também características destes indivíduos. Os pacientes com personalidade histérica podem ser hipnotizados com facilidade, respondendo perfeitamente a uma atitude firme, vigorosa e segura do profissional.

3.4 PERSONALIDADE PARANÓIDE-ESQUIZÓIDE:

As principais características deste tipo de personalidade são: comportamento receoso e desconfiado, além de ser emotivamente frio. É muito difícil ganhar sua confiança ou estabelecer relações amistosas com eles. Também são freqüentes as manifestações de ira sem causa, de crítica ou de reprovação. O tratamento deste tipo de pessoa deverá ser levado a efeito com muito prudência e cuidado, pois são freqüentes as situações intranqüilas destes pacientes nos consultórios odontológicos.

Tivemos oportunidade de realizar trabalho analisando todos estes tipos de personalidade na idade adulta, chegando à conclusão de que o tipo bucal é o mais freqüente, não devendo, contudo, serem rotulados os pacientes por estes fatores (07, 12) . No período de 1980 a 1982 foi realizada pesquisa sobre esse assunto na Rede Estadual de Ensino - SP, em 67 escolas da Capital, num total de 41.745 crianças e adolescentes, de 7 a 14 anos de idade (20.874 do sexo masculino e 20.871 do sexo feminino), sendo que o requisito básico será aquele da escola possuir um CD (13) .

4. SUGESTÕES PSICOLÓGICAS PARA TRATAMENTO DE PACIENTES PORTADORES DE ALTERAÇÕES DENTAIS:

O tratamento de um paciente emocionalmente perturbado poderá constituir-se num dos maiores problemas na prática odontológica. Não cabe nenhuma dúvida que em certos casos, o emprego prudente e criterioso da premedicação, pelo profissional credenciado, poderá ser muito valioso, contudo em alguns casos, deve-se reafirmar o valor e a utilidade da psicoterapia, associada à medicação, que facilitará consideravelmente o tratamento, tanto para o profissional C.D. quanto para o paciente.

4.1 Quanto ao ambiente:

Este é um aspecto, normalmente, pouco valorizado pelo profissional, mas de muita importância. É o primeiro contato do cliente, que poderá ser sinônimo de tranqüilidade e segurança. Para que isto ocorra, faz-se necessário cuidados com o tipo de mobiliário, para que não torne o ambiente pesado nem desconfortável. As cores das paredes, preferentemente, deverão ser claras, a música calma e em tom suave. Os elementos de distração ou leitura, deverão ter alguma coisa com o seu tipo de cliente, sendo que dessa maneira ele sentir-se-á envolvido e valorizado.

É importante que nestes momentos que antecedem o encontro do "cliente x profissional", além de acolhido pelo ambiente, ele sinta-se amavelmente bem recebido por quem o recepcionará. Esta pessoa deverá ser treinada à ouvir e respeitar os sentimentos, emoções, perguntas ou até mesmo qüestionamentos do paciente, sem transferir ou interferir, o que quer que seja.

Isto tudo é muito importante, pois muito do que o paciente tenderá a transferir para o seu relacionamento com o profissional poderá estar ligado, de certa forma, aos antecedentes negativos ou positivos, quanto à forma que foi recepcionado.

4. 2 Quanto ao profissional:

A postura que o C.D. deve adotar é essencialmente de amparo, sendo que o primeiro passo consiste em evitar a ansiedade e, estar atento a qualquer de suas manifestações. Um dos aspectos básicos da terapêutica de amparo, é a atitude do C.D. Com efeito, podem ser evitadas um grande número de aberrações da percepção quando o C.D. demonstra calor humano, amizade, tranqüilidade, compreensão e respeito no trato com seu paciente. O C.D. poderá ser bastante útil se tiver estas atitudes, pois as levarão a conquistar a confiança de seu paciente. Para isso, deverá aproximar-se dele com consideração e, principalmente com muita segurança. As explicações dadas ao paciente sobre aquilo que será realizado e os resultados a serem obtidos são de grande ajuda, pois diminuirão o nível de ansiedade.

A abordagem profissional consiste basicamente no respeito à sua personalidade e individualidade, compreensão de seus sentimentos e emoções e empatia para com o paciente, considerando-o como um "todo". Esta postura, unida à habilidade e à técnica, assegura ao paciente um cuidado excelente da boca, uma apreciação positiva de si mesmo, confiança no profissional, tudo expressado através das atitudes profissionais.

Ao profissional, evidencia-se a realização como técnico, e a sensação ímpar, de ter dado ou devolvido a alguém, a alegria de estar ou se sentir feliz. Ao paciente, evidencia-se a sensação de ter sido compreendido e aceito nas suas inseguranças e manifestações. Isto o levará à satisfação esperada e ao respeito merecido como "ser humano".

SUMMARY

Authors report considerations about patients care, not only the simple knowledge and technical skills, but also the highest interest towards the patient as a human being beyond a comprehension his feelings and emotional needs. Awaring the profissionals about human nature as a whole, the most common anxiety kinds and their importance on psychiatric treatment of patients who have dental alterabilities.

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13. TEDESCHI, N. -
Classificação de tipos personais encontrados entre escolares de primeiro grau em relação ao tratamento odontológico. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Assistência ao Escolar. São Paulo, 53 pgs. 1983.

Endereço dos autores:

Faculdade de Odontologia de Bauru da USP.
Av. Octávio Pinheiro Brizolla 9-75.
17.043.101 - Bauru - São Paulo.




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